sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Curiosidades sobre a Teia Digital

1) Os posts enfileirados na ordem certa dão 156 páginas no Word (com papel A4, fonte Times New Roman 12 e 2cm de margem).

2) E-mails trocados pelo grupo até 10 de Dezembro de 2007: 582 (fora os e-mails que não foram enviados diretamente para o grupo, para manter o suspense inclusive entre os autores).

3) Por pouco não passamos dos 2000 comentários. Até o dia 28 de Dezembro, foram 1938 comentários, muitos deles, praticamente um chat entre os autores e leitores.

4) Foram 4 meses de posts diários, sendo o conto mais curto da máfia (e um dos mais intrincados), somando ao todo 74 postagens.

5) Todos os posts foram publicados diretamente, só eram revisados às vezes por um ou outro autor cujo personagem estava envolvido. O rumo que a história de cada personagem era sempre uma surpresa, não só para os leitores, mas também para os autores.

6) A FIAE foi criada pelo Leandro e a princípio, acho que ninguém gostou muito da idéia, mas a organização foi tomando vida própria e acabou tendo um final bem interessante.

7) Foi feito um "brainstorming" por e-mail para decidir o tema da história, mas a única coisa com a qual todos concordaram logo a prícípio foi com o baile a fantasia, inclusive cogitou-se em colocar o fantasma de Luiz XIV (ou era XVI?), mas acho que todos esqueceram disso depois.

8) O nome "Teia Digital" foi escolhido entre outros nomes, que incluiam "Sei-lá-o-que Digital" e um outro que eu não me lembro agora, mas que começava com "Teia". Como foram os dois nomes mais votados, juntamos tudo e fizemos a "Teia Digital".

9) A Teia foi a primeira participação da Alê na máfia.

10) Personagens da Mansão Schultz foram reaproveitados no final da história e inclusive alguns deram o ar de sua graça nos comentários espalhados por aí. Indiretamente, há referência a personagens do Reino de Lothian também.

11) A piruí não apareceu com seus produtos mirabolantes dessa vez. Sentimos falta! Vai ver o blog terminou antes por falta de patrocinador... rs...

12) Até dia 28/Dezembro, somavam-se 2078 visitas à página, sendo que cada usuário visitava ao menos 2 vezes por dia. (isso são estatísticas, pois são 3709 page views).

13) Tivemos visitantes de diversos lugares do Brasil e do mundo (segundo nosso contador de acessos): São Paulo; Santa Catarina; Distrito Federal; Parana; Mato Grosso do Sul; California, Estados Unidos; Alagoas; Amazonas; Leiria, Portugal; Porto, Portugal; México - México; Minas Gerais; Rio de Janeiro; Porto Alegre - Rio Grande do Sul; Bahia; Setubal, Portugal; Texas - Estados Unidos;

14) Se digitar "Cruzeiro Maluco" no google, a primeira página a aparecer é a Teia Digital.



15) Como foi bem lembrado por nossa fiel leitora, Pérola: "foi o conto onde tiveram mais pessoas mortas e ressucitadas que já escreveram."

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Milagre da Vida

- Despejo todo o veneno na taça azul é isso??
- Não, Téca... preste atenção no que está fazendo, é na taça vermelha.
- Ah tá, como quiser. Taça vermelha, então.

Tudo seguia o combinado. Escondido no banheiro, Vila Nova havia escutado perfeitamente. Sabia que tinha que agir depressa. Assim, pegou a dose do veneno que estava com ele e a despejou na taça azul, enchendo-a com a mesma espécie de bebida que seria utilizada para o brinde. Desde quando a irmã o procurara, pedindo sua ajuda, a tensão dominou-lhe o corpo. Pérola se ofereceu para ajudar, indo buscar as taças no lugar indicado por Téca. Subtraiu duas do conjunto, uma de cada cor, deixando, pelo menos, cinco de cada para a ruiva, que também viria buscar mais duas, conforme as ordens recebidas.

Agora, só faltava Rachel se insinuar para Ranald, virando-o de costas para as taças. Assim, Vila Nova poderia sair do banheiro e, rapidamente, substituí-las. Isso feito, alea jacta est. A sorte estava lançada!

Com Ranald paralisado pela ação do veneno e Lúcia amordaçada no quarto, só havia uma única preocupação: Salvarem-se. Naquela circunstância, em que o sistema do navio precisava ser controlado, Vila Nova, Rachel, Téca e Pérola perceberam que o melhor a fazer era deixarem Uriel no controle da situação e confiar no que ele determinasse. Ou todos se salvariam, ou a morte seria o fim dos remanescentes daquele cruzeiro maldito.

Em terra firme, já corria a notícia de um navio comandado por um homem insano. Àquela altura, tia Loretta, certa de que algo de muito grave acontecia, entrou em contato com Ataulfo Andrade, narrando-lhe, com exclusão de alguns detalhes, o que supunha ocorrer no Vingeance. O jornalista prometeu verificar as informações e, conforme o resultado, publicar algo a respeito para ajudar a chamar a atenção das autoridades. Há meses, não falava com o seu ex-aluno e amigo Vila Nova, nem mesmo por telefone, mas ajudaria dentro daquilo que estivesse ao seu alcance.

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Minutos antes de embarcar no cruzeiro:

Enquanto descia do carro, pegava sua bagagem e se dirigia para o navio, uma mulher loira, incrivelmente deslumbrante, o interceptou. Subiram alguns degraus e pararam ao lado de um homem, que, segundo Vila Nova percebeu, conferia bagagens, consultava listas e recolhia celulares. Tudo com muito profissionalismo e extremada educação, sem causar qualquer inconveniente aos passageiros. Antes que entregasse o seu aparelho, conseguiu a ligação que tanto desejava.

- Henrique? Vila Nova, tudo bem? Preciso que envie uma mensagem para Rachel. Anote aí: Rachel, lembra-se de mim? Nos conhecemos no bate papo. Tentei falar contigo algumas vezes, você não me atende. Quero muito conhecê-la. Tive que viajar, mas te ligo assim que voltar! Beijos! Henrique. Bom, acredito que, assim, ela saberá que também estou viajando. Mas faça isso amanhã, ok? Até à noite de hoje, estarei com outra mulher. Obrigado, meu amigo. Tchau!

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Momentos antes do jornalista e a ex-mulher de Paulo serem surpreendidos por Lúcia.

- Mas, um dia, Paulo, através de uma carta, avisou tia Loretta que iria embora da cidade, sem maiores explicações e, então, tudo terminou aí... Pegando um objeto, Vila Nova disse: - Ah, obrigado por isso. Falou, mostrando-lhe seu celular que fora entregue à Pérola por Isadora. Agora, podia mandar uma mensagem para Rachel, mas com o cuidado, mesmo sendo do seu próprio aparelho, de assinar como Henrique. Já estava com saudades da mulher que tanto amava. Aquele sentimento não era nada convencional, mas forte o suficiente para que desse a própria vida pela dela. De posse do aparelho, marcou um encontro, em lugar ermo do navio. Muito precisava ser dito e planejado. Ainda que arriscado, tal encontro era imprescindível.

Assim que Vila Nova e Pérola conseguiram imobilizar Lúcia, esta lhe perguntou:

- Você e Rachel não fizeram isso, fizeram?

- Você acaba de conhecer minha tática suicida: Contar toda a verdade, da forma mais cruel que puder, de maneira que cause o maior dano emocional possível, tudo para desmoronar seu opositor... Rachel e eu fizemos exatamente isso. Sem subtrair uma única vírgula.... Essa parte da verdade, nem Isadora e muitos menos os outros sabiam.

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Aqueles eram os últimos instantes no cruzeiro. Uriel deu um abraço em cada um deles. Apesar de conseguir se livrar das provas que poderiam incriminá-lo, não queria, como filho de Ranald, se expor à mídia que já se encontrava na praia.

Todos pularam do navio, segundos antes dele se chocar nos arrecifes. As lanchas da marinha chegaram rapidamente, resgatando Vila Nova, Rachel, Téca e Pérola. O jornalista avisou que havia mais duas pessoas lá dentro: O grande responsável por aquela gigantesca estrutura de vingança, Ranald Armond, bem como sua comparsa, Lúcia Camargo Rodinari. Os dois foram salvos.

Ao pisarem em terra firme, um enxame de jornalistas esperava para uma palavra sobre aquele macabro episódio:

- Estamos salvos. No momento, é o que importa! Disse Vila Nova para as câmeras. As três mulheres, visivelmente abatidas, permaneceram caladas. O abalo emocional era genuíno, mas o silêncio fazia parte de um acordo: Antes de qualquer informação à imprensa, combinaram de se encontrar na casa do jornalista, para que os depoimentos e declarações afastassem qualquer vestígio de algo que pudesse ser prejudicial aos quatro.

Vila Nova tentaria entrar em contato com os agentes da FIAE, para, sem mencionar a agência secreta, inserir o grupo em suas reportagens. O caso, apesar de iniciado por seu professor, seria dele e representaria a sua grande virada como profissional. O futuro aparecia promissor bem a sua frente.

Ao chegarem à cidade, Rachel pretextou algumas medidas que precisava tomar e rumou para o seu apartamento. Vila Nova logo percebeu que se tratava do dinheiro que ela havia conseguido desviar de Armond e, virando-se para ela, disse que a esperaria em sua casa. Os dois se despediram.

Tia Loretta aguardava aflita pela chegada dos três. Ao abraçar Téca, sentia-se como uma mãe aconchegando nos braços a filha, que há anos não via. Sua preocupação por Pérola também era imensa, já que ela havia se envolvido nessa trama atendendo a um pedido seu, que, por sua vez, através da associação, se comprometera, com afinco, a localizar alguém muito caro ao coração daquela bela moça, guerreira e batalhadora.

- Pérola, minha querida, tenho uma surpresa para você. Alguém que há muito tempo procura. Tão logo tia Loretta acabara de falar, Avelina Rodrigues, mãe da ex-mulher de Paulo, aparece na sala.

Os dois corações separados pelo destino abraçaram-se e uma grande emoção tomou conta do ambiente. Depois que muitas lágrimas rolaram, acomodados no sofá, tia Loretta perguntou:

- E Gabriel, onde se encontra, agora?

- Uriel resolveu fugir do assédio da imprensa. Pelo que nos contou, cuidará da mãe, que necessita muito do seu carinho. Respondeu Téca.

- Pobre Ana. Sempre sofreu nas mãos do louco do marido. Por anos, trabalhei como enfermeira numa clínica. Lá, tive oportunidade de conhecer o caso dela. Nessa época, Cláudio e Gabriel tornaram-se amigos e o meu acesso à mansão foi facilitado. Logo notei que havia algo de errado no tratamento que era imposto àquela mulher, mas antes que pudesse ajudá-la, Armond dispensou os meus serviços e proibiu-me de visitá-los. Para que não levasse minhas suspeitas adiante, aquele monstro insinuou que nos mataria, meu querido. Disse a senhora, mirando o sobrinho, com os olhos rasos d’água.

- Tudo ficará bem, agora, tia. Ana será muito bem cuidada. Você fez o que estava ao seu alcance: Avisou Uriel sobre o falso tratamento, para que ele sempre protegesse a mãe.

Um silêncio pairou no ar, até que Pérola o quebrou, dizendo:

- E Rachel que não chega, hein?

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Três meses se passaram, desde o dia em que os quatro remanescentes conseguiram “acordar” daquele pesadelo batizado de Cruzeiro Sete Mares. Téca se tratava da dependência química dos remédios. Uriel a visitava com alguma freqüência e um clima de romance começou a pairar no ar.

Enquanto isso, Vila Nova ainda não acreditava que Rachel havia sumido com todo o dinheiro do golpe que tia Loretta engendrou e que os dois executaram para desviar os milhões de Armond. A grande fatia do bolo, tudo, absolutamente tudo estava de posse da ex-secretária do facínora. Ficava pensando o que se passara na cabeça dela para agir assim, de forma tão vil.

