quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Nitroglicerina PURA!

_Agora, vamos ouvir o Uriel. Tão bem vestido sempre, com roupas e sapatos finos. Diga-nos o que lhe trouxe ao navio???

Triste. Assim se sentia Uriel, enquanto todos o olhavam, aguardando a resposta à pergunta inquisitora de Rachel. Podia sentir os olhos daquela mulher lhe fuzilando, acusando-o diretamente. Os outros aguardavam em profundo silêncio.

Era chegada a hora de tentar desarmar toda a armação que levou todos, de um modo ou de outro, a estar no Vingeance. Uriel sabia que tinha partes importantes daquele quebra-cabeça, sabia que por causa dele, o mentor de tudo poderia acabar com todos com um simples clique de um botão.

Rachel estava inflexível...

_ Estamos esperando, Uriel... Estamos esperando o senhor se pronunciar... pelo que sei, você usou códigos de segurança, construiu um vírus, e assaltou um banco!

Uriel surpreendeu-se com o ódio de Rachel. Aprendera a admirar “Ana”, e agora, frente a frente, essa lhe parecia impiedosa.

_ Só faltava essa, um cracker ladrão – disse Lukas.

_ EU NÃO SOU LADRÃO! NUNCA ROUBEI NADA!

Rachel parecia inabalável, Téca curiosa.

_ Eu entrei sim, no sistema do Banco, mas com motivos. Motivos muito fortes.

_ Ficar rico entre eles, não é, meu bem? – perguntou uma Téca debochada.

_ Eu sou tão vítima quanto vocês, eu vim ao cais encontrar a hacker que me ajudou a conseguir as senhas e os parâmetros necessários para arquitetar toda a quebra dos códigos do Banco. Nem sei como entrei no navio. Fui sedado, e pelo que sei, temos à bordo quase uma anestesista, não é, Teca?

_ Eu não tenho nada a ver com isso.

_ Eu peguei as senhas, criei um vírus, consegui acessar de uma cabine telefônica, e de lá, abri um back orifice de oito segundos, inserindo um programinha que retirou alguns centavos de todas as contas do banco. E você, Rachel, sabia que eu queria invadir ESSE banco. Você sabia que eu criaria algo assim, e ainda revelou meu segredo para Cíntia!

_ Eu não entendo ainda porque você parou aqui. Todos fomos convidados. E você acha que foi sedado, e apareceu aqui do nada – perguntou Lukas.

_ Tenho motivos! Eu parei aqui sim, mas eu fui obrigado, como vários de nós, a seguir ordens estritas, eu, diferente de vocês, recebi um celular via satélite, segui ordens para instalar uma antena bloqueadora no navio, e para ativar um misturador de freqüências. Recebia as ordens pelo telefone, que não faz nenhuma ligação para fora. Recebi um laptop e peças de computador.

_ Peças de computador?! Algum chip?! – Téca parecia interessada.

_ Não averigüei isso, ainda não havia sido informado sobre o que fazer. Eu deveria neutralizar Cíntia, e observar rigorosamente Lukas. Conheço Vila Nova e Rachel.

Uriel achou prudente não revelar a arma.

_ Na festa, me assustei com os fogos e tiros de festim, achei que estavam atirando em alguém, por isso me joguei no chão.

_ Mas por que você estava tão assustado? Por que você, que sequer foi convidado, apareceu, e se acha vítima, você obedece as ordens do “Aranha”, ou é o “Aranha”?- interrogou Cíntia.

_ EU NÃO ARMEI ESSE CRUZEIRO!... eu descobri uma série de bombas, e essas bombas estavam ativadas, mas ligadas à rede do navio. Eu e Rachel descobrimos um servidor, e conseguimos gravar alguns trechos das câmeras e repeti-los indefinidamente, temos algumas salas livres agora, e o convés. Desarmamos o circuito das bombas, mas sei que ainda corremos perigo, havia um guarda na sala que agora está desacordado.

Tentando convencer Rachel, Uriel tentava ser coerente:

_ Naquela noite, ao acordar, ouvi você discutindo. Reconheci a voz daquela mulher, eu tinha certeza que Lúcia iria matar você. Eu não poderia matá-la, porque o navio explodiria. Ela é o braço direito de quem eu acho que armou tudo isso. Por isso, ataquei você por trás, para salvá-la... era a única chance ao meu alcance, machucá-la para que Lúcia não desconfiasse de nada. – os olhos dele apresentavam um brilho misterioso.

Atônitos, todos olhavam para o hacker com ar de incredulidade.

Rachel avançou e cuspiu em Uriel, sendo contida por Lukas. O hacker secou a saliva da face, os olhos marejados... admirava tanto aquela mulher, antes como hacker, depois como mulher, agora ela lhe odiava.

_ VOCÊ TINHA OBRIGAÇÃO DE DIZER PARA TODOS! VOCÊ TINHA OBRIGAÇÃO ! – esbraveja a secretária.

_ Você iria ser morta. Essa gente mata sem escrúpulos. Essa gente destruiu minha família, e meu ódio por eles é maior que tudo isso, mas não posso matá-los. Nunca matei ninguém!

_ Como assim? Destruiu sua família?

_ Fui deserdado, fui humilhado, por não aceitar as negociatas e o modo de vida do meu pai. Vi meu pai ali, anos e anos, humilhando minha mãe, Ana, e quando briguei com ele e saí de casa, fui deserdado e proibido de ter acesso à minha mãe! MINHA MÃE! Eu não posso vê-la ou falar com ela. Ela vive em uma gaiola de ouro. Meu pai a MATOU EM VIDA, pois ela tem depressão e síndrome do pânico. Quando soube que meu pai trouxe duas amantes do exterior, ela tentou o suicídio e desde então vive em estado vegetativo. Essa vagabunda humilhou minha mãe, essa vagabunda está aqui e ia atacar Rachel.

_ Que história mais louca é essa Uriel? – Rachel começava a ficar intrigada.

_ É a história da minha vida. Meu pai sempre me quis ao lado dele, nas negociatas, roubando dinheiro de gente pobre, emprestando a juros exorbitantes, vivendo de destruir empresas, comprando suas ações e depois injetando dinheiro e vendê-las, deixando os donos na miséria! Sabem o que é isso? Um pai que não se digna a ser HONESTO? Um pai que aprisiona minha mãe, que me manda para Harvard, estudar fora, para poder ter todas as mulheres do mundo? Para ter todo o poder do mundo?...negociar com terroristas?

Estranhamente todos continuavam calados. A história era tão rica em detalhes, que parecia extremamente real. Uriel agora mantinha o semblante fechado, os olhos repletos de lágrimas, o pescoço parecia apertado, o ar não parecia descer, a voz saia com dificuldade.

_ O rumo do navio está sendo guiado através do laptop de meu quarto, eu acho que os dados criptografados são obra de um sádico... o nome deste navio... Vingeance... Vingança....
Aqui estão pessoas, que por um motivo ou por outro, fizeram algo que “Aranha” considerou mal.

_ Porque você roubou o banco? – perguntou Téca.

_ Por um simples motivo. O banco é do MEU PAI, se ele quebrar, desmonta uma enorme rede de corrupção e de lavagem de dinheiro... e não adiantava procurar a Imprensa ou o Governo... quando uma revista começou uma investigação, o banco comprou as ações, e desativou toda a redação, acabando com a editora, que passou a fabricar mapas.... mapas!!!!! Mapas com o mesmo logotipo da bandeira deste navio! Vingeance! Meu pai é dono deste navio. E ele é louco suficiente para matar a todos nós. E acho que as bombas podem ainda ser ativadas, de alguma outra forma.

Rachel começou a chorar, e Cíntia aproximou-se dela, também com os olhos repletos de lágrimas...

Foi de Rachel que veio a redenção

_ Essa história pode ser verdadeira, eu trabalhei com o pai de Uriel, eu sei quem ele é, mas não conhecia nem metade de seus negócios. Sei que é um homem sem escrúpulos.

_ Eu... eu ... não sabia que “Ana” era você Rachel. Pela Internet, achei que você era uma cracker que havia descoberto os segredos, que trabalhava sim, nas empresas, e que também queria se vingar de alguma coisa qualquer que meu pai tenha feito... que me entregou códigos numa boite há meses atrás... você estava maquiada, de peruca, em um local escuro...

_ Eu quis me vingar dele, sabia que ele tinha um filho, com o qual não tinha contato, apenas ele destruía toda e qualquer tentativa de você ser bem sucedido, Uriel. Tudo, até a loja de informática que você abriu foi à falência porque seu pai pagou propina a várias pessoas para te multarem, te boicotarem até você encerrar suas atividades. Daí descobri que você sabia informática.

Cíntia agora parecia entender a história. Téca tinha o olhar perdido.

_ Eu ajudei Rachel, achando que era para destruir o monstro que a iludiu. Eu ajudei.

_ Acredito que meu pai tenha nos colocado aqui porque descobriu de alguma forma, ou por alguém, que Rachel e Cíntia o estava traindo. Ele não perdoa isso, e eu senti que tudo fazia parte de um plano, quando vi o corpo de Paulo, um ex-sócio minoritário de meu pai. Paulo costumava ser honesto, e brigou com meu pai a algum tempo, eu li isso no jornal.

Lukas olhou para Rachel:

_ É querida, você sempre se metendo com os homens errados, pai e filho... aranha e aranhinha.

Uriel avançou em Lukas, mas Rachel e Cíntia impediram.

_ Não é hora disso, não é momento! Vamos montar o quebra-cabeças!

Uriel se recompôs.

_ A ironia toda desse cara me enoja!

Rachel olhou agora com carinho para Uriel.

_ Então essa é sua história. Eu conheço a mulher que me ameaçou. É a vagabunda que passou a namorar com meu ex-patrão e também ex-namorada de Vila Nova... você então é o único filho dele... mas seu nome era proibido nas empresas, ou mesmo pelos empregados.

_ Eu não sei quem é ela, ela me lembrou alguém de Harvard... _ Uriel continuou

_ Eu reneguei ao meu nome, ao dinheiro do safado do meu pai, e roubei o banco sim, pois ele teria que indenizar os correntistas pelos centavos, e milhares de dólares estão à salvo, porque nem mesmo você, “Ana” ou Rachel, ou mesmo Cíntia, tem a senha da conta bancária, eu alterei os programas e dados, e só eu sei. Este dinheiro vai fazer o banco desmoronar, e eu vou ter o que era de minha mãe por direito!

Todos estavam surpresos. Mas o desabafo de Uriel continuava.

_ Meu pai chegou a me sedar outra vez, para que eu transasse com uma mulher, e ela coletasse meu sêmem. Ele queria fazer de um neto, o que não conseguiu fazer com o filho... por isso rompi com ele, consegui destruir as amostras e reneguei o meu nome, rompendo definitivamente com ele. Ele jamais aceitou um filho aventureiro, despojado, criticava minhas roupas, minha forma de vida. Por isso me botou aqui com essas roupas de grifes. Pura ironia. Como as fantasias na festa.

_ Os dois Don Juans! - Exclamou Cíntia

_ E os dois presidiários... – Lukas parecia ter descoberto algo importante.

_ Tudo foi feito.

Rachel pareceu puxar pela memória.

_ Seu pai mandou fazer uma fantasia para ele,meses atrás, e eu achei estranhíssimo! Não havia Haloween, ou nenhuma festa... uma fantasia de MENDIGO!
!

Uriel surpreendeu-se. O Mendigo!

Lukas afinal perguntou:

_ Quem é você afinal?

Uriel olhou fundo nos olhos de Rachel, ali havia toda a sinceridade do mundo. Rachel mergulhara no azul daqueles olhos marejados e tristes.

Respirando fundo, Uriel terminou seu desabafo

_ Eu sou Gabriel Armond , filho renegado de Ranald Armond, dono do conglomerado ARMOND e sinceramente acho que um de nós ainda está ligado ao Aranha...- todos ali reunidos, trocaram olhares suspeitos, o clima de desconfiança pairava no ar...

Rachel agora olhava firme para Uriel, sem querer, Uriel participou da sua vingança! Ela sentia que fora filmada, por acaso e destino, em uma noite de amor com o filho de Ranald!

Isso era nitroglicerina PURA!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Cartas na Mesa

-Eu posso explicar...

- Não quero explicação alguma!!!- Rachel, dizia de forma alterada, mas contida. Não queria chamar mais atenção, desvencilhou-se da mão de Uriel e seguiu, antes disse disfarçando ter toda a calma do mundo.

-Tudo não passa de um jogo, Uriel. Sei muito bem que você tem que salvar o seu lado. Sem problemas. Foi ótima a noite, mas não passou disso, uma noitezinha de prazer como outra qualquer.

Seguiu em direção à sua cabine. Não queria que o homem atrás dela, visse as lágrimas que rolavam em seu rosto cansado, abatido e de repente, incrivelmente triste.

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Já na cabine, tomou um banho demorado, única mordomia que ainda não havia sido tirada no navio. Naquele momento, sua cabeça parecia um computador, em cada pasta armazenava informações adquiridas até o momento... num insithy, olhou para cima e começou a despejar toda a sua fúria:

- Ranald, que-ri-do!!! Sabia que você era excêntrico... rá, rá, rá... mas acho que exagerou, filhinho... um navio? Câmeras? Microfones? Mortes?

- Não precisava disso, não amor... o que são dois bilhões para quem tem tanto como você? O que é processo por roubo para quem tem os melhores advogados do universo?- deu mais uma gargalhada sonora e cínica- e que mau gosto, hein? Você já teve uma amante à altura quando estava comigo!!! Lúcia, nem que queira chega aos meus pés... acho que teve uma recordação disso quando me viu com Uriel, né? Ah, é claro que vocês assistiram tudo, não?

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- Meu Deus!!! O Aranha está conosco no navio então? Ou alguém mais está escondendo alguma coisa dos outros?

- É claro que o Aranha está conosco! Ele e sua turma! E é óbvio todos escondemos alguma coisa, Cíntia. –disse Rachel lhe entregando o laptop.- Eu, por exemplo, não contei a vocês, que fui amante de Ranald Armond, creio eu que todos aqui conhecem, e aquela programinha que você fez, me ajudou a incriminá-lo.

Ao ver os rostos assustados, Rachel prosseguiu:

- Além de você, Cíntia, conheço Vila Nova, que iria me ajudar publicando os podres de Ranald, que com certeza é o Aranha-mor. Uriel é um velho conhecido e Maria Teresa trabalhou para Ranald, ou seja, está claro que todos aqui enredados por alguma coisinha que fizemos, não é mesmo Téca?

- Acho que está na hora disso. De colocarmos os pontos nos "is"
- disse uma confiante Téca.

- Cartas na mesa. O jogo é marcado e essa máfia não está aqui a passeio, ele ou eles querem as nossas cabeças. As bombas mostraram que eles são profissionais e não têm nada a perder ao acabarem com nossas vidas. – Rachel falava sem se importar com a vigilância das câmeras, a guerra tinha sido declarada e o quebra-cabeça começara a ser montado. Algumas peças começaram a se encaixar.

- Agora, vamos ouvir o Uriel. Tão bem vestido sempre, com roupas e sapatos finos. Diga-nos o que lhe trouxe ao navio???

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Doce Veneno

Esperavam Raquel retornar do quarto com o laptop para desvendar o conteúdo do chip.

Enquanto a pergunta de Cíntia permanecia no ar, pesando como chumbo.

- Terra chamando Luiz – a voz de Lukas trouxe os pensamentos do parceiro de outro mundo, bem distante daquele navio.

- Um dia antes de vir parar nesse cruzeiro, achei que fosse explodir diante da pressão do trabalho disfarçado na empresa do Spencer e os constantes relatórios de monitoramento enviado a FIAE. Agora tudo isso parece tão fácil de administrar diante de um navio a deriva, uma bomba termobárica ativada, três mortos e sete pessoas com algum tipo de pecado.

- Realmente essa bomba assusta, o poder de destruição é muito grande, ela tem uma sobre-pressão que pode causar uma depressão atmosférica. Você sabe disso tão bem quanto eu, mas eu conheço esse olhar enigmático. O que foi?

- Acho que algumas peças começaram a se encaixar e Charlotte pode estar envolvida.

- De onde tirou essa maluquice? Ela é esquizofrênica, maluca, mas não chegaria a tanto ou chegaria?

- Há pouco tempo fiquei sabendo que logo depois que terminamos, Charlotte se envolveu com um grande empresário do ramo de softwares, com negócios em Londres. Teca e Raquel trabalharam para o tal Ranald, empresário do ramo de softwares. Diante de tudo que sabemos, acho que não é maluquice minha.

- Bem feito quem mandou ficar noivo de mulher ciumenta e completamente maluca?
- Pare de brincadeira, aquela mulher é capaz de tudo.

- Eu sei. – disse seriamente - Jamais esquecerei o que ela fez com a informante que pensou ser sua amante, a coitada passou por quatro cirurgias e ainda tem as cicatrizes do queimado.
Qualquer mulher que se aproximasse de você, era motivo suficiente para Charlotte odiar. Cinco anos e você nunca percebeu?

- No começo ela era doce, meiga e atenciosa. Com o passar do tempo foi mudando, segundo ela devido minhas constantes viagens. Devo a ela minha total falta de confiança nas mulheres, hoje em dia.

- Falou com ela depois daquele triste episódio?

- Não! Mudei de endereço, telefones, lugares habituais, fiz todo o processo e pensei que tivesse me livrado dessa doidura. – fez uma ligeira pausa e continuou com um tom de voz sussurante – Quando estive no quarto de Teca, encontrei alguns recortes do período que ela morou em Londres, foi a partir disso que comecei a cogitar Charlotte. Encontrar Teca inata me deixou apavorado, se aquela doida estiver mesmo por trás dessa história, não deve ter gostado nenhum um pouco dos meus últimos encontros.

- Reze para que ela não esteja ou receio que mais pessoas saíram mortas desse navio. Sua paranóia começa a fazer sentido. Raquel trabalhou diretamente com esse homem, Teca na filial de Londres, Cíntia participou de um projeto ligado à empresa do Ranald. Resta saber quantas pessoas estão por trás de tudo isso.

- Qual foi o seu pecado, meu caro?

- Oras, que pergunta descabida. Sou um homem sem pecado!

- Claro, Cíntia deve concordar com essa santidade, não é?

Perto dali uma mulher mantinha o olhar fixo na tela do monitor.

- Nosso plano está saindo do controle. Luiz não pode desvendar o conteúdo do chip. Temos que impedir.

- Impedir é comigo.

- Impedir é diferente de eliminar, tenha isso em mente. Minha vingança está apenas começando. Ele tem que sofrer o que sofri por amá-lo.

Ranald sabia dos desejos de Charlotte e parecia não se importar, por algum motivo sombrio isso o excitava e nos últimos tempos soube tirar proveito do desejo de vingança daquela mulher.

- Não sei como uma mulher exuberante como você, consegue ficar ainda mais desejável com esse olhar fuzilante. Faz lembrar um escorpião dentro de um circulo de fogo.

- Simples meu querido, o amor nos da força e poder, assim como o dinheiro. Quando estamos diante de ambos, voltamos as nossas origens selvagens e agimos por instinto de sobrevivência, não existe limites e obstáculos capazes de impedir o nosso triunfo. Quem tenta se opor paga caro.

- Agora eles irão pagar por essa estupidez.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Revelações

Todos pararam o que faziam diante da discussão, e a cozinha, antes barulhenta, ficou num terrível silêncio... Cíntia estava novamente perdida em seus pensamentos, e de repente levantou-se e saiu correndo, com o semblante preocupado.

Passado algum tempo, retornou carregando um pacote. Todos estavam conversando, mas era possível sentir o ar pesado, estavam todos lá reunidos cientes de estar em um navio-bomba prestes a explodir, praticamente de mãos atadas. Cíntia colocou o pacote sobre a mesa e começou a falar.

- Bom, nossa situação está bem complicada, não é mesmo? Como o Luiz disse antes, agora é hora de por as cartas na mesa... chega de segredos entre nós, esse navio vai explodir e se não fizermos alguma coisa, todos nós morreremos, mocinhos ou bandidos... seja lá como for...

- Cuidado, o navio está sendo vigiado, tem câmeras por toda parte! - disse Téca preocupada.

- Danem-se as câmeras! A única coisa que o Aranha poderia fazer contra nós, que é ativar a bomba, ele Não pode fazer mais, afinal de contas, sem querer já fizemos esse favor a ele... não temos nada mais a perder.

- Que seja... e o que é esse pacote que você foi buscar com tanta pressa?

- É um notebook... logo que cheguei ao navio, encontrei este embrulho em minha cabine. Tinha um bilhete com instruções do que eu deveria fazer. Só tem um problema, este notebook está danificado... quem quer que fosse o dono disso, tentou inutilizá-lo. Lukas e Luiz, antes de encontrarmos Téca no quartto dela, ouvi vocês falando de um chip que provavelmente estava com o Paulo, o morto lá do porão...

- Sim, é verdade, ams oque tem o chip a ver com isso? - perguntou Lukas.

- Talvez o meu objetivo não fosse consertar esse notebook e sim guardá-lo! A pessoa que nos colocou aqui no navio sabia que nós nos conhecíamos e cedo ou tarde, com certeza nos encontraríamos. Lembra-se que eu estava ouvindo a conversa entre você e Villa Nova? Foi a Isadora quem me indicou que havia alguma coisa em sua cabine.

- É, faz sentido... Talvez o Paulo tenha realmente tentado salvar a informação e acabou sendo morto justamente por não estar em posse do chip. - Concordou Luiz.

Cíntia pegou uma chave de fendas da caixa de ferramentas que viera junto com o pacote e começou a desmontar o notebook, retirando peça por peça. Removeu então a placa mãe do laptop e entregou para Luiz.

- Luiz, se o chip do qual vocês falavam realmente estava nesse laptop, ele está aí nessa placa. Para acessar os dados, podemos facilmente colocar esta mesma placa no laptop da Rachel e ler os dados, se necessário.

- Não seja por isso, Cíntia. - Rachel levantou-se e foi ao quarto buscar seu laptop.

- Então, Isadora sabia de minha história com Lukas, talvez ela mesma tenha deixado este pacote em minha cabine. Infelizmente não a encontrei mais depois disso. Ela deve saber de tudo que está acontecendo...

- Ela sabia, Cíntia... sabia sim... e ela também está morta. - Disse Vila Nova, em tom sombrio. Cíntia nem mesmo havia notado o jornalista sentado no canto da cozinha.

- Meu Deus!!! O Aranha está conosco no navio então? Ou alguém mais está escondendo alguma coisa dos outros?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Téca acordou assustada com Luiz tocando em seu braço e quando abriu os olhos de vez, notou que todos estavam dentro de sua cabine, em volta de sua cama olhando pra ela como se esperando uma resposta...
A seu lado os comprimidinhos e então entendeu tudo...

-Mas o que houve com você? Achamos que estava morta! Disse Luiz

Téca sentiu o peso da vergonha, afinal ninguém sabia de sua dependência. Sentou na cama, tentou se recompor e com os olhos cheio de lágrimas tentou se explicar:

- Desculpem o transtorno, não quis de forma alguma causar preocupação em vocês! Bem, agora já sabem, sou viciada em remédios e ontem tive uma noite difícil, e acho que exagerei na dose.

- A hora que chegamos aqui, vc estava se debatendo e gritando coisas desconexas. Uma hora dizia que tudo era mentira, que ele não podia ser quem era, em outra hora falava que não teve culpa, que foi necessário fazer o que fez... disse Rachel.

- Estava mesmo tendo pesadelos horríveis.

- Bem, já que agora está tudo bem, acho melhor você tomar um bom banho, se recompor porque todos nós precisamos conversar. O cerco está se fechando e agora não temos muitas saídas, disse Lukas.
Vamos todos para a cozinha do navio, e Luiz que entende do assunto, vai nos fazer um café bem forte, porque vamos precisar. Esperamos você lá, seja rápida.

Téca achou ótimo que todos saíram dali. Levantou e foi direto pro chuveiro. Uma ducha fria seria ótimo no estado dela. E enquanto a água caía em seu corpo, teve uma idéia. Seria mais rápida para se arrumar e com isso ganharia tempo com os outros, e caso demorasse teria a desculpa de estar ainda se arrumando.