Tudo bem que os dois não possuíam escrúpulos. Fizeram tudo aquilo não apenas por vingança contra Ranald, o que, por si só, não os tornava tão diferentes dele. Também desejavam o dinheiro e a vida que poderiam desfrutar. A vingança pertencia a Rachel. O abuso sexual e o aborto ainda na adolescência ocasionaram uma grave lesão em seu útero, impossibilitando-a de manter uma gravidez. Várias foram as noites em que Vila Nova acordara com seus gritos, sonhando com os atos sofridos. Agora, os planos traçados pelos dois, isso pertencia ao casal e era o que havia de mais belo e puro entre eles. Tarde demais! Rachel o traíra. Traíra tia Loretta, estava tudo acabado.

Para esquecer a mágoa, o ressentimento, o jornalista mergulhava a mente no trabalho. O dono do jornal para o qual vendera suas últimas reportagens ofereceu-lhe o cargo de chefe de edição. Confessou que Ranald, um dos responsáveis no contrabando das mercadorias apreendidas pela receita federal, o pressionara. Por isso havia colocado um estranho na vaga aberta na equipe de redação, dando-lhe, em troca, o lugar do “garoto das amenidades”.

Vila Nova recusou o convite. No fundo, gostava de ser dono do seu próprio nariz. Continuaria como freela, ainda mais agora, que toda a mídia o disputava à tapa. De qualquer forma, corria célere o processo para o seu reconhecimento judicial como filho e também herdeiro de Paulo. Seu advogado, Dr. Gonçalves, estava tratando do assunto. Logo, dinheiro não seria mais um problema.

Uma noite, despedindo-se da tia, que ouvia atentamente a sua rádio novela, subiu para o quarto, ligou o computador e entrou na mesma sala de bate-papo de sempre. Por ironia, escolhera o nick Henrique. Um minuto apenas e alguém o chamou para conversar:

Ana – Oi, Henrique, tudo bem? Tomou um grande susto. Mas achando que seria coincidência demais, respondeu:

Henrique – Tudo bem! ... Antes que me pergunte: Sou jornalista, tenho 33 anos e moro com minha tia.

Era só o que ela precisava saber para, então, falar:

Ana – Tenho um pedido e um convite para você, papai.

Em três dias, o jornalista estava no sul da França, num belo castelo na região da Côte D’Azur, a costa francesa banhada pelo mediterrâneo, ao lado da mulher da sua vida. Rachel implorou pelo seu perdão. A vida oferecera-lhe um presente que a transformou numa nova mulher. Um verdadeiro milagre, segundo os médicos. Agora, não havia mais espaço para o ódio. O dinheiro não lhe trouxera a felicidade, foi o amor de Vila Nova.

Num banco do imenso jardim do castelo, Rachel pousava sua cabeça no colo do jornalista. E um sorriso terno era acompanhado pelas mãos que levemente massageavam a barriga da futura mamãe, enquanto os olhos de Cláudio brilhavam de pura felicidade.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Todo PODER nas Mãos

Enquanto pisava com seu salto alto no peito de Armond, Rachel extravasava todo o ódio guardado por anos e anos...

- Olhe bem para mim, Ranald!!! Aproveite seus instantes finais para se lembrar aonde me conheceu pela primeira vez, desgraçado.- Era visível, pelas veias que pulsavam, que Rachel estava completamente fora de si.

Novamente divagou no tempo, estacionando-se nos seus 13 anos.

Chovia muito, os grossos pingos de chuva que caiam em sua pele nem sequer chegavam perto da dor que latejava em seu coração. Acabara de sair da casa de Wallace Rodinari e de mais uma “argüição,” que lhe causava asco e ultraje. Indignada, havia saído sem se importar com a chuva e sem se despedir de Lúcia. Vagava desnorteada pelas ruas daquele requintado bairro, quando um carro enorme e suntuoso parara ao seu lado. O vidro negro de trás foi abaixado até a metade e um rapaz muito bonito, de olhos verdes, aparentando uns 29 anos colocou o rosto para fora:

- Mocinha, você vai adoecer. Entre aqui que eu a levo para casa.

- Obrigada! Mas quero me molhar, aliás, quero que o mundo se acabe com essa chuva!- a voz ríspida e grosseira não convenceram o rapaz, que saiu do carro. Vestido impecavelmente com uma calça social cinza, camisa palha e gravata azul, ele não se importou em molhar-se e pegou no braço daquela moça que parecia um bichinho assustado e com medo do mundo.

- Meu nome é Ranald. Moro aqui, nesse bairro. Parece-me que você tem todos os motivos do mundo para estar nesse desespero... mas confie em mim... quero ajudar você! - Rachel desvencilhou-se daquelas mãos e saiu em disparada, sem ver para onde ia. Atrás dela, Ranald corria também.

Rachel, tão preocupada em livrar-se daquela perseguição, mal olhava onde ia, entrou em uma área verde, e pisando de mal jeito, caiu no chão, no mesmo instante em que Ranald a alcançara.

Sorrindo com ternura para ela, disse passando a mão em seu rosto:

- Já pensou em tentar carreira como corredora de maratona?- ambos caíram na risada e um abraço terno zelava a amizade que começava ali.

Depois desse encontro, Rachel e Ranald tornaram-se grandes amigos. Encontravam-se todos os finais de tarde. Conversavam muito. Revelavam seus mais íntimos segredos. Muito embora 16 anos fosse uma diferença de idade considerável, a admiração mútua transformou-se em paixão.

Em Ranald, a pobre moça descobriu forças para deixar para trás, todo o mal que Wallace tinha lhe feito. A vida mostrara uma nova oportunidade para a felicidade. Em pouco tempo, os dois mantinham uma vida em comum. Namoravam e as promessas do rapaz era que tão logo ela atingisse a maior idade, eles ficariam noivos.

Dois anos depois, com 15 anos, Rachel encontrava-se apreensiva ao sair do laboratório. Em suas mãos um teste de gravidez: POSITIVO!
Ao pensar na felicidade de Ranald com a essa notícia, ela nem se preocupara com a reação de seus pais.

Leda ilusão! Quando, toda feliz, contou ao namorado que seria pai, conheceu o verdadeiro Ranald, que havia se escondido por dois felizes anos na pele de namorado apaixonado.

- Eu sou casado, menina! Não posso ser pai de novo!!! Minha posição não pode ser manchada com isso! Temos que tirar esse bebê! Quero que faça um aborto!!! – ele fora implacável e irredutível.

Sentindo-se extremamente traída e com os pensamentos em desordem, não restou-lhe outra saída, senão aceitar o cheque e encaminhar-se à clínica indicada pelo namorado.

Algumas horas mais tarde. Estava feito! Infelizmente devido a uma dificuldade no aborto, foi provocada em Rachel uma grande inflamação que deixou seqüelas no útero e segundo os médicos dificilmente ela seria mãe um dia, já que teria sérios problemas em segurar uma gravidez.

Nessa clínica, enquanto esteve internada conheceu Loretta, uma enfermeira muito amável que cuidou dela com extremo amor. Loretta, fora a única pessoa com a qual Rachel compartilhou sua história de vida. Tornaram-se amigas, no entanto, perderam contato tão logo a menina deixara a clínica.

Rachel viajara por algum tempo. Precisava se afastar de Ranald, por mais que ainda o amasse. Tudo que vivera em tão tenra idade lhe amadurecera rapidamente.

Contudo, em seu coração algo também crescia intensa e gradativamente. Algo que, com o passar dos anos, tornava-lhe cada vez mais fria, calculista e, seu coração totalmente rancoroso: O DESEJO DE VINGANÇA!

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Ranald com os olhos estatelados, recordava-se por fim, de onde reconhecia aqueles olhos amendoados e aquela boca bem delineada. O tempo modificara Rachel, a transformara em uma linda e calculista mulher, contudo, os olhos e a boca, ainda guardavam os traços daquela menina inocente de 13 anos que conhecera, que fora a única mulher que amara. No entanto, a paixão ambiciosa pelo poder sufocou esse amor.

- Lembrou-se Ranald Armond??? Eu sou a mesma Rachel de 19 anos atrás. Entende agora porque fiz o que fiz. Você foi pior do que Wallace! Mais cruel, mais inescrupuloso...- Maccioti respirava com dificuldade, era muito doloroso relembrar tudo aquilo.

Vila Nova aproximou-se de Rachel e a abraçou com amor.

-Querida, acabou! Esse aí não pode mais te ferir. Não pode mais ferir ninguém. Vamos. Uriel que decida qual será o fim do pai.

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Alguns anos antes:

Rachel chega à casa de Vila Nova, para os últimos detalhes do plano:

- Bom dia, tia Loretta!

- Minha querida, que bom que chegou! Cláudio e eu estávamos a sua espera. Agora, podemos nos reunir.

Os três se dirigiram para sala e, sentados no sofá, começaram a deliberar sobre o golpe planejado. A primeira a falar foi Rachel.

- Bom, conforme o traçado, já comecei a me insinuar para Armond. Em questão de poucos dias, ele já terá sucumbido ao meu charme. Acreditam que ele nem me reconheceu? Disse sorrindo cinicamente.

- Não sei onde estou com a cabeça que permiti que minha namorada desse em cima de outro homem para ser sua amante. Falou Vila Nova.

- Sua cabeça? Ora, ela está nos milhões que tiraremos dele, meu filho. Completou tia Loretta, que continuou: - Tenho algumas recomendações que considero fundamentais para o êxito dos nossos planos. A primeira dela envolve vocês dois: Doravante, não é prudente que sejam vistos juntos ou que se falem diretamente. Se eu bem conheço aquele crápula, antes de se envolver com a nossa Rachel, certamente contratará alguém para seguir-lhe os passos. Aquele lá não dá ponto sem nó.

- Mas tia, como faremos para nos comunicar com ela, quando precisarmos? Perguntou o jornalista.

- Já pensei nisso, meu filho. E tirando um pequeno pedaço de papel, entregou ao sobrinho, dizendo: - Este é o número de Henrique Nogueira.

- Henrique Nogueira? Como conseguiu localizá-lo, tia? Perguntou Vila Nova, visivelmente surpreso. – Quanto tempo não o vejo!

- Acha mesmo que a Associação das Senhoras Beneméritas foi criada para que mulheres se reunissem para o chá das cinco? Nós temos os nossos contatos. Disse ela. – Continuando, Henrique foi encontrado na rua, sujo, com forme e completamente abandonado. As drogas acabaram com sua vida. Seu caso foi levado para a Associação que lhe estendeu a mão, ofereceu-lhe tratamento e,ainda, conseguiu-lhe um emprego.

De repente, Rachel se lembrou:

- Espere aí, agora que a senhora mencionou emprego, eu me lembrei. Essa semana, entrou um porteiro novo em meu prédio, tem exatamente esse nome: Henrique Nogueira.

- Sim, minha querida. É ele mesmo. Não é uma coincidência de nomes! Respondeu a senhora, sorrindo. – Toda vez que precisar se comunicar com Rachel, você entrará em contato com Henrique, que, por sua vez, mandará do celular dele uma mensagem para ela, como se fosse um homem interessado na sua belíssima figura. Convém que ajam da mesma maneira, quando se falarem pelo computador. Caso Ranald tente rastrear o celular de Rachel, chegará à conclusão que o porteiro do prédio se apaixonou por uma das moradoras.

- Tia Loretta, a senhora pensa em tudo!! Disse a secretária.

- ELA é ou não é uma mestra? Completou o jornalista, dando um beijo na tia.

- Ora, meus queridos, também não é assim. Digamos que eu tenho uma grande fonte de inspiração para os nossos planos.