Vestiu-se, pegou seu cigarro e saiu em direção as cabines. Sabia que todos estavam a sua espera na cozinha, então não seria vista. Precisava descobrir algo de algum deles, pois não queria ser pega de surpresa, queria uma carta na manga.
Primeiro entrou na cabine de Rachel, e remexeu em algumas coisas, tendo o cuidado de arrumar depois e só o que conseguiu descobrir, foi que a moça tinha um excelente gosto em matéria de cremes e perfumes. Saiu de lá e resolveu ir na sorte mesmo. Entrou na primeira porta que seus olhos avistaram e percebeu estar na cabine de Vila Nova. Seu corpo estremeceu, e aquele mal estar sempre que algo tinha a ver com esse cara, a incomodou novamente.
Foi direto no guarda roupa e revirou tudo. A única coisa que viu lá, era o mesmo que ela também já sabia...
Mas não desistiu! Foi para o banheiro, e abriu portas e gavetas até que teve a idéia de fuçar na descarga.
Bingo!!! Achou algo estranho dentro do compartimento da descarga e pegou. Abriu com toda pressa do mundo o que parecia ser um livro.
Na capa um nome: Guerreiros de Fogo.
Até então, não tinha entendido nada, quando abriu o livro e começou a folheá-lo. O livro era de Lukas! Ou melhor, do passado negro de Lukas. E Téca sorriu de forma cínica como sempre!

- Olha só, vejo que por aqui não sou só eu que escondo um passado negro. O bonitão do Lukas também tem um passado podre...

Téca não tinha muito tempo, saiu apressada e não notou que fios de seus cabelos vermelhos ficaram caídos sobre o chão de piso branco...

Passou em sua cabine, e ficou pensando onde poderia guardar aquele livro, sem que ninguém pudesse achar...Olhou ao redor da cabine, mas seu tempo está praticamente se esgotando. Logo alguém lá da cozinha viria buscá-la, devido a demora. Abriu sua caixa de artesanato, onde também guardava seus “vidrinhos de veneno” e colocou o livro lá.

Partiu em direção à cozinha...

- Até que enfim Téca! Mais um pouco e eu ia pensar que você tinha tomada mais uns daqueles seus comprimidinhos e caído no sono...e Lukas deu uma gargalhada!

E Téca furiosa com a “tirada” de Lukas rebateu na mesma hora dizendo:

- Ô bonitão, acho melhor você se calar, porque se formos falar aqui de moral, primeiro vamos ter que procurar a sua!

Todos pararam o que faziam diante da discussão, e a cozinha antes, barulhenta, ficou num terrível silêncio...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

‘-...e então BUUUMM!’

Saídos do porão do navio, onde apodreciam os corpos de Sônia e Paulo, todos se separaram.
Lukas achou melhor colocar as idéias de ordem. PRECISAVA entrar em contato com a FIAE.
Não se demorou em seu quarto. Apenas tomou uma ducha e foi atrás de Luiz. Eles tinham uma tarefa. E já tinham perdido tempo demais.
Todo o jogo de cena com Stranger, a princípio fizera com que Lukas se sentisse em mais uma missão. Mas esse Stranger sabia mais dele do que poderia imaginar. Coisas que, desconfiava, nem a FIAE soubesse.
A história da Guerreiros de Fogo era um passado quase esquecido e esse filho da puta a trouxera de volta.
Quem seria o Aranha? Porque colocara Lukas entre aquelas pessoas.
Cíntia. Uriel. Luiz.
Coincidência demais conhecer três pessoas naquele navio.
O envolvimento com Cíntia. A discussão no bar com Uriel por causa de uma bebida entornada em sua roupa. Seu parceiro da FIAE, Luiz.
Todos estavam ali por um motivo e tinha de desvendar o quebra-cabeças!
Luiz não estava em seu quarto, por isso Lukas seguiu pelo corredor.
A conversa com Vila Nova ainda estava em sua cabeça. Estranho como em três dias tanta coisa acontecera. Resolveu bater na porta. O repórter abriu a porta e mandou Lukas entrar rápido, sem dizer uma palavra.
Estendida no chão, com um buraco de bala na cabeça, estava Isadora, a recepcionista loira gostosa do Vengeance.
Vila Nova tinha respingos de sangue nas mãos e parecia meditar sobre o significado daquela cena macabra.

-Nem parece que bem pouco tempo atrás eu vim no seu quarto pra falar de um tiro e de mortos! E você nem acreditou! Parece real pra você agora, Vila Nova? –ironizou Lukas.
-Mais real do que eu gostaria, Lukas... Bem mais real do que eu gostaria! Será que temos chance de sair dessa com vida? –questionou Vila Nova.
-Não sei! Mas temos de nos juntar! Ou melhor, juntar as peças! Acho melhor reunir todos! Jogar as cartas na mesa! Ou acho que mais inocentes morrerão por causa desse lunático!

Lukas e Vila Nova marcaram de encontrar os outros e de se encontrarem na cozinha para a conversa definitiva.
Ambos concordaram que era hora de um jogo da verdade!
Antes, Lukas precisava falar com Cíntia, resolver suas pendências. Aquela menina simplesmente o irritava profundamente e, ao mesmo tempo, o fazia sentir-se vivo, como há tempos não se sentia na presença de uma mulher.
Encontrou-a no convés principal, sentada numa cadeira, com o olhar perdido para a piscina.
A imagem era tão contraditória. Uma bela mulher de pele alva, cabelos coloridos, roupa escura, sentada no sol, olhando para a calmaria da água de uma piscina.
Lukas aproximou-se, afagou os cabelos e antes que Cíntia pudesse agredi-lo com palavras novamente, ele a beijou!
Um beijo intenso, cheio de raiva e paixão! Um beijo guardado por muito tempo.

-Seu maldito! Por quê eu insisto em gostar de você! Penso em você desde aquele maldito dia, desde que você foi embora e me deixou largada naquele quarto de alojamento! –explodiu Cíntia depois do beijo.
-Eu voltei, minha linda! Voltei! Mas você já não estava lá! Saí para comprar o café da manhã, queria fazer uma surpresa... E só encontrei sua amiga, dizendo que você já tinha ido. E que você era assim mesmo, não se prendia aos homens! –disse Lukas, enquanto se aproximava, tentando abraça-la novamente.

Cíntia não se opôs.
Aquelas amigas eram mesmo todas iguais. Deixara escapar um homem que podia ser diferente por causa de intrigas.
E agora Cíntia podia morrer ao lado desse homem.
Abraçados como se o tempo não tivesse passado desde aquela noite, não viram Luiz se aproximar correndo.
Lukas se recompôs, sorriu para o amigo e disse:

-Luiz, temos de retomar a missão! Acho que vai ser bom termos o chip em mãos. Nossa missão era essa, não? –disse Lukas.
-Sim, nossa missão era essa! E acho que sei quem era o portador do chip. Paulo, o morto no porão! Temos de voltar lá para verificar junto ao corpo! –disse Luiz.
-Como você chegou a essa conclusão Luiz? Vamos lá agora! –ponderou Lukas, já se dirigindo para o lado do porão do navio.
-Volte aqui, Lukas! Vemos isso depois! Acabei de vir do quarto da Teca! Acho que... Acho que... Ela parece morta, Lukas! –gaguejou Luiz!
-Morta???? –Cíntia explodiu em choro.
-Não sei! Não sou médico! Mas ela está deitada, pálida, na cama, com comprimidos ao lado! –disse Luiz.
-Mais uma!?!? –Lukas disse quase que para si mesmo.

E contou para os amigos sobre o corpo de Isadora na cabine de Vila Nova!
Foi interrompido pela chegada de Vila Nova, por um lado e Uriel e Rachel, com cara de poucos amigos, de outro.

-Luiz acha que algo pode ter acontecido com Teca. Vamos à cabine dela verificar. E, depois, temos de esclarecer algumas coisas. Todos nós! –disse Lukas, puxando o comboio rumo ao quarto de Teca.

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Praia do Flamengo – Rio de Janeiro
Edifício Sede da FIAE na América Latina
12h30min

Dois homens engravatados assistem ao jornalístico esportivo, esperando o noticiário vespertino.
Um calor infernal, poucas palavras.
Um telefone toca e o mais alto dos dois homens, loiro, porte europeu, atende.
Algumas palavras trocadas, telefone desligado.

-Rastrearam o Bittencourt. –diz para o mais baixo dos homens: moreno, forte e atarracado.
-Eu sabia que isso aconteceria! Bittencourt e Shummy não são novatos. Mas três dias longe de qualquer contato é um marco! Como conseguiram? –perguntou o moreno.
-Não sei, Copperton... Não sei... Mas tenho novidades para nós! E não sei se agradáveis... –começou o loiro.
-Deixe-me adivinhar, Shuccker... Vamos resgatá-los?
-Sagaz, Copperton, sagaz... Preparado pra salvar nossos amigos e detonar um navio bomba?
-Como assim? E as outras pessoas no navio? –Copperton argumentou.
-Foi a ordem. De acordo com Washington, deixamos correr frouxo por tempo demais... Os chineses e japoneses já estão sabendo do chip e o anfitrião dos nossos amigos não irá durar mesmo muito tempo... Mas antes de entrarmos no navio temos de dar um jeito de avisar a Bittencourt e Shummy. Eles precisam de uma cópia do chip. Pois só teremos tempo de resgata-los e então...
-...e então BUUUMM! –completou o moreno Copperton.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A Cartada

Vila Nova concordou prontamente em procurar Rachel, seguindo por um caminho até então inexplorado pelo grupo. De repente, ele se viu em um corredor com cabines que se assemelhavam a salas de reuniões, outras que mais pareciam adaptadas para sessões de cinema. O jornalista andou mais alguns metros até que o corredor se bifurcou. Decidiu seguir pelo lado esquerdo e acabou descobrindo algo curioso. Findo o corredor, resolveu voltar, desta vez, seguindo pelo lado direito. Ouviu um barulho de porta se batendo. Tudo foi muito rápido, mas a tempo de localizar de onde viera o ruído.

A porta não estava trancada. Assim, Vila Nova, sem temer o que ou quem poderia estar do outro lado, bateu a mão na maçaneta, entrando na cabine. Tomou um grande susto, ficando surpreso em ver aquela pessoa ali.

- Lúcia?
- Ora, ora!... Meu ex-namorado preferido.
Disse a mulher, com um sorriso extremamente cínico.
- Então, você está mesmo metida nos planos do Aranha! Exclamou o jornalista, ainda espantado.
- Aranha? Não entendi.
- É assim que nós sete temos tratado o responsável por essa loucura.
- Loucura? Eu diria que vocês podem chamar de plano megalomaníaco de vingança. Por isso, Justiceiro seria um adjetivo muito mais preciso que Aranha.
- Então, tudo, realmente, não passa de uma vingança?
- Perfeitamente. Eu, por exemplo, te convidei para o cruzeiro porque quis me vingar de você, querido.
- Se vingar de mim? O que foi que te fiz tão grave para merecer isso?
- Você arruinou minha família. Eu descobri tudo, seu calhorda!
- Como arruinei? Logo, a ficha caiu. - Não, não pode ser verdade...Você é...
- Sim, sou eu. Dei um jeito de encaixar minha vingança nos planos do... Como é mesmo o nome que vocês deram para ele? ... Ah, sim. Aranha!
- Louca. Desequilibrada.
Vila Nova ia continuar a insultar a ex-namorada, quando ela o cortou, dizendo:
- Melhor você voltar para os outros. E se quiser se manter vivo, não comente nada sobre a minha presença aqui. Uriel dará um jeito de calar a tonta da Rachel. Viu? Até rimou! A metida à esperta me viu, ao sair do quarto dele. Agora, vá. Não tenho mais tempo para perder com você. Eu te ligo dando notícias... Ah, me esqueci! Recolheram seu celular, não foi? Disse Lúcia, soltando uma gargalhada.

Nesse exato momento, a ex-namorada do jornalista acabara de lhe dar uma idéia. Precisaria aparentar frieza, para que desse certo. Desta forma, estampando no rosto o mesmo cinismo com que fora recebido, ele falou:

- Não tão depressa, meu bem. Já que você está envolvida nisso até o pescoço, tenho um recado para o seu amigo Aranha.
- Recado. E você lá está em condições de mandar recado?
- Você verá que estou... Lembra-se de Ataulfo Andrade, do Jornal O Campeão? Vocês foram apresentados um ao outro, na festa da premiação dos melhores jornalistas, promovida há três anos. Ele foi meu professor na faculdade e acabou virando um mentor e um grande amigo.
- Sim, me lembro perfeitamente. Ele ganhou um prêmio pelas reportagens sobre um alemão envolvido em tráfico de mulheres para o exterior.

- Exatamente. Hans Schutz, esse era o nome do alemão. O caso ficou conhecido por “Mansão Schutz”. A história virou livro, inclusive. Se não me engano, escrito por um dos moradores do lugar.
- O que tem o jornalista?
- Pois bem.
Disse Vila Nova, tentando manter frieza nas palavras. – Antes de entregar meu celular para um dos empregados do navio, foi para Professor Andrade que eu liguei. Certa vez, ele me garantiu que, se um dia, eu precisasse de trabalho, não hesitasse em procurá-lo.
- Vá direto ao assunto, por favor. Cortou Lúcia novamente.
- Eu pedi essa ajuda. Disse que estava a procura de trabalho, quando me lembrei da sua promessa. Marcamos de nos encontrar dentro de alguns dias, quando ele retornasse de viagem.
- E daí?
- E daí que eu mencionei que estava subindo a bordo de um cruzeiro, cujo convite havia sido feito por uma ex-namorada. Falei o seu nome, até te descrevi, para ver se ele se lembrava. E não é que ele se lembrou, meu bem? Ele tem uma memória fotográfica!
- E é com isso que você pensa em nos ameaçar? Não me faça rir, Cláudio
.

Era chegada a hora de Vila Nova dar a cartada final do seu plano. Desta forma, respirou fundo e continuou:

- Lúcia, Lúcia! Você é uma mulher esperta! Veja só: Eu ligo, praticamente, implorando por trabalho. Digo que aceitei embarcar num cruzeiro, convidado por uma ex-namorada. Falo o nome dela e até a descrevo. Aí, a pessoa consegue se lembrar de quem eu estou falando... Ora, se eu não aparecer no encontro que marcamos, não acha que Andrade vai considerar o meu bolo, no mínimo, estranho? Ah, sem contar que eu mencionei algumas ameaças que sofri, nos últimos dias. Vai que ele resolve investigar meu sumiço, começando por você? Quem procura, acha!

Desta vez foi a mulher que se assustou. Recuperada, fez uma cara de quem não tinha muita escolha. Poderia ser um blefe. Sabia que Vila Nova, como jornalista, blefava em situações como aquela, mas também poderia ser verdade. E se um jornalista do porte de Ataulfo Andrade se metesse a investigar o sumiço do seu aluno e amigo, era capaz de promover um estrago nos planos do responsável pelo cruzeiro.

- Imaginando que o Aranha, segundo vocês o denominam, acredite nessa história. Sabe perfeitamente que isso não será capaz de tirá-lo daqui, não sabe?
- Sei, claro que sei. Só estou tentando zelar pela minha vida. Preciso voltar intacto à terra firme, minha querida. Ah! E já que tenho que chegar vivo e no dia certo para não levantar suspeitas, acabo de revogar a ordem que me proibia de falar com Uriel. Vou conversar com ele quantas vezes eu quiser.
- Acha que há amadores por trás disso? Falou Lúcia em tom ameaçador.
-Não. Vocês são capazes de tudo. Eu sei...Mas acabemos com essa conversa. Dê o meu recado ao Aranha. Voltamos a nos falar depois. Por bilhetes mesmo, já que não estou com meu celular. Disse Vila Nova, fingindo rir.

O jornalista deu as costas para a ex-namorada, saindo do quarto, fechando a porta. Se aquela cabine também fosse vigiada por câmeras ocultas, sua cartada já seria do conhecimento do mentor do cruzeiro.

Saiu apressado. Queria encontrar Rachel, contar-lhe do seu encontro com Lúcia. Seguiu para o deck inferior, mas, àquela hora, não encontrou quem quer que fosse. Depois de muito procurar, resolveu voltar para o seu quarto. Tencionava fingir tranqüilidade, como quem está com as rédeas não mão, ou parte delas, pelo menos. Certamente, lá seria filmado pelas câmeras.

Ao abrir a porta da sua cabine, tomou um grande susto. Havia uma pessoa caída no chão, ao lado da sua cama. O jornalista aproximou-se, verificando-lhe os pulsos e os batimentos cardíacos. De fato, não havia amadores naquele navio. Aquela pessoa que fora largada em seu quarto estava morta. Sobre o seu corpo, um bilhete, que dizia:

Acha mesmo que pode dar as cartas, neste jogo?

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Descobertas

Rachel tentava organizar seus pensamentos, mas agora a surpresa daquela sala, da luta de Uriel e do que havia à sua frente, a tornava mais prática. Devia ser prática.

Já sabia que deveria lidar com muitas informações, prestava atenção em cada gesto, não poderia pisar em falso. Jogar agora era primordial... mas não conseguira resistir ao clima com Uriel...

Sentia-se só, não podia confiar em ninguém, estava acuda, e encontrar aquele homem, apesar de não estar em seus planos, havia sido surpreendente.

_ BINGO! – disse Uriel sorrindo maliciosamente ao olhar o que havia na sala.

Olharam em volta da sala, haviam descoberto o servidor do navio. Um computador grande, vários monitores, painéis eletrônicos. A central de informática do navio.

Rachel afastou os cabelos, e examinava os painéis com cuidado, enquanto Uriel amarrava o guarda desacordado. Sentou-se na cadeira principal.

Ela conhecia o sistema, parecia um servidor de aplicação, um software que gerenciava toda a rede de serviços do navio. Naquele software, poderiam ser gerenciados desde as mais simples funções, do acesso aos sites externos, ao curso do navio, e ao controle dos sistemas operacionais.

Uriel olhava agora por cima de seu ombro

_ É um servidor, Rachel. Dá acesso a todos os sistemas do navio... Podemos controlar tudo, ele dá acesso a cada um dos computadores... mas também dá acesso remoto! Não podemos simplesmente deixar o Aranha sem acesso...

Rachel já digitava desejando saber o que faria agora. Deveria haver acesso ao sistema que controlava o detona dor da bomba. Mais do que nunca, ela sabia quem era o “Aranha”, a pessoa por trás de todo aquele plano.

Uriel sentou ao lado, em outro teclado, acessando o programa de controle, e iniciou a procura, até achar o sistema que alimentava os micros mais próximos ao porão de cargas, naquele ramal deveria estar o controle da bomba.

Rachel sabia que havia um jeito. Iniciou a digitar seus velhos códigos de trabalho, até chegar ao controle, agora impedida por uma tela que exigia uma senha.

Uriel parecia impressionado, mas Rachel agora tentava digitar várias senhas antigas de seu trabalho. Ela sabia que se conseguisse, poderia desarmar as bombas e liberar o Vingeance de todo e qualquer controle externo, embora temesse que o Aranha tivesse um plano B.

Após algumas tentativas de ambos, apesar de suas senhas digitadas, não conseguiam acesso.

_ Droga! Não consigo entrar! Precisamos desativar as bombas, Uriel.

Uriel agora tentava entrar no mainframe da máquina.

Rachel agora pensou em seu passado, lembrou de seu envelope. Tinha certeza de que conhecia o Aranha. Pensou em tudo que passara, olhou para o teclado e digitou a senha. Como poderia não saber?...

Subitamente entrou no sistema, para surpresa de Uriel, e desativou a bomba, faltando apenas 5 minutos. Sentiu-se aliviada.

Uriel soltou um grito de alívio e euforia... levantou-se da cadeira e deu um beijo nos lábios de Rachel.

Enquanto Uriel observava os sistemas de navio, Rachel percebeu que o controle das câmeras era acessado também por terminal wireless, fora do navio. Olhou para Uriel, que tentava acessar a Internet, bloqueada pelo servidor.

Disfarçadamente, Rachel acessou o módulo de segurança, e logo achou o que procurava... o controle das câmeras de segurança. Cada câmera, em cada momento, tudo estava sob observação, gravando no HD, as imagens do navio. “Aranha” tinha acesso a todo o navio, com câmeras e microfones.

_ Uriel, estamos sendo totalmente observados, estamos sob vigilância total. Há um meio de impedirmos isso, assim quem nos colocou aqui perderia todo o controle.

_ Sim, mas não estou conseguindo resposta do sistema de navegação, não consigo acessar bússola, nem os planos de navegação, nem mesmo o GPS está funcionando.

_ E se eu congelasse as imagens das câmeras? Poderia ver o que nós quiséssemos...sem que outros percebessem por um bom tempo...

_ Genial, Rachel! Eu vou tentar acessar o sistema de navegação

Rachel olhou subitamente para aquele homem sentado ao seu lado, banhado pela luz azul dos monitores. Sua intuição parecia lhe alertar de algo, mas estava definitivamente ligada àquele homem, que agora mergulhava em códigos, sem observá-la. Poderia voltar a confiar em um homem algum dia?

Os dedos finos de Rachel deslizaram para o teclado, acessou o mouse, e voltou ao sistema de câmeras, selecionando as câmeras do corredor dos camarotes. Congelou as imagens, sem que deixasse marcas. Rapidamente, voltou às imagens gravadas, acelerando ao máximo o retrocesso, até um certo momento. Olhou novamente para Uriel, entretido com os códigos. Rachel agora vira a mulher que tanto a odiava, reconheceu-se na porta do camarote de Uriel. Observou a discussão, tendo cuidado de cortar o áudio.

Então, ali no frio monitor, viu o exato momento que Uriel, o homem que a aconchegara em seu peito horas antes, atingira em cheio sua nuca. Rachel agora se sentia espantada, traída, e em perigo. Não podia confiar nele.

Levantou-se e saiu da sala correndo, sabia que corria perigo. Uriel a chamava e a seguiu pelos corredores. Rachel corria sentindo o coração na garganta, corria pelo escuro, tentando achar o caminho num labirinto de corredores, tentando subir rapidamente até o convés, na escuridão, tropeçou. Ao tropeçar, levantou-se com dificuldade.

Foi quando sentiu a mão de Uriel em seu ombro.

_ Eu posso explicar...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ange or Démon?

Uriel acordara subitamente, ao esticar o braço na cama, sentiu falta do suave e sedoso corpo de Rachel. Sentou na cama, ainda sonolento e escutou a voz de Rachel fora do camarote. Parecia exaltada, discutindo.

“Você sempre foi mais inteligente, sempre! Diga-me o que posso fazer para jogar as cartas certas. Você sabe que eu quero sair viva daqui... faço o que você quiser...”.

Ele levantou-se. Tinha de ser rápido. Retirou a arma escondida sob o colchão, em um pulo levantou-se e abriu a porta do camarote. Ergueu a arma pelo cano cromado e fazendo um arco prateado no ar, acertou a nuca de Rachel, deixando-a desacordada. A linda mulher com quem Rachel discutia, possuía uma arma em mãos, e apontava para ela, desmaiada no chão.

_ Isso é desnecessário. Ela está morta. – Uriel mal reconhecia sua própria voz. A surpresa o atordoara. ELA!

A mulher levantou o olhar enigmático para Uriel, guardou a arma e virou-se, sumindo no corredor. De longe, seu perfume misterioso, sua voz sarcástica...

_ Vista-se, garanhão... Não lhe demos roupas de grife para ver seus dotes ao vento... e junte-a aos mortos...

Uriel, com as mãos trêmulas, guardou a arma, e voltou para o quarto. Agora tudo fazia mais sentido, e mais do que nunca, deveria seguir à risca as ordens recebidas. Sabia com quem estava lidando. Vestiu-se e foi até o laptop. Leu o bilhete de Rachel e uma lágrima escorreu, sendo prontamente enxugada.
Não havia muito tempo, se quisesse viver, aquele seria o momento. Amassou o papel e foi até o laptop. Observou os códigos binários, interrompeu a transferência e iniciou outra. Sorriu quando lembrou da inteligência de Rachel. Mas ele sabia o que fazer. Era um hacker há tempo necessário para saber mexer nestes códigos. Aprendera em Harvard. Estranhou lembrar disso agora... Um tempo tão distante... amigos distantes...

Em um bloco, escreveu uma frase, que somente um no cruzeiro poderia entender. Saiu do camarote, com a arma escondida sob o blazer Armani, o vento soprava mais forte, em um céu já sem chuva. Foi até a cabine de Vila Nova, e em frente à porta, fingiu amarrar o sapato, passando o papel por sob a fresta da porta o mais discretamente possível. Saindo rapidamente, acendeu um cigarro e dirigiu-se até o convés da popa do navio. Encostado na balaustrada olhava o rastro de espuma branca deixado pelo navio. Pensou em tudo que vivera até aquele momento. Pensou em Rachel, e em seu sorriso cativante. Pensou no que ela lhe dissera sobre Cíntia e na voz do outro lado do celular.