- Já sei, já sei: Suas rádio-novelas, não é? Perguntou Vila Nova.

- Exatamente. De onde acha que tirei o nome Ana para, de agora em diante, ser usado por Rachel? Justamente da minha radio-novela preferida: Teia das Conspirações. Nela, a heroína é uma vilã. Ana Maldonado, que se une ao parceiro e amante, Ramon de Gusmão, para, juntos, aplicarem um golpe no seu patrão, o mega-milionário, Reinaldo Armond. Um empresário inescrupuloso. Não parece a vocês muita coincidência?

Os três riram da situação e a reunião prosseguiu, segundo o programa estabelecido por ELA, a mestra dos golpes: Tia Loretta.

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E de volta ao presente.

Já em terra firme, depois de saírem do navio, logo antes do choque, Maccioti conseguiu dissimuladamente, como sempre, livrar-se dos jornalistas. Despediu-se de Vila Nova, com uma desculpa qualquer. Abraçou Sônia e Téca demoradamente. Havia algo que, por mais que tentasse, não podia fingir, o carinho especial que sentia pela irmã de Vila Nova e por aquela mulher preciosa que protegera os gêmeos. Pegou um táxi e rumou para seu apartamento, onde já sabia exatamente o que fazer: preparar as malas e os documentos necessários para sair do país.

Em casa, Rachel, com um clique transferiu todo o restante dos milhões para sua conta particular na Suíça. Eram tantos dígitos que lhe perturbavam as idéias!!!

Enfim, conseguira tudo que ardilosamente planejara desde os 15 anos. Vingara-se de Wallace Rodinari. Vingara-se de Lúcia Rodinari, deixando-a no navio para ser presa pelas autoridades. VINGARA-SE de RANALD ARMOND!!!

Sentia-se tão feliz quanto aliviada, cumprira tudo quanto pensara. A vingança tinha o doce sabor de liberdade.

Por que teria que dividir os milhões com Vila Nova? Por que? Será que aquele amor valia todo aquele dinheiro? Um dilema alcançara seu coração nesse momento...


Enquanto voava sozinha para a França, Rachel Maccioti escutava no MP4, Caetano Veloso:

“Me larga, não enche
Você não entende nada e eu não vou te fazer entender
Me encara, de frente...
A melodia do meu samba põe você no lugar

...


Começa uma outra história aqui na luz deste dia D:
Na boa, na minha,
Eu vou viver dez...

Harpia, ARANHA!!!
Sabedoria de rapina e de enredar, de enredar
Perua, piranha...
Pirata, malandra...
Vagaba, vampira..
Tarada, mesquinha...
À-toa, vadia...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O Destino do Vingeance

_" Acabou pessoal. Podem vir!" - Disse Rachel...
Nisso Vila Nova saiu de dentro do banheiro, e Téca e Uriel entram na cabine...
Viram quando Rachel pisando com seu salto alto no peito de Ranald disse a ele:

- Então meu amor, me diga agora, como é provar do próprio veneno???


O envenenamento de Ranald trouxe surpresas a Uriel. Pela primeira vez em muitos anos, não havia ódio, rancor ou qualquer outro sentimento em seu coração. Não sentia mais nada ao ver o pai no chão, respirando ruidosamente. A conversa com Ranald pôs fim a uma relação difícil, complicada e cheia de ódio. Simplesmente Ranald merecia a morte, e não fora pelas suas mãos, e isso lhe trazia alívio. Agora Ranald apenas olhava para todos, aflito, apavorado, paralisado no chão. Uriel conseguira o que queria...

Não possuía nem um só resquício de sentimento por aquele homem. Vira agora a libertação de sua mãe, que poderia agora receber tratamento digno, rever o filho e terminar seus dias cercada de amor.

Agora lhe preocupava o destino do Vingeance, já que não havia mais como sair daquele navio sem dar centenas de explicações para as autoridades, correndo o risco de ser preso, e colocando-o sob suspeita. Era hora de libertação, e o Vingeance ainda o prendia.

Uriel informou a Vila Nova, Teca e Raquel que teria de rumar para terra.
Havia descoberto que o sistema fora projetado por ele mesmo, e sendo a senha seu padrão, utilizando o MARCO VINTE desde os tempos de faculdade, quando Vila Nova o ensinou a usar o código, ele sabia que poderia restaurar partes do sistema, mas que o navio estava condenado. Chegou a lamentar ter jogado os explosivos no mar, mas teve uma grande idéia.

_ Acho que chegou a hora de sairmos deste inferno... eu tenho uma idéia, mas vai ser um tanto perigosa, mas acho que é o único meio de sairmos daqui sem ter de explicar tudo para a Polícia. Segurem muito firme quando ouvirem o apito do navio.

Raquel e Teca se entreolharam enigmaticamente, mas não chegaram a ter tempo de perguntar nada, Uriel havia partido para a Ponte de comando.

Ao chegar na cabine, observou o sistema guiando o leme, e após rever os planos de navegação observou que o navio estava navegando em vastos círculos, no alto-mar, e pelo GPS, navegavam em águas internacionais, próximo à costa brasileira. O sistema de navegação estava bastante avariado, mas Uriel conseguiu programar ordens muito simples, e aumentou a velocidade do navio, toda força à frente, soltando o timão do sistema de correção automática. Agora, o Vingeance cruzava as águas com mais velocidade, abandonando a rota circular, seguindo a norma gerada pelo GPS. O navio singrava velozmente sobre as águas, dando o máximo de seus potentes motores.

“Os ratos fogem primeiro... o capitão morre com seu navio...”

Seus pensamentos agora eram para Ranald. Era irônico saber que o navio agora seria uma prisão para o “Aranha”.

Antes de sair, mudou a senha e alterou-a, retirando-a do MARCO VINTE. Não queria que ninguém mais tivesse idéias para um destino diferente para o Vingeance. Era a hora de sair dali para uma vida mais confortável, mais luxuosa, e ao lado de sua mãe. Se Ranald tivesse sorte, seria resgatado ainda com vida.

Voltou até sua cabine e recolheu tudo que poderia incriminá-lo, e depois fez o mesmo com a Sala do servidor do navio, retirando os teclados, e HD´s dos sistemas de câmeras. Logo chegou até a murada lateral, e, em águas abissais, jogou tudo aquilo que pudesse servir de prova para alguma coisa, afinal o navio possuía dois corpos, e Uriel sabia que teria de dar muitas explicações. Jogou no mar sua arma, seu laptop, as HD´s, o celular via-satélite. Todo o aparato tecnológico, a teia digital do Aranha agora jazia há centenas de metros sob algum lugar do Oceano Atlântico.

Ao terminar de desfazer-se das provas, olhou para o horizonte, as ondas batendo fortemente contra a quilha central. O Vingeance teria que ser mais rápido na entrada da Costa Brasileira, sob risco da Marinha interceptá-los. Mas também sabia que o navio entrara em um país continental, com milhas e mais milhas de extensão, e se fossem rápidos, poderiam chegar até a praia antes da possível interceptação.

Ainda observava o navio, quando o barulho de um motor ecoou sobre sua cabeça. Olhou para cima, mas em nada ficou surpreso. Não havia tempo.

O litoral brasileiro agora aparecia no horizonte, crescendo velozmente. Uriel foi até a cabine de controle, onde certificou-se sobre a velocidade máxima do navio. Não poderia correr nenhum risco.

Pensava em todos os acontecimentos, e sorriu. Afinal estava livre de Ranald, estava rico, e veria o império do pai ser destruído pelos processos movidos pelos clientes lesados pelo golpe, e dilapidado pela corja de sócios. Mas isso não importava. Estava de mãos limpas, e ainda conseguira espalhar em centenas de contas anônimas, em vários paraísos fiscais, dezenas de milhões de dólares.

Ainda na cabine, Uriel viu o navio se aproximar da costa, velozmente.
À sua frente, o paredão rochoso da Praia de Torres, no sul do Brasil, aproximava-se velozmente.

Momentos depois, o Vingeance, com sua imponência e tamanho, bateria velozmente nos arrecifes próximos da praia, encalhando-o com um estrondo ensurdecedor, fazendo dezenas de objetos voarem pelos ares com o impacto, passando a adernar 30 graus à bombordo, parando com um rangido metálico.

Uriel seguiu até os decks inferiores até a porta de carga, no limite inferior do casco. O navio fazia água velozmente, mas Uriel conseguiu sair a tempo de ver o navio oscilar ao longe, com o rasco rasgado. Nadou os 50 metros que o separavam da linha de arrebentação feliz. Muito feliz. Estava livre.

Enquanto isso, lanchas da Marinha se aproximavam do navio definitivamente avariado...

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Um ano Depois...

A bela Mercedez prata circulou o chafariz central, e um criado bem vestido dirigiu-se até a porta, abrindo-a. Um homem alto, vestido elegantemente desceu do carro, com o sol realçando o castanho de seus cabelos. Andou pelo tapete vermelho até o interior do hangar, onde encontrou um helicóptero. Ao seu lado, Uriel.

_ Cara! Como você demorou! Está pronto para partir?

_ Claro, Gabriel... mas porque essa pressa em ir para o Caribe?

_ Temos um encontro mais do que agradável lá...

_ E sua mãe?

_Está bem, ficará em casa com os criados...ela mesmo fez questão que eu viajasse.

_Mas e se a clínica ligar para lá?

_ Não vão ligar... pago para eles um bom dinheiro para manter o velho sob vigilância constante, mas mesmo que não fosse, alguém que não fala, não anda, não se mexe, não representa risco algum...

_ Que final Ranald teve, não? Um prisioneiro dentro de seu próprio corpo... ouvindo você determinar seu futuro ou não, sequer podendo intervir..

_O veneno lesou totalmente suas funções motoras, o cérebro não consegue mais comandar os músculos, mas apesar de mudo, ele entende tudo, e faço questão que tenha o mesmíssimo tratamento que minha mãe recebeu dele... na mesma clínica. Se morrer, sequer vão ligar para minha casa... mas vamos esquecer esse estorvo... não quero falar mais sobre isso.



Horas mais tarde, os dois homens estavam em um caro resort caribenho, e caminhavam até duas hóspedes que tomavam sol, à beira do mar azul. Uma delas levantou-se e sorriu, e levantando-se, dirigiu-se até o loiro. Nem de longe parecia com a Teca de uma ano atrás, pois havia abandonado as drogas, e estava absolutamente linda e em forma.


_ Estou feliz por você ter vindo... eu estava te esperando...

A outra mulher levantou-se, e Uriel apresentou-o.

_ Pérola, esse é meu amigo Fernando...

Pérola sorriu, discretamente observando o corpo bem torneado, vestido apenas com uma sunga branca. O homem sorriu e estendeu a mão, retirando o óculos.

_ Muito prazer... Fernando Palácio!

As moças se entreolharam sorridentes, e Uriel abraçou Teca.

_ Gabriel, vamos a uma festa hoje?
_ Só se não for a fantasia, muito menos em um navio....


E o som de gargalhadas emolduraram o por do sol perfeito dos dois casais...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Decisões importantes...

Téca estava simplesmente apavorada com o que Ranald havia lhe dito. Caminhava de um lado pro outro dentro de sua cabine, chorando e totalmente em crise e quebrando tudo que via pela frente, olhou bem para a câmera e gritou:

- Ranald seu desgraçado, eu não vou fazer o que você quer. Não vai usar as minhas mãos para suas sujeiras, está me ouvido seu velho???

Na mesma hora o pager de Téca apita com a seguinte mensagem:

Tequinha querida, pra que ficar quebrando tudo aí dentro da sua cabine? Pense bem, você não tem saída e se fizer o que quero, prometo que ainda sai daqui ilesa e mais rica. Assim que matar Rachel, eu tiro você deste navio, prometo!!!
Agora faz o seguinte, vai dar uma voltinha, respira um pouco, fuma seu cigarrinho e vem aqui onde estou, pois tenho algumas instruções pra te dar.
E nem ouse não aparecer! Com apenas um clique, eu mando tudo direto pra Londres e aí, é só uma questão de pouco tempo pra vc voltar pra Londres. Só que dessa vez presa!!!