No silêncio da noite, o vento balançava com força a bandeira molhada do navio... flap flap flap.....

Neste momento, todos os fatos subitamente fizeram sentido! Como não pensara nisso antes? Olhando para a bandeira, Uriel descobriu mais do que deveria. Sabia quem estava por trás de tudo. O logotipo!... e o sugestivo nome do navio... Vengeance... aquela mulher! Fechou os punhos com ódio! Nada ia interferir com seu plano.

_ Boa Noite, Uriel. Recebi seu criptograma.
_ Vila Nova... eu sabia que poderia contar com você...
_ Nós deveríamos estar nos falando?
– O jornalista não sabia direito qual era a relação de Uriel com tudo aquilo.
_ Aqui não há câmeras por perto... Escute atentamente o que vou dizer, Vila, e faça exatamente o que eu disser. Finja que nada está acontecendo... – Uriel agora falava mais baixo, quase sussurrando...
_ Precisamos salvar Rachel, ela desapareceu... já procurei-a em todos os lugares. Preciso de sua ajuda, Vila Nova.
_ Vamos procurá-la, mas vamos separar-nos. Fica mais fácil não chamar atenção.
_ Temos de ser rápidos. Descobri que o fundo do navio está repleto de explosivos, uma quantidade suficiente para mandar-nos para o fundo do mar em segundos...

Vila Nova não pareceu abalar-se. Olhava firme para Uriel, ainda pensando na mensagem que acabara de decifrar. Pensava ainda no que ainda tinha de fazer... Será que Uriel sabia?

Logo se separaram no convés, Uriel tomou o caminho que dava no compartimento de carga. Ainda se sentia assustado em voltar lá, mas sabia que tinha de soltar Rachel, ela já deveria estar acordada, e Uriel sabia que deveria continuar com seu plano próprio. Vila Nova não poderia desconfiar de nada.

Desceu até as escotilhas da Sala de Máquinas, passou pelas mesmas portas estanques e abriu o compartimento. A pesada porta rangeu, deixando a luz vencer a escuridão.
Assustou-se com a presença de Cíntia, Luiz e Lukas além de Rachel. Eles olharam com dificuldade para a claridade que entrava no compartimento.
Fingiu surpresa!

_ Rachel! O que houve com você? O que houve com vocês???? Vocês estão ensangüentados! O que houve?

Lukas saiu abruptamente do compartimento de cargas, olhou Uriel furioso e saiu sem falar nada, Cíntia ajudava Rachel. Uriel prontamente a ergueu no colo, e a levantou. Observara agora os corpos de Sônia e Paulo. Seria um problema ter cadáveres a bordo, precisaria fazer algo acerca disso depois.
Mostrando-se muito cuidadoso, guiou Cíntia e Luiz pelos corredores, passando pelo motor que agora funcionava lento, quase silencioso.

_ Uriel, o que aconteceu?... Eu vi... Ela... e as bombas estão ativadas... temos só trin...

Com um gesto súbito, Uriel colocou o indicador sobre seus lábios. Na frente do grupo, encontraram Lukas abaixado, à espreita, olhava mais adiante no corredor, e logo fez sinal para pararem. Uriel colocou Rachel no chão e tirou a arma do bolso. O grupo percebeu claramente a presença de alguém à frente. Precisavam fazer o máximo de silêncio. O hacker estava sério, seu rosto sério e sombrio. Ouviam claramente sons de passos vindo em sua direção. Sabia que Vila Nova não estava ali. Fosse quem fosse não estava ali para um passeio. Sentiam um ar quente e pesado, Rachel olhava agora fixamente para o corredor. Sabia que poderiam ser todos mortos. Estavam descumprindo o trato, agindo de forma estranha. Cíntia estava assustada, olhava atentamente para o corredor.
Os passos agora se afastavam, e começaram a subir a escada, fechando uma porta atrás.
O grupo agora se esgueirava pelo corredor, lentamente, observando o mais absoluto silêncio. Ouviam somente suas próprias respirações ofegantes, no silêncio que agora era opressor.
Com a mão, Lukas fez sinal para que todos se espalhassem, e cuidadosamente, avançou no corredor, alcançando rapidamente a escada para o convés.
Uriel ficou por último e segurou a mão de Rachel, que olhou imediatamente para o loiro.
Ficaram por no corredor, que se bifurcava em forma de T. Seguiram para o lado oposto à saída, até que observaram uma porta fechada, de onde provavelmente saíra o barulho. A porta era da mesma cor das paredes, dando a perceber que era um compartimento reservado. Com a arma em punho, Uriel com Rachel às suas costas, lentamente abriu a porta. Rachel olhou para o teto, e percebeu duas tubulações familiares. Eram tubulações de redes, e partiam no teto sobre a porta.

Com cuidado, Uriel entrou, puxando Rachel contra seu corpo, apontando a arma para o interior da sala. Um bafo frio os envolveu quando a porta foi aberta, podiam escutar um zumbido leve.
Rachel encolheu-se atrás do homem que ela sequer sabia que lhe atacara.

Assim que adentraram a porta, Uriel sentiu um soco direto em seu rosto, mãos seguravam a rama, tentando arrancá-la de suas mãos. Rachel correu para o canto da sala, e agachou-se. Uriel e o homem fardado como um guarda lutavam brutalmente, trocavam socos, esmurravam-se, jogavam-se contra as paredes. Uriel não conseguia sacar a arma, fazendo o homem apertar suas costelas. Abraçaram-se na altura dos peitos, cruzando seus braços em cada arcada costal, uma força descomunal brotavam daqueles homens, que ali, impassíveis, testavam seus limites, restringindo a respiração de ambos. Um dos dois iria perder a este cabo de guerra de braços. Uriel sentia o ar faltar-lhe, sentia que não conseguiria mais respirar em breve, decidiu apertar o tórax do outro com todo o restante de suas forças, direcionou sua raiva naquele abraço... o fato de estar no cruzeiro, as bombas, as ordens... o plano... Foi quando um CRAC seco foi ouvido, e Uriel sentiu os braços do guarda lhe soltarem, caindo como um boneco, desacordado. Com um chute de Uriel no rosto, desacordou-o, espirrando sangue na parede cinza. Uriel partira várias costelas do bandido.
Daí então olhou em volta. Estava surpreso e exausto... Rachel levantou-se e amparou Uriel.

_ BINGO! – disse Uriel sorrindo maliciosamente ao olhar o que havia na sala.

Rachel sorriu confiante para o homem que amara na noite anterior... tinha de haver uma saída... ou então morreriam em trinta minutos!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Tic Tac Tic Tac

Não conhecia nada melhor para desestressar a cabeça e o corpo, ainda mais com uma mulher experiente como Teca. A noite anterior havia sido maravilhosa. Precisava ser cauteloso para não estragar tudo.

Luiz despertou ao ouvir o toque do pager, e foi extremamente paciente ao esperar Teca retornar do banheiro e sair para corredor. Pulou da cama e começou a revirar o quarto. Sabia que teria pouco tempo para encontrar uma pista e não demorou muito para achar, lá estava uma pequena caixa no fundo da mala. Dentro havia alguns recortes de jornais Europeus e o conteúdo era bastante interessante. Um deles chamou a atenção, nem tanto pela noticia e sim, pelo desgaste da folha. Com certeza Teca tinha relido o texto milhões de vezes. Resolveu levar consigo aquele pedaço. Rapidamente guardou a caixa e saiu para o corredor.

Em seu quarto foi até o guarda roupa e pegou a caixa prateada que encontrará no dia anterior. Sabia que estavam sozinhos no navio e o pior, sendo vigiados por câmeras. Sem falar no perfil psicopata daquela pessoa. Porque deixar a caixa perto dos caixotes? Aquilo estava atormentando sua cabeça. Tinha que tentar abrir a trava. Mas aquele jogo de palavras cruzadas era o fim da picada. Com certeza humor não faltava naquela cabeça desmiolada.

Uma coisa era certa a primeira e a quinta linha horizontal pertenciam a Teca, a noticia do jornal confirmava suas suspeitas. A quarta ele sabia bem a resposta. Estava tão compenetrado em preencher os campos do diagrama, que mal percebeu Cintia entrar no quarto.

- Brincando de quebra-cabeça? Precisamos descobrir uma forma de sair daqui, me ajuda?

- Claro, já passou da hora! - saiu para o corredor com sua caixa na mão.

Luiz e Cintia se depararam com Lukas coberto de sangue e completamente transtornado. Foi tão rapido quando o chão se abriu, levando-os ao porão. Apesar da situação e dos corpos inatos no chão do porão, chegou a ser cômica a cena de discussão entre Cíntia e Lukas, pareciam crianças disputando a ultima bolacha do pacote.

- Ei!!! Ei!!! O casalzinho poderia resolver suas diferenças depois??? Vocês tiveram tempo suficiente para isso antes de entrar nesse maldito navio!!! - Luiz falou, tentando apaziguar a situação.

- Hã? O que você sabe sobre o Lukas e eu? - Cíntia perguntou, confusa, pois nunca havia falado a ninguém sobre seu envolvimento com Lukas.

- Nada! – Luiz sorriu displicentemente - Mas pelo furor dessa conversa, está mais do que claro que vocês tem uma longa história. Mal resolvida por sinal. Correto?

- Isso não vem ao caso – cortou Cíntia, pouco convencida da explicação.

- OK, acho que seria primordial para nossa sobrevivência, nos unirmos. Lukas tem razão, temos que identificar esse mecanismo. Pelo que se vê, o relógio está ligado ao núcleo do reator por esses fios, temos apenas que cortar o fio certo.

- Ótimo, temos uns vinte fios, alguém se habilita? Cíntia perguntou com toda ironia possível.

- Eu – respondeu Lukas.

- Você está babando em achar que vou deixar você tocar num desses fios, você é maluco!

- Pare de frescura, não sou criança.

- Opa, opa...Adoro ver hormônios a flor da pele, mas não agora. – a praticidade de Luiz, chegava a assustar - Primeiro procurem algo que possa ser usado para cortar ou uma porta para sairmos daqui, depois decidimos quem terá o prazer de cortar o fio.

Após alguns minutos revirando o porão, ou melhor, quase todo, pois ninguém se atreveu a chegar perto dos dois corpos inatos, nada havia sido encontrado, Raquel parecia estar em transe, Cíntia prestes a explodir de ansiedade e Lukas andando de um lado para o outro, enquanto repetia sua frase preferida.

-Eu não vou morrer! Eu não vou morrer aqui!

Luiz olhou para o chão e viu a caixa prateada. Qual o motivo dela estar ali?

– Que caixa é essa? – indagou Lukas.

- Encontrei ontem perto dos caixotes no deck inferior! Respondeu Luiz – É incrível, tem um diagrama com perguntas sobre as pessoas que estão no navio!

Cogitando diversas possibilidades e com alguns pitacos dos demais, em poucos minutos terminaram de formar as palavras e o resultado foi surreal.

- Fio Laranja! – disse Luiz pensativo.

NÃOO - Lukas mal terminou a frase. Tarde demais.

Raquel olhava atônita, para o fio laranja em suas mãos e o cronômetro do relógio disparado em contagem regressiva ...

00:30:10

00:30:09

00:30:08

00:30:07
......

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Presos no porão

Presa naquela semi-escuridão, Cíntia não sabia o que fazer, o desespero tomara conta de sua mente. Sentia um estranho calor subir por sua nuca, seu coração batia rápido e por mais que tentasse respirar, era como se o ar não enchesse realmente os seus pulmões. Somando-se a essa vertigem toda, ainda assim podia sentir o cheiro de sangue no ar, que vinha dos corpos de Sonia e Paulo.

O pouco de água que havia no chão misturava-se ao sangue e aos copros, deixando aquela visão ainda mais amedrontadora. O estômago de Cíntia revirava e depois de alguns instantes, o grito que ficara preso em sua garganta finalmente saiu. Em seu momento de vertigem, foi amparada por Luís, que apesar de todo o horror que vira, conseguia se manter firmemente em pé. Quando, ao recobrar o equilíbrio, viu rachel chorando ao lado dos corpos.

- O que aconteceu? – perguntou Cíntia a Rachel.

- Estava no quarto de Uriel e ele apareceu! Queria avisá-los, mas não tive tempo! Ele não está sozinho! Eu tentava ganhar tempo, mas surgiu outra pessoa e me derrubou com uma pancada na cabeça e agora acordei aqui!

- "Ela" quem??? – insistiu Luiz.

- Não me lembro direito, estou zonza - A pancada que Rachel levara na cabeça realmente foi forte, mas a pessoa que fez isso com ela provavelmente não queria matá-la, apenas tirá-la da jogada.

- Rachel, não confie no Uriel... prometa que vai tomar cuidado, sim? Algo me diz que ele não é flor que se cheire... - Rachel apenas acenou levemente com a cabeça, mas aparentemente não havia ouvido uma palavra sequer. Estava com os olhos fixos em um canto do porão. Com hesitação, ela levantou o braço e apontou. - O que diabos é aquilo?!?!?!

- Deus do céu, uma bomba! - Exclamou Lukas.

Em um dos cantos do porão encontrava-se um artefato. Não havia um contador como normalmente existem nas bombas, o que mostra que provavelmente era uma bomba que poderia ser acionada remotamente. Talvez aquele sinal que Cìntia interceptou fosse justamente por isso!

Cíntia estava pálida, visivelmente preocupada. Perdida em seus pensamentos, levou um susto ao sentir uma mão tocando seu ombro suavemente. Ao virar encontrou dois olhos azuis que lhe transmitiam calma, mesmo num momento tão tenso.

- Calma, vamos sair dessa, tenho um plano. - Disse Luiz.

- Sabe, outro dia um amigo meu disse que faria uma viagem para o exterior em um cargueiro, pois assim sairia mais em conta e ainda tiraria um extra pelo trabalho feito no navio. Na época, eu disse que ele era doido, que conforto era essencial, mas me vendo presa aqui neste lugar, acho que preferia mil vezes uma viagem exótica como as dele do que essa. Como me arrependo de ter aceitado este convite... - Cíntia esboçou um leve sorriso.

- Todos nós nos arrependemos, todos nós... Agora venham todos aqui, precisamos pensar juntos. - A visão que Cíntia tinha de Luiz começava a se modificar, o pouco contato que teve com ele foi somente tê-lo visto agarrando Téca, mas agora ele parecia ser uma pessoa mais centrada, realmente tinha outra impressão dele.

- Luiz, precisamos primeiro identificar como é o mecanismo dessa bomba para só então comçar... - Lukas estava falando quando é interrompido por Cíntia.

- Ih, lá vem... já vai começar a achar que sabe tudo né senhor Lukas Bittencourt? Deixa o Luiz falar, ele parece ser mais confiável que você!!!

- Cíntia, coloque-se no seu lugar, e pare de me pre-julgar como você sempre faz! - Lukas respondia sério.

- Ah, eu pre julgando você? Você que é um cafa... - Cíntia foi interrompida.

- Ei!!! Ei!!! O caslzinho poderia resolver suas diferenças depois??? Vocês tiveram tempo suficiente para isso antes de entrar nesse maldito navio!!! - Luiz falou, tentando apaziguar a situação.

- Hã? O que você sabe sobre o Lukas e eu? - Cíntia perguntou, confusa, pois nunca havia falado a ninguém sobre seu envolvimento com Lukas.

Depois deste comentário, um incômodo silêncio ficou no ar... Sem querer, Luiz acabou entregando saber mais do que aparentava.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Remedinhos

Téca sempre foi descolada! Desde muito jovem sabia que chamava a atenção dos homens por ter uma beleza exótica, usava de seu poder de sedução e sempre conseguia o que queria...

Depois de alguns dias dentro daquele navio, onde tudo acontecia e de saco cheio de receber ordens, decidiu relaxar um pouco. Ia finalmente comer e se possível beber o que tivesse...e foi o que fez!

Adentrou a cozinha e o cheiro bom da comida que Luiz preparava era tudo que precisava. Téca estava vestida de forma simples, mas o ar sedutor ela não perdia. De chinelinhos vermelhos e um vestido curto floral, que deixava à mostra seu colo,que era o que ela mais gostava depois dos cabelos ruivos, percebeu os olhares de Luiz e Lukas em seu decote. Jogou conversa fora com eles e com Cíntia, e após entregar um bilhete ao bonitão Lukas, saiu em direção à cabine do jornalista. Decidiu ser simpática e foi chamá-lo para jantar. Foi recebida de forma fria e disse que não estava afins de jantar.

Detestava ser tratada assim, mas como também não ia muito com sua cara, não se importou. Enquanto jantavam, Téca que estava sentada de frente pra Luiz, começou a flertar com ele, o que prontamente retribuiu o flerte.

Ela mais bebeu vinho do que comeu...por baixo da mesa esfregava seu pés nas pernas de Luiz e percebendo em seu olhar a excitação que causava nele, sorriu cinicamente. Logo todos saíram deixando os dois sozinhos, e antes que Luiz pensasse em sair, Téca agiu. Sentou no balcão de mármore e com ares de menina,mas com olhar de mulher chamou Luiz:

- Vem cá, vem ...
­- Não faz isso comigo! Estamos prestes a ir pelos ares e...


Téca puxou-o entrelaçando as pernas em sua cintura e balbuciou em seu ouvido:
- Pois se é pra morrer, então prefiro morrer matando o meu desejo!

Foi impossível Luiz resistir. Entregaram-se ali mesmo ao fogo que seus corpos exalavam. As mãos de Luiz percorriam o corpo de Téca por baixo do vestido, e ela puxava-o cada vez mais para si.

-Vamos para minha cabine Luiz..terminar o que começamos!

No caminho até a cabine, pararam diversas vezes, em meio a beijos quentes e sussuros de Luiz, dizendo a Téca o quanto ela mexia com ele. Mal entraram e Luiz foi arrancando o vestido dela, enquanto a beijava inteira. Ela o jogou na cama e por cima dele, dominando toda a situação (do jeito que gostava) chegaram ao êxtase.

Cansados, deitaram um pouco enquanto conversavam sobre suas vidas, sobre o tempo que Téca morou na Europa, os países que conheceu, e acabaram adormecendo...

Téca acordou assustada, com seu pager tocando, e ao perceber que Luiz ainda cochilava, saiu na ponta dos pés e foi até o banheiro.

Ao ler as primeiras linhas da msg, de cara percebeu que tinha algo estranho...a forma grosseira e incisiva das outras msg, tinha sumido e dado lugar a uma mensagem de forma até cuidadosa..

“ Téca, vá até onde deveriam estar os botes agora! Vasculhe aquela área e vai encontrar um pacote pra você! Não abra na frente de ninguém e nem comente seu conteúdo. Na hora certa você poderá contar para uma única pessoa que está aí também. Até segunda ordem. Depois se quiserem poderão se unir e contar para os outros. Junto com isso, ainda tem mais uma coisa pra você, pois sei bem o quanto precisa deles. Seja sempre muito cautelosa e confie, tudo vai dar certo.”

Téca não entendeu nada...mas resolveu seguir as ordens...vestiu rapidamente sua roupa, e ainda ficou em dúvida se acordava ou não Luiz. Depois, lembrou-se que não poderia acordá-lo pois ele iria querer saber onde ela iria. Resolveu deixá-lo dormindo, até que fosse buscar e rapidamente voltaria. Ele não iria perceber.
Subiu as escadas num tiro, e logo estava lá, no lugar onde deveriam estar os botes...fuçou um pouco e encontrou num cantinho discreto, um pacote. Sem remetente, óbvio.

Seu coração estava disparado, e sua boca seca de ansiedade enquanto se desvencilhava do papel pra desembrulhar...

Abriu e de cara encontrou alguns frascos com comprimidos, e viu que pelos rótulos, eles eram seus conhecidos das antigas! Junto com os frascos, um calhamaço de papéis...

Sentou naquele canto reservado e começou a ler o conteúdo! Ao tempo em que lia, lágrimas desciam seu rosto e suas mãos trêmulas mal conseguiam segurar os papéis. Balançava a cabeça como que negando tudo o que estava lendo...

Junto com os papéis, ainda tinham diversas fotos que Téca nunca tinha visto antes...Fotos de pessoas estranhas, uma foto de uma garotinha de uns 3 anos no colo de uma senhora que nunca tinha visto antes...seria aquela garotinha ela mesma???

Téca que havia levado sua bolsa junto, pegou um cigarro, e a garrafinha d’água. Abriu um dos frascos e tomou logo 3 dos comprimidos. Era muito pra ela tudo que estava lendo, precisava de alguma forma se acalmar. De repente, começou a tentar juntar as peças, reviu a msg no pager, e a única coisa que conseguiu concluir era que aquela mensagem não era da mesma pessoa de antes, e que essa pessoa, conhecia muito bem ela, e que de certa forma parecia gostar dela...o que explicava os frascos e seus remedinhos...afinal, desde que chegara no navio estava sem, e já começava a ter os famosos pesadelos!

Lembrou de Luiz, sozinha em seu quarto, e desesperou-se. Podia ser perigoso deixá-lo lá tanto tempo. E já meio zonza, sob os efeitos do remédio desceu as escadas rapidamente, ao mesmo tempo em que balbuciava pra si mesma com o pacote nas mãos:
-“ Justo ele? Não, isso não pode ser verdade!!!”

Entrou no quarto e Luiz já não estava mais...Guardou nem sabe como o pacote que recebeu, e sentada ao lado da cama, o que via naquela hora eram apenas vultos e mais vultos.

Tudo fruto de sua imaginação, por conta dos “remedinhos”...

Téca entrou em transe e não viu mais nada...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Código Revelado

- Claro, como pude me esquecer disso: MARCO VINTE!

Muito embora Vila Nova tivesse conseguido se lembrar de como aplicar o código MARCO VINTE, custava acreditar no resultado da tradução.

- Não. Não faz o menor sentido... Não consigo acreditar que ela possa estar envolvida nessa teia... O que mais falta acontecer por aqui?

Cláudio chegou à conclusão de que era necessário agir. De alguma forma, precisava ter algo do controle das rédeas em suas mãos. No momento, o que estava ao seu alcance era descobrir outras informações importantes e coagir Lukas a fazer exatamente o que ele queria. Desta forma, deixou o código de lado e começou a trabalhar no que vinha em sua mente. O Dom Juan havia entendido perfeitamente que o jornalista sabia seu segredo e que estava disposto a usá-lo em seu favor. Os dois precisavam conversar.

Mais tarde, bateram na porta do seu quarto. Cláudio atendeu, certo que se tratava de Lukas. No entanto, a pessoa a sua frente era Téca, a mulher de cabelos ruivos.

- Vim chamá-lo para jantar. O tal Luiz preparou algo para todos nós. Está quase pronto. Disse, olhando-o de cima a baixo.
- Me sinto meio indisposto. Acho que preciso respirar ar puro.
- Você também? Lukas acabou de dizer a mesma coisa, minutos atrás.

O ar cínico da moça causava certo incômodo ao jornalista. Alguma coisa nela o irritava. Sentiu que aquela sensação era recíproca. Assim, despachou-a rapidamente.

- Bom, obrigado. Vou ao convés, primeiro, depois eu apareço para o jantar.

- Como quiser. Respondeu Téca, virando-se e seguindo na direção da cozinha.

No caminho, Vila Nova esbarrou em Lukas. Olhou para o rapaz, que percebeu que aquilo era um sinal. Como estavam próximos de pontos onde, possivelmente, haveria a presença de câmeras, os dois seguiram em direções opostas. Cláudio se distanciou, rumando para o convés e ficou aguardando o outro chegar.

Disfarçando tranqüilidade, Lukas, ao se aproximar, disse:

- Então, nos encontramos novamente.
- Sim... E você precisa me esclarecer alguns pontos.
........................................

Os dois conversaram por cerca de meia hora. Perceberam que, para não levantarem suspeitas, era hora de voltarem para o interior do navio. Foi o que fizeram.
Quando Vila Nova chegou em seu quarto, notou que havia mais um bilhete sobre sua cama. Abriu o envelope e começou a leitura:

Agora, você está com o livro. Mantenha Lukas sob seu controle. Implante informações equivocadas, engane, minta. Para você, não é uma tarefa tão difícil, não é verdade?

Não será permitido um milímetro de equívoco. Continue interpretando o seu papel. É o que te compete, nessa teia. Siga todas as ordens e será poupado de muitos dissabores, até mesmo da morte.

Há mais uma coisa que você deve fazer:

........

Cláudio não queria acreditar no que lia. Não queria... Respirou fundo. Guardou o bilhete e foi jantar com os demais.

- Se há alguém aqui que gosta de mim, há outro que me odeia.