Téca respirou fundo e saiu da cabine. De cabeça baixa passava pelo corredor para ir ao convés quando levou um encontrão que quase a derrubou. Quando já ia se preparando pra xingar, levantou a cabeça e viu Uriel. Este a segurou pelo braço, pedindo desculpas e saiu.
Téca notou que seu rosto estava transtornado e teve a impressão de que ele estava chorando.
Mas não tinha muito tempo, foi ao convés, fumou um cigarro e desceu pra famigerada sala do velho desgraçado.


- Ah, vejo que é mesmo uma garota inteligente. Afinal, quem é que gostaria de passar o resto da vida numa cela não é mesmo? Assim é que gosto, de pessoas como você, que não titubeiam na hora de tomar uma decisão, principalmente quando essa decisão envolve dinheiro. Até porque foi assim que vc fez comigo né Téca? Não titubeou em passar informações pra concorrência em troca de um bom dinheiro.

Téca não falava, apenas encarava Ranald com fúria nos olhos.

- Já que não fala nada, eu vou dar as instruções, e aí depois se quiser você fala, se não quiser também que se dane. Vai fazer o que quero mesmo. Senta aí e presta atenção.
Seguinte: Você tem duas horas pra preparar tudo, nem mais um minuto. Irá até a dispensa do navio e lá vai estar um conjunto de taças. Pegue uma taça azul e a outra vermelha, e dentro da geladeira o champagne que já tinha te dito.
Claro que vou estar com você na hora em que você “batizar” a taça de champagne da vagabunda da Rachel, só pra ter certeza que não me trairá.
Após colocar o veneno, aí não preciso mais de você. Poderá sair da cabine e ir pra sua. E pra provar que não estou blefando com você, que se for boazinha e fizer exatamente como estou mandando eu te tiro deste navio, aqui está.

E Ranald tirou da gaveta um envelope pardo entregando-o a Téca. Ao abrir o envelope, Téca não se conteve. Arregalou os olhos, e deu o mesmo risinho cínico de sempre. Dentro do envelope tinham várias notas de cem dólares.

- Gostou do que viu né mocinha? Eu sabia que ia gostar, vc sempre foi fã de dinheiro, e dinheiro assim fácil não é todo dia. Além do mais, vc nem é amiga da Rachel, não vai ser tão difícil pra vc. Alguma pergunta?

- Perguntas não, apenas algumas dúvidas. Primeiro, por que faz questão de taças com cores diferentes??? E como vou entrar na cabine de Rachel?
Ah, outra coisa, como vai me tirar desta merda de navio?

Ranald gargalhando respondeu:

- Mas vc está mesmo cheia de dúvidas hein? Ou será medo que não vou cumprir o que te prometi. As taças com cores diferentes é óbvio né querida; assim não corro o risco de você na última hora me trair ou mesma a própria Rachel que não é nada burra, trocar as taças. E quanto a ela, não se preocupe pois eu darei um jeito de tirá-la da cabine. E assim que o serviço estiver feito, vc vai embora comigo. Um helicóptero vem nos buscar e vc escolhe onde quer ficar e nunca mais nos veremos.
Você receberá duas mensagens no seu pager. Uma te dando carta branca pra entrar na cabine de Rachel e iniciar o serviço, e a outra é quando o serviço estiver feito, para partirmos.

- Mas e seu filho Uriel? Vai largá-lo aqui sozinho Ranald?

- Meu filho? Eu não tenho filho. Ele quer que eu morra, e eu quero que ele morra. Não tem que se preocupar com ele entendeu? Agora vai que seu tempo começa a partir de agora.

Teca saiu apressada da sala, segurando aquele envelope e suando, de tanto pavor que sentia. Mas agora não tinha mais como voltar atrás...
Voltou para sua cabine toda quebrada, guardou o envelope dentro de sua mala e antes de sair, ainda olhou para a câmera fazendo sinal de positivo para Ranald, pois ela sabia que ele a observava.
Olhou no relógio e ainda tinha algum tempo antes de ir até a dispensa preparar tudo...Foi para o convés novamente (era seu lugar preferido), acendeu um cigarro e ficou olhando o horizonte e pensando em tudo que vivera até agora ali dentro daquele navio. E lembrou com carinho de Vila Nova, um irmão que só foi descobrir que tinha ali naquele inferno. Lágrimas desciam por seu rosto, pensando que teria que deixá-lo lá, e que talvez ele nunca a perdoasse pelo que estava prestes a fazer. Torcia pra que pelo menos Uriel tirasse ele e Pérola de lá vivos.

Saiu de lá com uma imensa dor no peito, e foi direto para dispensa. Já que tinha que fazer, então que fosse logo. E sumiu por um tempo, calculando mais ou menos as horas pra poder iniciar o plano. Finalmente faltando uma hora pra seu pager tocar, ela entrou na dispensa.
Chegando lá procurou pelas tais taças e encontrou um jogo com 12, sendo 6 vermelhas e 6 azuis. Abriu a caixa e retirou as duas taças. Precisava de algo para beber, pra relaxar...encontrou uma garrafa de whisky e encheu o copo e virou “duma” vez , cowbói mesmo.

Andava de um lado pro outro naquela merda de dispensa e nada do pager tocar. Parecia que o tempo não passava. Suas mãos já estavam ficando geladas, seu coração disparado e a boca seca. Foi qdo ele tocou e logo em seguida parou. Era chegada a hora, não tinha mais volta.
Pegou rapidamente as taças, a champagne e dirigiu-se à cabine da Rachel.
Entrou e deu de cara com Ranald a esperando.

- Eu não te disse que ia dar um jeitinho? Agora vai, quero ver o quanto é fiel a mim. Coloque aqui em cima dessa mesinha as taças, abra a champagne , despeje nas taças e depois na taça vermelha coloque o Devil.

Téca fez tudo como Ranald pediu, e na hora de colocar o veneno falou num tom um pouco mais alto:

- Despejo o veneno na taça azul é isso???
- Não Téca...preste atenção no que está fazendo, é na taça vermelha.
- Ah tá, como quiser. Taça vermelha então.

E Téca despejou todo o conteúdo do vidro do veneno “Devil” dentro da taça vermelha e encheu de champagne.
Ainda teve que agüentar Ranald beijando-lhe o rosto e cochichando em seu ouvido: - Obrigado! Agora vai, e espere na sua cabine a segunda mensagem.Não vai me desejar boa sorte?

- Boa Sorte Ranald! Respondeu uma Téca extremamente nervosa.
Saiu da cabine de Rachel batendo a porta...

Téca se escondeu atrás de um dos pilares do corredor e viu a exata hora que Rachel entrou em sua cabine. Suspirou fundo e fechou os olhos...agora era tarde!!!

Rachel levou um susto ao ver Ranald ali, dentro de sua cabine, e uma cena romântica se não fosse estranha. Sentiu seu corpo gelar, afinal fazia tempo que não via aquele filho da puta.

- Ora, ora...quem é vivo sempre aparece! E se apareceu aposto que foi porque veio me matar!!! Disse Rachel.

Ranald não sabia explicar o que era, mas apesar de tudo Rachel ainda mexia muito com ele e ficou perturbado ao ouvir sua voz. Ela estava linda num vestido florido e sandálias...e Rachel percebeu que ele se perturbou.

- Se fosse antes minha querida, eu teria sim vários motivos para matá-la, mas vim para te buscar. Não tem mais ninguém dentro deste navio a não ser nós dois meu bem...

- Como assim? Você deve estar delirando...E Téca e Uriel? Meus Deus, o que fez com eles Ranald?

Ranald fazia um grande esforço para não deixar-se cair em tentação, ainda mais agora que Rachel parecia realmente estar acreditando nele.

- Por acaso acha que quem colocou o bilhete embaixo de sua cabine pedindo um encontro na sala das máquinas? O seu querido Uriel? Isso foi só pra te tirar daqui, afinal eu queria armar esse encontro, e nossos encontros nunca foram simples.
Quanto à sua pergunta, não sei se vai gostar mas Uriel andou se metendo a besta, e me procurou com uma arma na mão...não esperei que ele me matasse...a essa hora deve estar bem gelado....rsrsrs. E Téca acaba de ser morta!!! E por minhas mãos...rsrss

- Monstro...e agora sou eu é isso Ranald? Eu te amei tanto e você me traiu tantas vezes...vc sabe que por você eu teria feito tudo...

Diante do desespero de Rachel, Ranald foi chegando mais perto dela...precisava sentir seu cheiro, pela última vez. E Rachel percebendo que ele estava ficando “perturbado” usou de todo o seu charme e safadeza para atrair Ranald. Não sabia direito o que a esperava, mas se achegou a ele...roçando seu corpo no dele.
Ranald paralisou...beijou-a e ela retribuiu...um longo beijo!!!
Então Ranald virou-se e pegou as taças dizendo:

- Eu não vim aqui pra te matar meu amor! Vim aqui pra te buscar. Já disse que só sobrou nós dois nesse navio...vc é o meu grande amor. E entregou a Rachel a taça vermelha, e ficou com a azul.

Rachel fez menção de beber, mas desconfiada disse:
- Por que não bebemos juntos???
Soltando uma gargalhada, Ranald falou:
- Minha pequena, por acaso acha que vou te matar envenenada??? Tudo bem então, se prefere assim, brindaremos juntos, beberemos ao mesmo tempo.

E foi assim que realmente fizeram...um brinde e colocaram as taças na boca. Enquanto Rachel saboreava seu champagne, Ranald que não via a hora de vê-la morrer, virou praticamente de uma vez a sua taça.
E em segundos, caiu no chão com os olhos estatelados...

Acabou pessoal. Podem vir! Disse Rachel...
Nisso Vila Nova saiu de dentro do banheiro, e Téca e Uriel entram na cabine...
Viram quando Rachel pisando com seu salto alto no peito de Ranald disse a ele:

- Então meu amor, me diga agora, como é provar do próprio veneno???

E todos riam enquanto Ranald ficava ali, de olhos abertos, totalmente sem cor e caído no chão...


Algum tempo depois...

Em algum Resort do Caribe, duas lindas mulheres estendidas em cadeiras confortáveis, de frente para o mar, tomavam sol e riam, cheias de felicidade.

- Ah! Que vida boa essa de madame né amiga? Acho que não quero voltar ao Brasil por um bom tempo....rsrsrs

- Mas precisaremos voltar, afinal temos um negócio para tocar esqueceu?

- Claro que não, mas agora o que estamos merecendo mesmo, é um brinde, e claro, sem veneno...kkkkk

- E a que vamos brindar?

- A nossa liberdade, nossa alegria, nossa amizade e claro, pra que Deus seja muito bom com a gente e nos mande dois bofes maravilhosos...kkkk


E enquanto brindavam, Téca e Pérola riam com há muito tempo não faziam...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Deixados para trás

Já na lancha, era impossível descrever a sensação de alívio que tomou conta de Cíntia, Lukas e Luiz. Depois de intermináveis dias de tensão e desespero, finalmente viam-se sãos e salvos. E o melhor, em posse do chip, cujas informações por si só já valiam pelo trabalho de uma vida inteira.

Ela havia entrado no cruzeiro sem um propósito na vida, desesperançada e agora via todo aquele sofrimento, que começara muito antes de receber o famigerado convite, desvanecer-se bem em frente aos seus olhos.

Mas ainda assim algo a incomodava, sentia-se culpada por deixar todos os outros à merce do destino, presos àquele barco, sob as garras daquele maluco do Ranald.

- Sei não Lukas... e os outros? Acho que gente devia ter salvo eles também...