Antes de sair, viu que o livro, cuja página 213 guardava o criptograma havia sumido. Preocupou-se ainda mais. O responsável pela mensagem criptografada, provavelmente, era o mesmo que lhe dera o código para decifrá-la e a arma contra Lukas. Agora, o livro que estava em seu quarto desaparecera. O que isso poderia significar?

VOU SEBNARHE OSCEU CORCIRDE PNECOGON METÔS DEAS TERFAO OV ASIDENI VIS CORHI CUADIDE

M A R C O
V I N T E

Substituindo as letras: M, A, R, C, e O por V, I, N, T e E respectiva e reciprocamente, tem-se: M igual a V, A igual a I, R igual a N, C igual a T e O igual a E. As demais letras do alfabeto que não constam no código permanecem como são e estão. Bom, se não me engano, é desse jeito”.
Dizia para si mesmo.

Ela me ensinou isso há anos! Como soube que eu me lembraria? ... Agora, o que mais me impressiona: Por que ela está envolvida nisso, por quê?”

O jornalista angustiou-se com tudo que vinha a sua mente, mas não havia tempo para tantos pensamentos e angústias. Assim, levantou-se, saiu da sua cabine e seguiu em direção à cozinha. No caminho, entretanto, outra interrogação invadia a sua mente:

A quem mais ela está querendo proteger?”

Antes que se encontrasse com os outros, Cláudio percebeu que alguém se aproximava, como se não quisesse ser visto. Resolveu se esconder e ficou observando. Era uma mulher... Rachel Maccioti acabava de entrar num dos quartos. Vila Nova achou estranho e logo concluiu que aquela cabine não era dela.

Quando entrou na copa, notou que o jantar estava posto. Ao redor da mesa, Luiz, Téca e Cíntia.

- Não somos sete? Perguntou o jornalista.
- Pois é, Lukas e Rachel estiveram por aqui. Ela saiu primeiro e ele disse que precisar respirar ar puro. Acho que não se sentia muito bem. Quanto a Uriel, não o vi mais, desde quando encerramos as buscas. Respondeu Luiz. - Mas sente-se conosco. Sirva-se.

Enquanto fazia isso, Vila Nova se recordava da ordem expressa no bilhete: Há mais uma coisa que você deve fazer....

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Lobo(s) Em Pele De Cordeiro

Lukas subiu correndo as escadas.
Arfava pesadamente e raciocinava numa velocidade impressionante.

-Eu não vou morrer! Eu não vou morrer aqui!

As mãos sujas de sangue, a roupa molhada e somente uma certeza: aqueles filhos da putas iam pagar!
Procurava ainda entender o motivo de estar naquela enrascada e algumas conexões se encaixaram em sua cabeça!
Mas precisava de mais informações!
Vila Nova, Téca e Uriel!
Eles eram as peças que precisava decifrar.
Se sobrevivesse àquela caçada, ele ia querer vingança.
Parou no fim do corredor e ouviu os passos se aproximando. Era a hora da verdade. Sabia que ia morrer.
Mas pelo menos veria o rosto daquele maldito.
Ele estava próximo, podia sentir.
Virou o corredor e ele viu a sombra.
As sombras!
Seriam dois?
Respirou aliviado quando os viu.

-Cíntia! Luiz! Que bom que são vocês! Fui atacado! –disse Lukas e despencou no chão, sentado em posição fetal, com as mãos ensangüentadas cobrindo a cabeça.
-O que aconteceu? Que sangue é esse? –desesperou-se Cíntia.

Não deu tempo de Lukas responder.
Luiz apoiou-se na parede e quando se deram conta, desciam por um alçapão.
Escuridão total e um grito de Cíntia!
De um lado, os corpos de Sônia e Paulo. Mortos! Não restava dúvida!
Cambaleante, tentando se manter em pé, uma Rachel atônita olhava para o grupo.

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Horas antes o impensável acontecera.
Um livro com o símbolo da Guerreiros de Fogo, Sociedade Secreta de que Lukas fizera parte aparecera, do nada, nas mãos de Claudio Vila Nova.
Lukas, a princípio se desesperou, mas resolveu não falar nada no momento, uma vez que Uriel estava por perto.
O passo seguinte de Lukas foi ter uma pequena reunião com Luiz Shumy, seu parceiro.
Ambos trabalhavam para a mesma organização e, vez por outra, eram parceiros em alguns casos especiais.
Encontrar Luiz naquele cruzeiro foi um alívio para Lukas, a princípio.
Depois, com o rumo que tudo tomava, ele se deu conta de que ambos poderiam ter se metido numa enrascada.
As ordens contrariavam os princípios da organização e eles não tinham muitas informações.
E, desde o momento que entraram naquele negócio, haviam sido treinados e lembrava-se de uma aula específica onde o instrutor dissera:

-Informação é fundamental! Antes de agir, pesquisem, conheçam o adversário. Uma missão só dará certo se souberem tudo sobre o seu oponente.

E agora, estava ali com Luiz e mais outras cinco pessoas, sem qualquer informação para ajudá-los.
Tinham apenas peças: uma caixa trancada, dialetos estranhos, programas de computador, livros e muita chantagem.

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Na cozinha, Shumy, Rachel, Cíntia, Téca e Lukas conversavam.
Fingiam naturalidade enquanto preparavam algo para comer, e quando Rachel saiu, Téca chamou Lukas num canto.

-Bonitão, acho que isso é pra você! Desculpe ler o bilhete, mas só soube que era seu, quando vi seu nome! –sorriu Téca.

Lukas pegou o bilhete de suas mãos e disse que precisava respirar um pouco de ar fresco.
Stranger estava de volta! E queria falar com ele.
Mas antes , acabou encontrando com Claudio Vila Nova.
Stranger podia esperar um pouco. Ele tinha um assunto muito sério a resolver com o jornalista.

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A conversa com Vila Nova deixara Lukas transtornado, mas ele não tinha tempo para pensar naquilo agora.
Desceu até a sala de máquinas, como dizia o bilhete e aguardou.
Então aquela voz metálica tomou conta do lugar e Lukas se arrepiou.

-Caro Lukas, percebo que consegui enganá-lo! Aliás, como enganei a quase todos! Mas tenho bom humor. E como o jogo já está avançado é hora de dar-lhes mais algumas cartas. Vocês são sete. Mas nem todos são cordeiros. Existe um lobo entre vocês. Talvez até mais de um. Cuidado em quem confia. Meu objetivo com esse jogo é somente um: vingança! Cada um de vocês deve pagar! Mas se forem espertos e jogarem dentro das regras, MINHAS regras, podem sobreviver. Utilizem os brinquedinhos que disponibilizo. A caixa com seu parceiro traz o nome do Lobo dentro!

A voz calou e Lukas sentiu um soco certeiro no rosto.
Caiu desacordado e nem soube quanto tempo ficou assim.
Acordou no chão, todo ensangüentado.
Sua cabeça doía e sua visão estava turva.
Tentou identificar o lugar e se deu conta do que tinha à sua volta: bombas!
O navio ia explodir! Estavam todos perdidos.
Mas não teve tempo de raciocinar muito pois ouviu passos à sua volta.
Estava no compartimento mais inferior do navio e saiu em disparada à superfície e só pensava em uma forma de manter-se vivo!

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Apararam Rachel que começou a chorar compulsivamente.
Queriam saber porque ela estava ali ao lado do corpo daqueles dois.

-O que aconteceu? –perguntou Cíntia!
-Estava no quarto de Uriel e ele apareceu! Queria avisá-los, mas não tive tempo! Ele não está sozinho! Eu tentava ganhar tempo, mas surgiu outra pessoa e me derrubou com uma pancada na cabeça e agora acordei aqui!
-“Ela” quem???
–insistiu Luiz.
E Lukas olhou para cada uma das pessoas presas naquele compartimento.
Por que Uriel, Vila Nova e Téca não estavam ali?

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Guerra Declarada

Rachel procurava esquecer sua fadiga e apertava os dentes para não gemer, tanto que lhe doíam o corpo e os membros, a cabeça latejava.

Acuada, naquele cômodo escuro, só escutava o barulho do mar misturado ao vento batendo no casco do navio e a chuva que caía sem piedade... nenhuma voz conhecida, nada que lhe desse um alento de poder sair viva dali. Seu olhar abraçava as sombras, um medo aterrorizante dominava-lhe, mas Maccioti resolveu lutar pela vida. Respirou profundamente e relembrou tudo que acontecera naquele dia fatídico.

O dia fora quente, porém o silêncio do fim de tarde denunciava a tempestade que viria ao cair da noite. De maiô preto e canga azul, Rachel que tinha ouvido um breve trecho da conversa entre Luiz e Lukas, foi até a cozinha e aproveitando-se de que o primeiro deixara o ambiente, aproximou-se do Dom Juan de olhos verdes e disse-lhe ironicamente:

- Está trabalhando com mais alguém, mocinho? Achei que tínhamos um trato, meu caro.

Num gesto muito preciso, Lukas, gira em torno da mulher, prende-lhe os braços nas costas e a deixa presa, bem de frente, de modo que os lábios de ambos ficam a centímetros de se tocarem.

-Rachel, anda ouvindo muito atrás das portas, não? Acho que você sabe mais do que me revelou. Precisamos conversar mais. De onde conhece Cíntia? Se temos um trato, temos que jogar limpo... - seus olhos mostram um brilho passional- Eu também vi os seus olhares para Uriel e não gostei nadinha, moça! Já te falei que sou ciumento?

-Eu conheço Uriel... e a Cíntia também! Parece que você se perde por qualquer beijo e esquece que isso é um jogo de vida ou morte! Estamos todos envolvidos nessa Teia, ainda não percebeu?! - dizia em tom alterado enquanto tentava desvencilhar-se das mãos fortes. - Você está me machucando, Lukas!!!

Sussurrando ao seu ouvido, Lukas diz:

- Aguardo você no final da noite, no mesmo lugar de cedo, certo? E tenha juízo, moça!

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Saindo da cozinha, Rachel seguiu Uriel que se dirigia à sua cabine. Depois de ouvir o som do chuveiro ligado, entrou no quarto.

Atenta, seus olhos passearam por todo o quarto até serem puxados como um imã para o laptop em cima da mesa. Aproximou-se e observou detalhadamente a tela.

- Infeliz!!! Uriel, Uriel, você está jogando do lado errado!!! Decifrar essas mensagens é a única forma de sairmos vivos daqui!!!

Pensou rápido, sabia que estava sendo vigiada por câmeras de segurança, mas não pôde conter o impulso, sentou-se, teclou rapidamente alguns números, achou a seqüência que desejava, encontrou um CD na maleta de Uriel e rezou para que ele não saísse do chuveiro antes que realizasse aquela operação.

Na tela, o download foi concluído. Rachel pegou o CD e saiu do quarto em direção à cozinha do navio. Antes ela reprogramou a criptografia do vírus para invadir o sistema do próprio navio. Precisava entregar a alguém de confiança! Encontrou reunidos na cozinha, Téca, Luiz, Cíntia e Lukas. Chegou perto deles, olhou a carne que era preparada.

- Hum... que cheiro bom! - Esbarrou em Cíntia e deixou o CD escorregar para as mãos dela. – Estou morta de fome! - Certificando-se de que a amiga recebera o CD - Vou tomar um banho e já venho para o jantar! - Tropeçou novamente de forma proposital em Lukas, tentando driblar as câmeras.

**************************

Rachel andava pelo convés pensando em voltar para sua cabine, as informações eram tantas que tinha que tomar cuidado para não se trair, não dar nenhum passo em falso. O jogo ficava mais e mais perigoso. Cíntia, Uriel, Téca, Lukas, Luiz, Cláudio: o que todos eles faziam ali? Uma coisa era certa, ela tinha que conseguir um jeito de unir todos eles. Para ela era nítido que a resposta estava aí, somente juntos, sairiam dali.

Pensando assim, arrependida voltou à cabine de Uriel, estava disposta a revelar-lhe que ela era Ana e pedir a ele que jogasse no mesmo time dela.

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Acordou. Espreguiçou-se. Olhou para o homem ainda nu ao seu lado e lembrou-se da intensidade do que viveram. Era a primeira vez que se entregava a outro homem depois de Ranald. Uriel tinha sido maravilhoso.