- Cíntia, sei como se sente, mas era isso ou nada... não há lugar para tanta gente na lancha, eles saberão se virar... cada um lá tem um assunto pendente por resolver, se estão lá é porque assim deveria ser... Não fique se preocupando à toa... já sei, quando chegarmos em terra firme, avisaremos a marinha. Isso deixa você mais tranqüila?

- Um pouco, mas mesmo assim, algo de muito ruim ainda pode acontecer a eles.

E Luiz interrompendo o assunto, conta sobre o chip falso e a ordem de prisão já existente para Ranald.

- Não se preocupem, aquele homem terá o que merece... se nenhum dos outros que lá ficaram o matar, com certeza ele passará muito tempo preso.


*****

Após chegarem em terra firme, sabia que o pagamento seria o bastante para não precisar nem mesmo pensar em trabalhar novamente... isso a confortava, pois mesmo sabendo que nunca deixaria de trabalhar, ter essa segurança lhe fazia bem. Além do mais, estava com o homem que amava ao seu lado... sentia-se bem... a única forma de descrever sua sensação.

O pedido para fazer parte da FIAE pegou Cíntia de surpresa, nunca pensara em juntar-se a uma organização como essa, mas era uma oportunidade para passar mais tempo junto de seu amado. Além do mais, lhe dava prazer acabar com o mal do mundo, bem, ao menos uma parte do mal, pelo menos sabia que faria a sua parte.

Nos anos seguintes, Cíntia dedicou-se a estudar. Abandonou temporariamente os códigos-fonte para dedicar-se à história. Formou-se com louvor, casou-se. Teve uma vida feliz. Deixando para trás toda a tristeza e angustias do passado. Queria começar uma nova vida e assim o fez.

*****

Muito tempo depois.

Um homem desce do ônibus vermelho, e caminha em direção à Biblioteca de Londres. Seu celular tocava insistentemente, mas antes mesmo de olhar para o visor, já sabia quem era...

"Venha rápido...Estou ansiosa para te mostrar algo..."

Colocou o celular no bolso do pesado sobretudo, e seguiu em meio ao fog, o famoso nevoeiro londrino, através dos trausentes, até que chegou a Biblioteca Central.

"Cheguei! Estou entrando..."

A enorme Biblioteca de Londres é um dos mais vastos acervos, um dos mais importantes centros de referência mundial da Cultura Humana.

No meio de vários leitores, com pequenos abajoures verdes acesos a sua frente, o silêncio reinava. As pessoas estavam absorvidas por suas respectivas leituras. Ele a viu no final de um corredor.

Ele a viu no final de um corredor. Ele chegou apressado, retirou o sobretudo, e sentou-se em uma mesa próxima. Ela carregava um livro, retirado da seção de livros de História, com aparência antiga.
"Nada difícil ler esses manuscritos para a maior historiadora da Europa..."

A bibliotecária, de saia longa e justa, nariz adunco e óculos redondos na ponta do nariz, esticou os dedos compridos para a mulher.

- Eu tenho certeza, Doutora, que este livro é o único de nosso acervo, do período solicitado na pesquisa. Alguns livros antigos não estão ainda cadastrados, por não terem classificação, ou estarem ilegíveis.

- Está bem para mim, Obrigada!

A velha bibliotecária afastou-se ajeitando o coque grisalho.
- Esse livro, de história antiga abrange a história de LOTHIAN! Alguém mandou escrevê-la, AMOR!

- Só pode ter sido escrito por alguém da época! - disse o homem. - Olhe o estado do Livro, bem conservado, apesar de setecentos anos. - E a Biblioteca nem se deu conta desta preciosidade no acervo.

O Homem consultou um terminal perto.

- É... a bibliotecária tinha razão...
"Quem escreveu a história foi Tham de Lothian... THAM!!!!!"

Nesse momento, um pergaminho amassado, amarelado pelo tempo, cai de dentro do livro antigo. Ele se abaixa... observa restos de cera vermelha no verso.

- Um selo Real! É um documento Real.

Abriram o pergaminho com cuidado, com letras góticas, cuidadosamente escritas. O autor do pergaminho escrevera um documento Real. Mas qual Rei ou Rainha teria mandado escrever algo tão cerimonial e arquivá-lo no livro?

(...)

Continua em: http://www.reinodelothian.weblogger.com.br/

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A Identidade Bittencourt

Sentados naquele café, Cíntia e Lukas conversavam.

-Não sei, não pensei sobre o assunto ainda, Lukas! Não sei se vou conseguir levar uma vida assim... Quando me lembro do que fiz naquele navio, da vida que tirei, fico mal. Como vou trabalhar para uma agência secreta? –perguntava Cíntia.

-Meu amor, você pensou rápido e agiu da forma necessária. Se não tivesse disparado aquele tiro, provavelmente eu não estaria aqui com você agora! E mais! Tudo naquele navio era uma loucura! Veja isso! –falou Lukas, estendendo a Cíntia o jornal do dia.

Estampado em todos os jornais, notícia em todos os telejornais, o ‘Cruzeiro Maldito’ era a sensação do momento.
Era inacreditável para as pessoas que tudo aquilo pudesse realmente ter acontecido. A matéria original, publicada pelo jornalista Ataulfo Andrade, com uma riqueza impressionante de detalhes e informações, caiu como uma bomba: lavagem de dinheiro, contas internacionais, mortes. Tudo isso envolvendo um grande empresário e seu conglomerado de empresas.
As pessoas não acreditavam no que liam.
Lukas e Cíntia tinham vivido tudo aquilo e sabiam que as matérias eram amenas perto do terror que foi a experiência dentro do Vingeance.

-A FIAE existe para evitar que coisas do tipo aconteçam. Investigamos, usamos a força. Sim, tudo isso é verdade, mas é um mal necessário. Não julgo como certo ou errado o nosso trabalho, mas sei que desempenho minha tarefa pensando num bem maior. –continuou Lukas. –Quando fui convidado a entrar na FIAE, nem acreditei naquilo. Nunca sequer tinha ouvido falar da Agência e, para mim, agências secretas só existiam na ficção. Entretanto, depois que passei pelo treinamento que você certamente passará, se topar entrar para a Agência, vi que ser da FIAE não seria apenas uma brincadeira. O que passamos dentro do Vingeance foi só uma amostra do que podemos passar, meu amor! Ranald tinha poder, mas imagine desafiar países inteiros? Luiz e eu quase tivemos nossos couros arrancados e não foi uma vez apenas! Mas valeu a pena!

-Mesmo, Lukas? Você acha que realmente vale a pena? –insistiu Cíntia.

-Se não valeu pelo trabalho em si, valeu por nosso reencontro. Pense comigo: se eu não fosse da FIAE, será que eu teria te reencontrado naquele cruzeiro maldito? Será que eu sobreviveria para estar tendo momentos tão maravilhosos como os que estamos passando? –os olhos de Lukas brilhavam enquanto fitava Cíntia.

O cenário era perfeito: Florença, um café, a tarde caindo.
Cíntia e Lukas enfim juntos.
Lukas pagou a conta, puxou Cíntia pelas mãos e a levou até o centro da grande praça defronte ao café que estavam até o momento anterior.
Correndo feito crianças, espantavam os pombos que levantavam vôo, o que fazia Lukas gargalhar como há muito não fazia em sua vida.
Sua vida era mais completa com Cíntia.
Diante do enorme chafariz, Lukas se ajoelhou e pegou Cíntia de surpresa.

-O que você tá fazendo seu louco??? Levante-se! Quer chamar ainda mais atenção? –Cíntia dizia ruborizando.

-Quero que toda Florença, que toda Itália, que o mundo inteiro me ouça! –disse Lukas, tirando do bolso da camisa uma pequena caixinha que, aberta, mostrava seu conteúdo: um cintilante anel.
Cíntia, incrédula, olhava para aquilo e foi com lágrimas nos olhos que ouviu a proposta de Lukas:

-Cíntia Ventura, meu amor! Você quer ser minha mulher? Quer se casar comigo?


Tempos Depois...


Lukas se olhou no espelho: o smoking caia perfeitamente, seu cabelo estava impecavelmente penteado.
Preso em sua perna, na altura da panturrilha e embaixo da calça, uma arma com silenciador.
Beijou Cíntia demoradamente e disse mais uma vez o quanto a amava.
Cíntia sorriu como sempre fazia e o lembrou do compromisso de domingo: uma reunião social na Mansão de Shirlock Holmes, a toda poderosa da FIAE.

-Você sabe o que ela quer dessa vez? Perguntei ao Luiz e nem ele soube me dizer exatamente do que se trata. –questionou Lukas a Cíntia.

-Eu não devia lhe dizer isso, pois sabe bem que nossa ética não permite troca de informações nem mesmo para outros membros da FIAE. Mas acho que esta será uma ação conjunta. Resumindo: lembra-se que logo depois de sairmos do Vingeance, Shirlock direcionou Shucker e Coppertone para uma investigação em Londres, sobre um determinado livro de uma biblioteca? Sei que tem a ver com ele e sobre um tesouro de valor incalculável que se encontra escondido em algum lugar do Reino Unido. O nome me foge agora, mas Shirlock foi contratada para levantar informações sobre a possível localização de um reino medieval. -disse Cíntia.

-Lothian! –disse Lukas –Andei lendo sobre a história do Reino. Shirlock sempre faz isso... Manda material aleatório sobre diversos assuntos... Li um livro sobre a história desse reino, mas achei que tudo não passava de uma lenda!

-Lukas, meu amor, uma coisa eu aprendi na FIAE: nem sempre é fácil diferenciar o que é real do que é lenda. Já vi tanta coisa vida, que nada mais me soa como estranho. Agora vá logo para esse compromisso... Luiz te espera e, apesar de aqui no Brasil ninguém respeitar horário, não seria de bom tom chegar atrasado para esse jantar. E, pelo visto, a missão de vocês dois por aqui deve estar no final, já que no domingo, vamos conhecer os detalhes do Projeto Lothian. –concluiu Cíntia.

Lukas deu mais um beijo em Cíntia e saiu porta afora.
O clima da noite era perfeito e sua vida agora fazia sentido: tinha uma esposa, um trabalho que o motivava, se sentia bem com sua identidade.
Era isso.
Lukas Bittencurt encontrou a palavra: FELICIDADE.
Tinha um objetivo na vida.
Lukas Bittencourt agora era um homem feliz de verdade.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Longitudes e Latitudes

Ao sair do quarto de Cíntia, Luiz caminhou lentamente pelos corredores do navio, tinha algo para ser resolvido antes de sair dessa Teia. Foi quando viu Uriel saindo transtornado de um dos salões, parecia estar em transe e sequer notou a presença do agente da FIAE a poucos metros.
Luiz continuou caminhando calmamente até chegar em frente à sala de monitoramento de Ranald, encostou-se ao batente e esperou até que o todo poderoso Aranha erguesse a cabeça e pela expressão de raiva presente nos olhos daquele homem frio e calculista a conversa com Uriel, havia ultrapassado todos os limites permitidos entre pai e filho.

- O que faz aqui? - vociferou o Aranha.
- Admirando a imagem de um homem naufragado em sua ambição! Valeu a pena?
- Sempre vale a pena, meu caro, sempre!
- Que bom que ainda pensa dessa forma, não terei tantos problemas nessa nossa ultima conversa.
- O que pretende? Vai arrancar o meu couro ou destrinchar esse corpo que levei anos para modelar?
- Meus golpes são menos selvagens, se não percebeu, prefiro a sutileza da vida.
- Claro, como fraudar relatórios de vendas, balancetes de compras....e tal.
- Sim, detesto sangue, brutalidade...O homem evoluiu, se bem que somente alguns souberam aproveitar, outros preferem continuar na pré-história.
Luiz quase se arrependeu de dizer a ultima frase, o olhar de Ranald cortou como laser.
- Ranald, você é um homem prático, portanto vamos ao que interessa. – esticou a mão entregando a caixinha frutacor que havia recebido de Shirlock – dentro dessa caixa está um dos chips que você tem buscado freneticamente mundo afora.
- Pode explicar o motivo dessa palhaçada?
- Simples, há muitos anos que um dos chips esta em poder da FIAE, agencia para qual eu e Lukas trabalhamos. Soubemos da localização do segundo chip, quando fomos contatados para investigar suas transações e como dinheiro nunca foi problema para você resolvemos, ajudar!
- Me roubando?
- Não, despistando as autoridades russas! Como você sabe, o pessoal ligado ao antigo Kremlin estava preste a pegar o chip com Paulo. A FIAE entrou em ação, por acreditarmos que você fará um estrago menor na vida das pessoas, do que nossos amigos lá de cima, por isso nos aproximamos de Paulo e nos infiltramos na sua organização, os desfalques foram necessários para não levantar suspeitas, sabíamos da sua ânsia pelo poder e mania tecnológica, portanto foi previsível sua atitude e o cruzeiro.
- Por ser um homem prático, vamos ao que interessa, o que quer em troca?
- Nada demais, apenas alguns cifrões e o bilhete carimbado e rotulado para sair desse navio.
- Como saberei que esse chip é o verdadeiro? Cadê o outro chip? Quanto custará?
- Terá que acreditar na minha palavra.
- Ela não vale grande coisa
- Pode ser que sim, como pode ser que não! Para ter certeza se o chip é verdadeiro terá que aciona-lo dentro da Latitude 42°42'14.4"N - Longitude 27°42'46.8. Você receberá a localização do segundo chip assim que eu, Lukas e Cíntia estivermos fora daqui e a quantia anotada na tampa dessa caixa, for transferida para a conta bancaria informada logo abaixo. Por hora, posso afirmar que o segundo chip sempre esteve dentro desse navio.
Os olhos de Ranald brilharam de prazer, era como atingir o êxtase de forma sublime. Virou-se para um dos computadores abriu a tela de um banco na Suíça e transferiu a soma anotada. Se para encontrar Atlantida tivesse que abrir mão de parte de sua fortuna pessoal, faria, afinal como disse Gabriel, ele não tinha herdeiros.
- Assim que estivermos em terra firme, passarei a localização do segundo chip. Adeus Ranald e obrigado por nos propiciar dias tão maravilhosos em seu navio!
Luiz saiu sem esperar resposta do comandante dessa teia digital. Encontrou com Cíntia e Lukas no meio do caminho e de lá seguiram direto para a lancha da FIAE.
- Deu certo? – Indagou Shirlok assim que Luiz embarcou
- Sim, conforme o planejado.
- O que foi planejado? Luiz o que você aprontou? – Cíntia e Lukas pareciam apreensivos.
- Nada demais, apenas entreguei o chip ao Ranald.
- Você ficou maluco? Depois de tudo que passamos? – Lukas estava transtornado, enquanto Cíntia ria – O que deu em você, pare de rir!
- Lukas, acalme-se o chip está comigo! – O rapaz estava confuso
- Arriegua, tenho que explicar tudo mesmo, vote!- enquanto a lancha da FIAE se afastava do Vingance, a chefe da FIAE explicava os últimos acontecimentos - Ranald sempre buscou os chips com a certeza de que eles o levariam a localização da cidade perdida de Atlântida, ele sempre almejou essa descoberta. Luiz entregou um chip falso, assim como a coordenada falsa. Se Ranald chegar perto dessa localização será preso pelo governo Búlgaro por desvio de dinheiro e assassinato de um comprador anos atrás. Demos a Ranald a chance de escolher seu fim. A única mudança é que seremos bem recompensados por ele. Cintioca preciso que monitore a transferência bancaria e apague qualquer vestígio de que esse dinheiro veio parar em nossas mãos. A propósito, gostaria de fazer parte da nossa organização? Agora teremos dinheiro suficiente para investigar e desbancar homens como Ranald!
- Mas é possivel localizar Atlantida, ela existe? - Lukas parecia confuso com tantas informações.
- Etâ menino, só uma mente pertubada como a de Ranald para acreditar em história da Carochinha!


A saída da lancha foi tranqüila, os agentes da FIAE viram o Vingance ir sumindo no meio do mar.
- O que acontecerá com os demais tripulantes do navio?
- Todos tem um motivo para estar lá, não nos cabe interferir, nosso objetivo é fazer com que Ranald seja preso e julgado por seus atos ilícitos e na Bulgária ele não terá chance de escapar. Todos olharam com certa melancolia para o vulto do navio.


Tempos depois.....

- Amor, temos que partir, mesmo?
- Clarooo, pensou que viveria o resto da vida bebendo tequila, na Polinésia Francesa? Tá na hora de trabalhar, dinheiro não cai do céu, mon amour!
- Que mal há nisso Shi? – Luiz parecia uma criança birrenta - O que mais quer da vida? Tem um marido lindo e gostoso como eu, dinheiro que não acaba mais, vista maravilhosa todos os dias e tequilas perfeitas.
- Vixi que o sol tá derretendo seus miolos, homem! Desde quando fui mulher de viver nesse marasmo sem fim? Bôra, voltar para o Brasil e começar a investigar aquele homem que te falei ontem, ele anda aprontando demais e o povo do BOPE não agüenta mais limpar as ruas ensangüentadas com corpos de jovens.

Luiz sabia que nenhum argumento demoveria Shirlock, aquela mulher era pequena de estatura, mas tinha uma coragem gigantesca e ele era capaz de tudo para vê-la feliz.
- Você tem razão, entrarei em contato com Lukas e Cíntia, está na hora de terminar a lua de mel daqueles dois.
Luiz abraçou sua amada com carinho, pegou-a no colo e disse:
- Já que essa será nossa ultima noite nesse paraíso, vamos fazer jus a vista belíssima desse por do sol, mas lá de dentro do bangalô.
- Etâ homem insaciável! - enquanto erguia o pescoço para beijar seu marido.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Toda a Maldade do mundo...

Uriel olhava para o monitor à sua frente, na sala do servidor do navio, e começou a martelar o teclado. Códigos fontes, linhas de comando, sua raiva transpirava nos dedos. Este sistema era tão familiar, tão simples, mas ao mesmo tempo, era como um quebra-cabeça. Foi quando Rachel entrou na sala, e aproximou-se, abraçando Uriel por trás.

_ Conseguiu mais alguma coisa?

_Consegui, mas tantas coisas me preocupam... consegui reaver as câmeras, e perceber que a âncora está mais elevada, mas há um bug que impede o sistema de resgatar a âncora.

Rachel olhou para o hacker, admirando os músculos do rapaz...

_ Você está muito tenso, Uriel, muito... vai acabar passando mal. Você precisa relaxar...

Rachel encarou o olhar azul do rapaz, segurou seu rosto e beijou-o tenramente, sentando em seu colo. Uriel abraçou o corpo quente da mulher, beijando-a com ardor e sofreguidão. Suas mãos deslizavam agora sobre a blusa da moça, a pele sensível...

Logo, o clima sensual encheu a sala, os gestos substituíram as palavras, as respirações tornaram-se mais ofegantes, os corações batendo mais intensamente, as mãos exploravam cada centímetro...
As mãos de Uriel ultrapassaram as barreiras das roupas, e desvendavam Rachel, como que explorando novos rumos, novas sensações... Rachel arfava suspirante no ouvido de Uriel...

_ Você me deixa louca... você me desnorteia...

E os beijos se tornaram mais ardentes, e os corpos aqueciam-se...

_ Ai... você... você me enlouquece!... Ai... Henrique...

Uriel parou de súbito, recolheu suas mãos e olhou friamente para Rachel, que parecia paralisada.

Henrique?!_... HENRIQUE_ ?!

Uriel empurrou Rachel, afastando-a de seu corpo... Rachel parecia atônita.

_Uriel, desculpe, eu... ato falho...

Uriel subitamente entendeu claramente o que passava. Como se tudo se encaixasse repentinamente. Tudo se tornava muito claro...
Como não pensara nisso antes? Como não percebera que era apenas uma marionete no plano de vingança de Rachel?...
Uriel levantou-se, e andou pela sala, a cabeça encaixando fatos, frases soltas, ações, intuições e olhares.
Rachel agora o olhava enigmaticamente.

_Uriel, eu queria explicar... eu...

Neste momento, Uriel deu uma gargalhada. A situação era tão absurda, tão surreal... ele ria, e uma constrangida Rachel tentava explicar-se.

_ Não precisa explicar, Rachel, Não precisa falar nada! Já entendi tudo...

_ Mas... eu...

_ Não diga mais nada, Rachel... nada!

Sua vontade era de gargalhar

_ Rachel, você me usou e eu TE USEI. Simples assim, você me usou e eu te usei... digamos que estamos quites...

Rachel assumiu um ar gélido, enquanto ajeitava sua roupa.

A situação era digna de risos, Rachel no entanto, não sentia vontade de rir, pois sentiu que fechara um caminho, fizera uma escolha, matando algo que nem começara. Tentou reunir sua dignidade, e sair o mais rápido possível, sem mais falar. Existem verdades que são muito mais inteligíveis com o silêncio.

Ela saiu, sem dizer mais nada. Uriel olhou para os monitores, andou de um lado para outro, buscava o entendimento de tudo o que ocorrera. Mais uma vez deixara sua carência afetá-lo. Mulheres já havia tido muitas, mas sempre tinha a esperança de encontrar a que pudesse entendê-lo.
Socou a parede com raiva de si mesmo. Sentou-se e voltou a teclar. Passaram-se vários minutos, entre códigos, comandos, ajustes, tudo para esquecer Rachel e manter a mente ocupada. O tempo passava, e o trabalho avançava.

Minutos mais tarde, recuperou parte do sistema de câmeras, e teve acesso a imagens atuais. Várias câmeras haviam sido destruídas, mas algumas voltaram a funcionar. Conseguira recolher a âncora.
Procurou nas câmeras o que queria, até que viu Téca, saindo de uma parede de espelhos.

“Bingo!”

Momentos depois, Uriel estava frente a frente com a parede falsa, sentindo o coração apertar-lhe na garganta. Procurava alguma forma de entrar, mas não havia nada no salão deserto. Afastou-se, ergueu uma cadeira e arremesou-a contra a parede falsa. O espelho ruiu com um estrondo, estilhaçando-o em uma chuva de reflexos. Atrás dele, uma porta com fechadura digital. Uriel sacou a arma e atirou no comando da fechadura, que explodiu em curto. Ele dirigiu-se até a porta, guardando a arma na cintura, e com toda sua força ergueu a porta, que parecia inerte, mas ao chegar na metade, a porta se recolheu.

Ele entrou na sala secreta, ao som de palmas debochadas, espaçadas de Ranald, que sentado em sua cadeira, aplaudia com cara de descontentamento.

_SEU CANALHA! DESGRAÇADO!

_Gabriel, mantenha-se calmo. Seu destempero sempre foi seu maior defeito. Vamos conversar.

_ O que EU tenho a conversar com VOCÊ? Quem é você para achar que pode conversar comigo?... Seu desgraçado, você me pôs neste cruzeiro! VELHO DESGRAÇADO!

_Sim, eu o coloquei aqui. Eu te monitorava sempre, meus homens te seguiram até o encontro com a safada da Rachel, que estava prestes a embarcar... um dardo soporífero resolveu o resto. Como vê, eu controlo você, e você não vai fazer nada... porque sua mãe está sob meus cuidados... e coitadinha da velha Ana... pode ter algum mal súbito.

Uriel sentia a tensão e a adrenalina agindo em cada músculo de seu corpo, sentia o ar faltar, os punhos crispavam-se, Uriel avançou para o pai, mas sabia do que o pai era capaz.

_ Seu desgraçado! Você nunca prestou! EU ODEIO VOCÊ!

_Isso é tremendamente cansativo, Gabriel... esse seu jeitinho aventureiro, esse seu jeito despreocupado com a vida... desprezo por dinheiro...sua fraqueza... você nunca honrou com o meu dinheiro! Era um filhinho de mamãe, mimado, fraco como sua mãe, a defensora dos fracos e oprimidos!...

_ E você sempre foi o crápula, o manipulador... o sujo... o ASSASSINO...o louco! Eu sempre te odiei!

_ Odiou mas comia com o MEU dinheiro, estudou com o MEU dinheiro, comprava suas roupas surradas com o MEU dinheiro! Você nunca soube dar valor a tudo que fiz para aumentar o império que um dia seria seu! Mas você é fraco, Gabriel! ...muito fraco!


Uriel sentia um desprezo imenso por aquele homem, mas todos os sentidos lhe diziam que sua mãe corria perigo.

_ Eu nunca quis seu dinheiro! Você abandonou a mim e a minha mãe em vida!!! Você sabe o que é perder uma pessoa? Você sabe o que é ser órfão de um pai ausente? Você sabe o que é ser DESPREZADO por seu próprio pai? VOCÊ NÃO TEM IDÉIA DO QUANTO EU SOFRIA... Você não tem idéia do que é o DESAMOR, a indiferença... eu SOFRIA MUITO...

_ Sofria? Num mundo de luxo? Muito cômodo... Você nunca soube o que era construir um império para um nerd e uma louca..

_NÃO FALE ASSIM DA MINHA MÃE, SEU FILHO DA PUTA!!!!!

_ Ohhhhhhhh a “mamãe”... claro... eu querendo levar você para o meu mundo e você no mundo politicamente correto de sua mãe...

_ Um mundo melhor que a podridão que você vive!!!! Chegando ao cúmulo de armar esse cruzeiro de vinganças. Não era para eu estar aqui! VOCÊ É DOENTE!!!!

_ Não se menospreze, Gabriel! VOCÊ ajudou muito, e foi MUITO ÚTIL para este cruzeiro!!! Muito útil, diria até que foi o responsável!

_ VOCÊ ESTÁ LOUCO! EU NÃO SABIA DE NADA DISSO!

_ Ah, é... esqueci que você é um “anjo”... o anjo URIEL, um hacker que destrói sistemas de segurança... um hacker que foi contactado por Rachel Macciotti, ou “ANA”, não era assim que aquela vagabunda aparecia na Internet?

_ Como VOCÊ sabe disso?!

_Ora...ora... Rachel estava me traindo... um hacker entra em contato com ela, muito prático, não? Ela lhe fornece informações, que eu ainda não sei para o que servem... mas, acredite... VOU SABER... e foi muito fácil arranjar gente para monitorar as conversas de vocês, e saber que ela te passou códigos. PARA QUE VOCÊ QUERIA OS CÓDIGOS?


Uriel estava transtornado. Andava de um lado por outro como um animal feroz pego em uma armadilha... e sem poder destroçar a garganta daquele homem.

_ URIEL, o hacker... há cerca de três meses você foi contactado por um de meus homens, que lhe contratou para montar o sistema de alta-segurança de um clube... um sistema de vigilância com alto grau de segurança, com câmeras, microfones, e controle total de outros softwares... não lhe parece similar, Uriel?
Realmente, Uriel fizera um sistema, na verdade um projeto, apenas, pois não chegara a ir ao tal clube, com todos os requisitos parecidos com o sistema do Vingeance, daí sua facilidade de invadir o sistema do navio.

_ O CLUBE! O NAVIO ERA O CLUBE!

_ Viu só? Você criou um excelente sistema para minha teia... daí, botar os merdas que tentaram voltar-se contra mim, foi muito fácil... mas o sistema principal é seu. Você assinou sua sentença ao tentar invadir e controlar o navio... posso explodir este navio, Gabriel, posso destruir você e essa cambada. E posso ainda controlar vocês, com sua ajuda.... afinal você bloqueou os celulares, você enviou códigos falsos para o navio, você ajudou a tecer a minha teia!


Uriel agora estava mais revoltado e enojado do que nunca, sentia o coração disparado, um véu vermelho cobria sua visão, mas seu lado racional sabia que se matasse o pai, sua mãe correria perigo.

_ EU DEVERIA MATAR VOCÊ, DESGRAÇADO!

_ Matar? Ora, ora... acho que você é fraco demais para isso... você é tão inocente, tão ingênuo... nem percebeu que Rachel o usou... e não vai me matar não... se tocar em mim, Ana vai MORRER.

Uriel era puro ódio, sem pensar, sacou o revólver e apontava para a testa de Ranald, que agora parecia assustado.

_ SEU DESGRAÇADO! VOCÊ MERECE MORRER! USANDO AS PESSOAS, DESTRUINDO A MENTE DA MINHA MÃE, DESTRUIU A MINHA INFÂNCIA, DESTRUIU TUDO O QUE EU TINHA! VOCÊ DESTRUIU TUDO, TUDO... COM SEU MALDITO DINHEIRO, RANALD! MALDITO DINHEIRO, QUE ENQUANTO VOCE BRINCAVA DE CONTROLAR ESTE NAVIO, NEM VIU ESCORRER DE SUAS MÃOS EM MEROS OITO SEGUNDOS!

Agora Ranald estava surpreso e furioso, então esse era o motivo de Uriel precisar dos códigos das empresas! Seus capangas não chegaram a descobrir qual o motivo de Rachel ter entregado informações para Uriel... Ranald estva surpreso... o BANCO!

O “nerd” do seu filho renegado havia recebido informações de segurança do banco! O idiota romântico e correto OUSARA roubar o seu dinheiro!

_ Pois é, “papai”... 34 milhões de dólares escoaram de sua conta e foram parar muito longe, de forma muito segura, muito além de seu controle, para contas numeradas em qualquer país do mundo! OLHA QUE COISA!!!!

Ranald estava boquiaberto. Não fora avisado pela administração de nenhuma irregularidade. Ele não sabia que milhares de clientes agora percebiam, ainda aos poucos, que foram roubados em centavos, e se dirigiam às agências para reclamar e exigir o estorno.

_ SEU FILHO DA PUTA! EU TINHA CERTEZA QUE VOCÊ ERA UM MERDA, GABRIEL!

_ UM MERDA QUE DESTRUIRÁ O SEU PRECIOSO DINHEIRO... ESSE MALDITO DINHEIRO QUE DESTRUIU A MINHA VIDA E DESTRUIU MINHA MÃE!


As lágrimas de ódio brotavam de seus olhos, a arma em riste, pronta para encerrar a carreira de crimes de Ranald, o ARANHA.

Ranald estava assustado, mas a hipótese de seu dinheiro estar nas mãos de outra pessoa lhe incomodava demais

_Você me traiu, Gabriel. Sua Mãe vai PAGAR POR ISSO!

_ NÃO FALA DA MINHA MÃE, SEU DESGRAÇADO, NÃO FALA!


Uriel estava transtornado, nada mais importava, nada mais pesava, só o dedo no gatilho da pistola destravada. Aquele homem roubara tudo, roubara sua felicidade, roubara sua mãe, sua família, seu bem estar. Roubara agora sua liberdade... tudo isso lhe pesava no gatilho, a tensão no ar era quase palpável...

_ Gabriel, abaixe esta arma, você não vai atirar em mim. – Ranald tentava recuperar a calma.

_ NÃO ME CHAME DE GABRIEL! GABRIEL MORREU! MORREU QUANDO O MEU PAI MORREU PARA MIM! ... GABRIEL MORREU QUANDO MINHA MÃE FOI AFASTADA DE MIM... GABRIEL MORREU E FOI SUBSTITUÍDO POR DINHEIRO!... GABRIEL ESTAVA MORTO QUANDO EU FUI ATÉ A MERDA DOS EXPLOSIVOS E OS JOGUEI NO MAR!... URIEL É O MEU NOME!

Ranald agora estava nitidamente assustado com o imenso descontrole de Uriel. O cruzeiro estava fora de seu controle... o dinheiro... os explosivos... tinha ódio mortal desta criatura que um dia fora seu filho.

_ Uriel, abaixe esta arma, você vai se tornar igual a mim, se atirar... você vai ser igual a mim.

Neste momento, o ódio de Uriel explodiu. Não havia mais razão para aturar aquilo. Não havia mais bombas, não lhe importava o que Ranald poderia fazer.

Ranald sentia o ódio explodir em seu coração. Temia o descontrole do hacker, mas sabia que deveria assumir o controle da situação

_VOCÊ NÃO VAI ATIRAR, GABRIEL, NÃO VAI!

Uriel fora tomado pelo ódio. Mal conseguia ouvir o que Ranald falava. A arma oscilava em suas mãos suadas, a respiração ofegante, o suor na fronte, o véu vermelho sobre sua visão, sangue... o sangue...

_GABRIEL, EU SOU SEU PAI!

Nesse momento, os músculos da mão de Uriel se contraíram, e o gatilho detonou a pólvora da bala na agulha, o tiro saiu abafado, a bala transcorreu o percusso no ar, mas para Uriel, tudo parecia em câmera-lenta. Aquele homem, o ódio que lhe despertava, sua mãe, o pai que nunca fora presente, a armação do Vingeance, as bombas, a lancha, Rachel... o baile à fantasia, o celular, o código... a dor na cabeça, o sexo com Rachel... Vila Nova sendo ressuscitado... o imenso nojo que sentia daquele homem... Lembrou de sua mãe, calada e silenciosa, caminhando triste pelos corredores, lembrou dos jantares, onde ela sempre exigira que fosse preparado o lugar de Ranald, e sofria com aquele vazio. As primeiras crises de ausência, a depressão, as amantes... todos estes fatos agora se tornaram chumbo, e alimentaram a bala de arma de Uriel.

A bala percorreu o ar, e atingiu o monitor atrás da cabeça de Ranald, estilhaçando-o.
Ranald, incrédulo, olhava para o monitor atrás de si, a bala passara propositalmente a centímetros de sua cabeça... sentiu a urina escorrer por suas pernas, nunca imaginara que seu filho fraco, nerd, panaca, possuísse tanto ódio. Ranald tirou os olhos do monitor destruído e olhou para Uriel, que respirava arfando, ainda segurando a arma fumegante.

E a voz de Uriel saiu cavernosa, baixa e firme

_ Eu não sou IGUAL a você... e você nunca mais diga eu é meu pai... EU ME CHAMO URIEL!

E guardando a arma na cintura, Uriel deixou a sala, ainda descontrolado.

E não percebeu que Ranald, urinado, humilhado, atônito ainda olhava para ele surpreso e boquiaberto com sua ferocidade.

O Aranha agora era um homem amedrontado. Seu filho. A caixa de Pandora...
Ranald liberara o verdadeiro Uriel, e libertara toda a maldade do mundo. E isso lhe assustava...

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Infiltrados

– Você... Você... É você!!!

Lukas olhava incrédulo para seu chefe, agora finalmente com sua face revelada. Desde jovem sempre gostara de romances policiais, lendo desde Arthur Conan Doyle até Agatha Christie, a "Rainha do Crime". Por esse interesse todo, sempre acompanhara as páginas policiais dos jornais e, ao receber o convite para juntar-se à FIAE, não pensou duas vezes. Agora via-se frente a frente com uma lenda.

– Égua!!! Será que eu sempre tenho que fazer tudo sozinha??? Putitanga!!! Estou cercada de agentes incompetentes!!! – Dizia Shirlock Holmes, a pequena detetive, que apesar de seu tamanho, tinha muita firmeza na voz e mostrava ter total controle sobre a situação. Todos estavam atônitos. Shirlock Holmes era uma detetive que ficara conhecida mundialmente por sua brilhante atuação no "Caso Hans Schutz", quando salvou a vida de diversas pessoas e desbancou uma quadrilha internacional de tráfico de mulheres.

Na época ela era uma agente da Agência Brasileira de Inteligência, infiltrada na quadrilha e com a repercursão do caso, recebeu um convite para juntar-se à SIS da Inglaterra, o Serviço Secreto de Inteligência da coroa britânica (porém, sem licença para matar). Em muitos países a espionagem é crime punível até mesmo com prisão perpétua ou pena de morte, mas ainda assim, trata-se de uma atividade necessária e muitas vezes essencial para a resolução de crimes. Com base nisso, a agente Shirlock tinha contato com os mais diversos e melhores agentes especiais do mundo, então com apoio da própria SIS, retirou-se da agencia para criar a FIAE, com o objetivo de auxiliar informalmente a Interpol a solucionar crimes ao redor do mundo através da espionagem.

– Acho que agora finalmente estou entendendo para quê servia aquele software que você pediu para eu desenvolver. Estou vendo que nenhum de seus agentes sabia da sua verdadeira identidade. Era para modificar a sua voz e a sua aparência. – Cintia sentou-se na cama com a mão apoiada no quexo e soltando um meio-sorriso enquanto olhava para os quatro agentes que não diziam uma só palavra. – Achei que você era simplesmente mais uma daquelas pessoas que gosta de se apresentar para os outros por internet com uma aparência totalmente distinta da realidade.

– Elementar, minha cara Cintioca. Eu não podia revelar minha identidade a eles, como sabe. Manter o suspense ajuda a deixar as coisas muuuuuuuuuito mais interessantes, vai vendo!
– E, além do mais, era divertido ouvir as conversas dos meninos sem eles saberem que eu era mulher.

Agora acho que era bom explicar direitinho para nós por que nos colocou neste navio com esse maluco. Eu pelo menos, nunca tive nenhum contato com a FIAE ou qualquer agencia de espiões. Por que eu? – Perguntou Cíntia.

Quando optei por enviar o Lukas e o Luiz Shummy-Shu nesta missão, eu não podia passar a eles quase nenhuma informação. Temia que eles não conseguissem recuperar o chip. Por sorte, tu é a rainha-das-companhias-erradas-e-afins, então sua ligação com Rachel e o roubo a Ranald comprou teu tíquete só de ida para este maravilhooooooso cruzeiro. Teu passado com Lukas me deu a certeza de que cedo ou tarde ele chegaria até ti e seria então só uma questão de tempo até que conseguissem obter o chip. Gente, me arrepiei todinha... eu sou um gênio, não sou?

Tá, você já explicou como colocou a Cíntia no navio; o Luiz sei que veio parar aqui porque já estava roubando Ranald faz tempo e por ter dado um pé na bunda de Charlotte, mas e quanto a mim? E o Fernando que está atrás de mim querendo vingança? Como ele veio parar no navio? – Lukas sabia que eram informações demais e havia muito mais por revelar.

Ai povo, quantas perguntas! Vôte! Como lhe disse anteriormente, Paulo deu um jeito de colocar vocês aqui dentro. Ao contratarmos você, Lukas, já sabíamos de teu passado com a Guerreiros do Fogo e dos riscos que corríamos. E, para nossa sorte ou azar, Ranald é um dos manda-chuvas da Guerreiros de Fogo e mentor de Fernando. Todas as peças se encaixam, vai vendo. Sei também que esse é um passado que vocês desejam enterrar, por isso trouxe isto para vocês. – E estendeu as mãos tendo uma arma em cada uma. Luiz e Lukas pegaram uma arma cada um e guardaram em seus cintos.

– Isto lhes ajudará a sair do navio. Aqui está também a oportunidade de darem um fim a teus passados negros. A decisão é de vocês. Peguem suas coisas... encontro os três em uma hora na lancha que está atracada na popa do navio. E levem o chip com vocês, visse? – Então Shirlock retirou-se da cabine, junto com os agentes trapalhões, mas não sem antes dar uma piscadela para Luiz, e entregar-lhe uma caixinha fechada por um belo laço frutacor, quase nada espalhafatoso, deixando-o ruborizado.

– Bom, agora que chegou a cavalaria, acho que estamos salvos. – Luiz ria com a satisfação de ter cumprido mais uma missão com sucesso, visivelmente tentando esconder seu acanhamento com a atitude da chefe da FIAE. – Você está com o chip, não é Cíntia?

Estou sim, Luiz, mas não confio nesses dois agentes amigos de vocês, algo neles não me cheira bem e não é falta de banho.

Resolvemos esse problema depois, eles realmente são dois atrapalhados. No momento, o importante é darmos o fora daqui o mais rápido possível. Mas não sem antes resolvermos um assunto pendente. – Disse Luiz olhando para a arma e logo em seguida para Lukas, que acenou com a cabeça concordando com o amigo. Finalmente tinham conseguido virar a mesa e, estando em posse do chip, sabiam que ganhariam milhões ao entregá-lo para as autoridades. Era tudo uma questão de tempo.

– Entendo, mas... Luiz, poderia me dar uns instantes? Preciso falar com o Lukas a sós, é importante... – Cíntia estava com o semblante preocupado.

– Está bem, vou deixar os pombinhos a sós. Quando terminarem, passem lá no meu quarto, que estarei aguardando.

*********

Fernando acordou sozinho no banheiro. Seus pensamentos estavam nebulosos ainda, não lembrava-se muito bem do que havia acontecido, sentia uma forte dor de cabeça e seus pulsos ardiam. Recostou-se então em uma das paredes e aos poucos as coisas foram ficando mais claras. Lembrou-se do ataque de Lukas e Luiz a ele e Charlotte, depois tudo escureceu.

A cada nova lembrança, o ódio em seu coração se fortalecia. Lembrava-se de toda a dor, de todo o sofrimento, de tudo que passara por causa de Lukas. Lembrava-se de seu tutor na Guerreiros de Fogo: Ranald; da forma como ele lhe contara que Lukas se divertira e se engrandecera por ter “aniquilado” um inimigo... Após o acidente, Ranald escondeu de todos que ele conseguira sobreviver, empregando-o em uma filial de suas empresas em Madrid. E agora, seu mentor lhe dera a oportunidade de se vingar e encontrar sua paz.

Desejava destruir Lukas, da forma mais dolorosa possível, então juntando toda a força desse turbilhão de sentimentos, Fernando se levantou, ainda um pouco cambaleante, e atirou-se contra a porta do banheiro, destruindo-a e se libertando.

– Lukas, você me paga... – murmurou com os olhos injetados de fúria.

*********

Cíntia acompanhou Luiz até a porta e fechou assim que o rapaz saiu. Por alguns instantes permaneceu parada na porta, com a mão apoiada no batente e de cabeça baixa. Respirou fundo e virou-se indo em direção a Lukas. Pegou as mãos de seu amado e sentou-se na cama, conduzindo-o a fazer o mesmo. Lukas já estava começando a ficar preocupado, até que, depois de uma pausa, Cíntia começou a falar.

– Lukas, sabe como é difícil para mim, mas queria te pedir desculpas... Esses anos todos fui muito injusta com você. Eu não deveria ter ignorado suas tentativas de falar comigo. – uma lágrima rolou pelo seu rosto – Caso algo aconteça comigo, queria tr certeza de dizer-lhe que, por mais que tenha lutado todos esses anos contra meus sentimentos, ainda assim amo você.

Sem dizer uma só palavra, Lukas abraçou Cíntia com ternura e deu-lhe um longo beijo apaixonado. Sentia-se confortado ao sentir sua amada em seus braços. Era uma sensação de paz muito grande, algo que não sentia há tempos. Delicadamente segurou o rosto de Cíntia com as mãos e olhando fundo em seus olhos, disse com convicção:

– Também errei em lhe julgar mal, Cíntia. Nada vai lhe acontecer, prometo isso a você. Vamos sair dessa juntos e reconstruir nossa vida. E dessa vez, nem boato nem intriga nenhuma vai nos seprar. Tem a minha palavra.

Com um sorriso no rosto, Cíntia retribuiu o beijo e assim o casal permaneceu por algum tempo. Lembraram então que tinham que sair logo do navio, pois Shirlock os esperava na lancha. Rapidamente deixaram o quarto, pois como a bomba já não os ameaçava, não temiam mais serem vistos pelo sistema de vigilância de Ranald e foram encontrar Luiz. Essa despreocupação foi seu grande erro.

Lukas avistou Luiz no corredor do navio e correu até ele, porém Cíntia tropeçou e caiu no chão, ficando para trás. Então Lukas viu o semblante de Luiz mudar rapidamente. Seu rosto ficou pálido, como se visse uma assombração. Então ouvir Cíntia gritar. Ao virar para trás viu Fernando, agarrando a garota com uma espada nas mãos. O bandido posicionou a lâmina sobre o rosto de Cíntia assim que conseguiu a atenção de Lukas.

– Ora, ora, Lukas Bittencourt, veja o que tenho aqui. Estava pensando em dar à sua namoradinha um presente como o que você me deu, o que acha?

– Fernando, seu maldito! É a mim que você quer, largue ela! – Lukas estava transtornado. Passara anos de sua vida culpando-se por matar Fernando, mas agora aquele homem ressurgia com sede de vingança, ameaçando a única coisa valiosa de sua vida. – Largue a Cíntia agora!

Com um empurrão, Fernando livrou-se de Cíntia, que foi amparada por Luiz e a seguir, pegou uma segunda espada que estava presa a seu cinto, jogando-a para Lukas, que, com habilidade pegou-a ainda no ar. Era assim que as disputas eram resolvidas na Guerreiros do Fogo.

Antes de começar o duelo, Lukas pegou a arma que lhe fora dada por Shirlock e colocou-a no chão, chutando-a para longe. Posicionou-se em guarda e esperou pelo primeiro ataque de seu oponente. Fernando atacava Lukas com fúria, forçando Lukas a recuar para aparar os golpes, cada vez mais fortes e rápidos. Fernando havia treinado esse tempo todo na esperança de derrotar Lukas e este embate estava exigindo todo o conhecimento de Lukas na arte da esgrima.

Por mais que se arrependesse do sofrimento que havia causado a Fernando, Lukas via que se não reagisse, a luta não iria acabar nunca. Então juntou todas as suas forças em uma investida contra seu oponente, golpeando-o com rapidez e técnica impressionantes. Fernando por sua vez, defendia-se habilmente.

A adrenalina fazia com que nenhum dos dois sentisse a dor causada por tamanho esforço, porém após algum tempo, com um golpe certeiro, Lukas conseguiu tirar a espada da mão de Fernando, que desequilibrou-se e caiu no chão.

– Chega, Fernando! Já lhe disse que nunca quis te ferir dessa forma! Não vê que essa sua vingança é sem sentido? – Lukas sabia que Fernando não ouviria uma palavra do que ele dizia, mas precisava ter sua consciência limpa.

– Você destruiu minha vida, seu desgraçado! – gritou Fernando, que com um só golpe, pegou a arma que estava caida no chão e apontou para Lukas.

– NÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!! – Gritou Cíntia e em seguida um tiro foi disparado.

Por alguns instantes, o silêncio pairou no ar. Então Lukas virou-se em direção a sua amada, a tempo de vê-la com a arma de Luiz em suas mãos trêmulas. O cano da arma ainda fumegava quando Lukas dirigiu-se a passos lentos em direção a Cíntia, caindo de joelhos no chão próximo a ela, que chorava compulsivamente. Com delicadeza, retirou a arma das mãos da garota e a entregou para Luiz.

Fernando finalmente estava morto.

– Chega... vamos dar o fora daqui! – Bradou Lukas enquanto ajudava Cíntia a se levantar.