Levantou-se, escreveu um bilhete:

“Uriel, você foi perfeito! A noite foi maravilhosa. Agora sei que posso confiar em você. Reverti a frequência das mensagens em seu laptop e salvei as originais. Ao fim da transmissão, o vírus invadirá e destruirá o sistema central do navio. Sei que é arriscado, mas eu precisava tentar. Perdoe-me. Foi para o bem de todos. Preciso de você do meu lado. Cíntia trabalha comigo e foi ela que me ajudou a conseguir a senhas que lhe passei no bar. Confie em mim, aconteça o que acontecer. Não siga as regras. Apenas finja! Depois lhe explico sobre o encontro no cais. CONFIE EM MIM! Beijos. Rachel”

Vestiu-se, passou um batom e colocou o bilhete na cama, escondido entre os lençóis. Ao sair do quarto, surpreendeu-se:

- Você?!

- Eu mesmo, Rachel Maccioti! Tem boa memória, menina! É inteligente e astuta. Mas infelizmente joga no time errado. Achou que ia ser tão fácil assim? Depois de tudo que me fez, achou que era só escrever alguns bilhetinhos e ia despistar a segurança?

Uma risada irônica assustou a mulher que estava com a respiração entrecortada. O perigo era iminente. Ela agora tinha certeza que tinha declarado guerra a alguém muito poderoso. Antes que lhe ferisse, era preciso deixar alguma pista para os outros.

“Pense, pense, Rachel. Não vá desistir agora...”

O batom, claro!

- Você sempre foi mais inteligente, sempre! Diga-me o que posso fazer para jogar as cartas certas. Você sabe que eu quero sair viva daqui... faço o que você quiser.

Enquanto falava, com o batom, Rachel tentava escrever o nome daquela pessoa que lhe ameaçava na porta do quarto de Uriel.

Não viu mais nada. Uma forte coronhada e tudo escureceu.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Névoa

Uriel agarrou o braço de Lukas, e quando conseguiu ficar a sós com ele, olhou fundo e sério nos olhos de um Lukas inseguro. Ele tinha certeza de que Lukas sabia muito mais do que demonstrava. Mas nesse momento, Vila Nova chegou trazendo um livro antigo, o que perturbou Lukas visivelmente.

Uriel largou o braço de Lukas, que ainda estava assustado com aquele livro antigo. Fosse o que fosse, Vila Nova tinha um trunfo contra Lukas, e Uriel sabia que poderia confiar naquele jornalista.

Logo assim que Cíntia apareceu, falando sobre criptografia Uriel entendeu o que a voz no celular via-satélite queria dizer, quando ligou após a noite em que fora sedado.

“Instale o bloqueador de celulares... Acione o misturador de freqüências. Programe esse laptop para enviar uma mensagem criptografada. Logo, alguém no navio vai começar a receber esta mensagem como dados aleatórios. Você vai criptografar e enviar o código do vírus que você criou, destruindo o software da telefônica. Caso consiga decifrar, quem receber vai descobrir, antes que possa fazer qualquer coisa, que esse código vai deletar a trilha zero de todo e qualquer hard disk que a receba, basta tentar decifrar o código. Você deve neutralizar Cíntia, use todos os meios... Ninguém vai acessar a Internet... Tente manter a aparência de um milionário... Fale pouco... Escute minhas ordens... ou todos morrem!...”.

Uriel agora lembrava mais claramente de sua missão. Deveria neutralizar Cíntia com todos os meios que tivesse. Ele entendeu, pelo comentário no convés, que Cíntia estava recebendo a mensagem que deixara seu laptop enviando pela intranet wireless do servidor bloqueado do navio. Com as freqüências misturadas, conseguiria reduzir o sinal wireless a níveis instáveis e controlados pelo servidor do barco. Isso iria enfraquecer o sinal fonte.

Cíntia agora estava na Teia. Restava saber o que “Ana” estava fazendo naquele navio, e tentar manter segredo sobre as bombas. Não conseguia pensar em outra coisa. Chegou à conclusão que se a voz no celular queria Cíntia neutralizada, é porque ela poderia de alguma forma, atrapalhar os planos. Agora ali, entre Lukas, Villa Nova e ele, Cíntia parecia até ingênua achando que enganaria Uriel.

Olhou discretamente para Vila Nova, encarando-o rapidamente. Só ele saberia decifrar os códigos, pois ainda lembrava de como ele era aficcionado em criptografia.

Uriel seguiu até o deck abaixo, onde todos se reuniram para dizer o que haviam descoberto. Ele observou que as câmeras do corredor viraram lentamente para ele. Sentiu um arrepio ao saber que estavam acompanhando todos os passos de cada um. Resolveu calar sobre as bombas por enquanto.

Voltou até seu camarote, tirou as roupas, e entrou no chuveiro... sua cabeça fervilhava com os acontecimentos, Lukas falou sobre um quebra-cabeça, e Uriel sabia que tinha muitas das peças... A água quente molhava todo o seu corpo definido... ele fechou os olhos no meio do vapor. Sua mente recapitulava imagens, sons, impressões... quando de repente sentiu um movimento no banheiro. Passou a mão no vapor do blindex, e olhou para o espelho. Tomou um susto imenso ao se deparar com Rachel, que escrevia no vapor do espelho...

“Não fale nada agora... Podem nos ouvir...”

Sentiu seu coração disparar ao ver aquela mulher ali. Sabia que ela entrara em seu quarto e com certeza vira o laptop que ainda enviava o código criptografado.

No banheiro, enrolado na toalha, observou que Rachel o olhava intensamente. O vapor trazia uma névoa tênue ao ar. Ouviu sua voz, segura e suave...

- Você me conheceu em um bar escuro, cheio de névoa... engraçado que eu te reencontro aqui, no meio desta névoa, agora sem maquiagem...

Uriel agora achara mais uma peça! A voz era a única coisa que lembrava de “Ana”, a hacker que havia lhe fornecido parte das senhas para abrir o portal de oito segundos...

- Como você veio parar aqui? Como eu vim parar aqui? Ana... era para tudo dar certo, eu vim encontrar VOCÊ no cais, e de repente tudo fica escuro e acordo em um barco cheio de estranhos, com você a bordo, e com Vila Nova...
Rachel agora olhava fixamente para Uriel. Ela estendia a mão para ele, com um pedaço de papel. Ele pegou o papel, onde leu:

"Uriel, não fale nada, podem nos ouvir. Chamo-me Rachel, não me chame de 'Ana'... No quarto há microfones e câmeras, no banheiro podemos conversar. Ligue o chuveiro."

Uriel voltou a ligar o chuveiro, sem, no entanto tirar os olhos de Rachel. Como não percebeu antes? Ela falou algumas vezes, mas ele não a reconhecera.

Para assombro do rapaz, Rachel entrou no pequeno Box, retirando a canga florida azul que lhe servia de saia, ficando apenas com seu maiô preto. Ele nem percebera que estava completamente nu. Como aquela hacker fascinante e inteligente poderia estar ali, naquela mesma situação dele?

Rachel chegou seu rosto bem próximo ao rosto do rapaz.

- Eu estou tão cheia de perguntas quanto você, Uriel... como pude acabar aqui? Porque? Só você saberia onde encontrar comigo...
- Eu não sei do que você está falando... eu fui dopado e acordei aqui.
- Só poderemos sair daqui vivos se nós trabalharmos juntos.


Uriel sentia-se constrangido, com aquela linda mulher, no box apertado, sem roupas, falando-lhe calma e mansamente.

- Eu não sei, Rachel... estou bem mais feliz de saber que você está aqui. Eu preciso te mostrar algumas coisas.

- Não podemos falar fora daqui... tenho certeza de que há microfones e câmeras no quarto. Escrevi o bilhete no vidro porque se há uma câmera atrás dele, não pegaria o recado no vapor. Aqui neste box, o vapor nos esconde, e o som da ducha abafa os sons...

- Eu... acho que... devo vestir alguma coisa... – Uriel escondia-se com suas mãos em conchas.

Estava visivelmente ofegante... definitivamente estava feliz por saber que alguém da Internet estava ali com ele, para lhe auxiliar a lidar com a situação.

Olhou bem firme para Rachel... as gotas de água corriam pelo rosto que só vira antes com muita maquiagem... ali estava uma linda mulher, talvez confiável, mas era a hora de ter uma aliada, e Uriel estava certo de que “Ana” ou Rachel era a aliada mais apropriada para o momento.

E aqueles olhos mostravam certo medo, sentia que ela pensava estranhamente, o mesmo. Estava assustada, e Uriel conhecia as mulheres.

Os lábios tenros e carnudos entreabertos, as gotas escorrendo... Ele sentiu vontade de abraçá-la. Estava ali, num cruzeiro, em um navio cheio de explosivos, sentindo-se só.

Sentiu as mãos de Rachel percorrer seus antebraços e afastar-lhe as mãos, descobrindo-lhe o corpo. Ele olhou fixamente naqueles olhos, e abraçou-a tenramente. Seu corpo emanava um leve perfume, ainda perceptível sob a água quente, a névoa encobrindo o banheiro, ele abraçou-a e a levantou apertando seu corpo contra o seu.

Colava agora seus lábios naqueles lábios róseos e um tanto inseguros. Beijou-a tão demorada e sofregamente enquanto abraçava aquele corpo lindo.

Delicadamente, despiu-a de seu maiô preto, revelando um corpo sensual, de pele macia. Um novo território que as mãos de Uriel exploravam devagar e tenramente. Logo as mãos de dela percorriam os músculos do rapaz.

Podia perceber que ela estava um tanto inibida, mas sentia que era o momento. Ele beijou-a mais uma vez, e seus corpos esquentavam sensualmente. Suas mãos exploravam as curvas daquela mulher misteriosa e fascinante, perdiam-se entre seus segredos, passeavam como em um tecido macio...

Levantou-a no colo, e mesmo molhado, carregou-a até a cama de casal. O contraste daquela pele rósea, realçada pelas gotas prateadas com o edredom branco era uma visão maravilhosa. Deitou por cima daquela mulher decidida, e logo estavam em um ritmo progressivo, numa dança de dois corpos, onde bocas se perdiam, olhares se furtavam, e onde navios e bombas não importavam mais.

Rachel ofegava sensualmente, e seu som baixo era cada vez mais excitante. Ele penetrou em seus segredos, mergulhou em um mundo macio de carne sedosa, ela cruzava seus braços nas costas másculas e musculosas.

Ficaram assim, longe do mundo, longe da vida, longe da morte...

Rachel esquecera do navio, cavalgavam em seus corpos até o infinito, tão longe, tão suave e marcante, tão quente e sensual... os sons eram sussurros orquestrados, harmônicos...

Viajavam nas nuvens, via as estrelas, sentiam-se livres... Ali, naquele amor delicioso, esqueceram que um "amanhã" poderia não acontecer... mas certamente, para surpresa de ambos, poderiam contar um com o outro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Entre os dois...

Aquele era o sinal.

Disfarçadamente, afastou-se de Lukas e seguiu as escadas em direção ao convés.

As informações eram muitas e as mais variadas, não podia perder nenhum detalhe. Algo lhe dizia que tudo tinha sentido, mesmo que aparentemente o quebra-cabeças não se encaixasse... sabia que suas suspeitas era muito fortes e provavelmente quem estava por trás de tudo era a mesma pessoa que precisava desmascarar de uma vez por todas.

Não podia cometer erros, tinha ido longe demais para voltar atrás... não podia nem sequer pensar em desistir agora, mesmo nos momentos em que o arrependimento batia-lhe à porta do coração, não podia dar brechas a sentimentalismos.

Divagando assim, parou de repente, ao ver em sua frente aquela pessoa, cujos cabelos esvoaçavam-se ao vento forte da tarde.

- Então, nos encontramos novamente...

- Sim... e você, precisa me esclarecer alguns pontos.- Dizendo isso, pegou-lhe no braço e conduziu até um canto do convés onde averiguou minuciosamente que não pudessem ser vistos ou ouvidos por nenhum dos demais passageiros do cruzeiro.

- Eu lhe disse que podia confiar em mim, não disse?

- Disse e eu lhe dei crédito e o tempo que me pediu, agora as coisas se complicaram com esse cruzeiro maluco e eu preciso dos “documentos” que me prometeu. Já os tem em mãos?

- Está tudo comigo, muito bem guardado, por sinal... mas há algo que não está muito claro para mim. Como VOCÊ veio parar nesse cruzeiro??? Não consigo entender isso. Será que “ELE” descobriu?

Os dois se olharam nos olhos como se ambos, ao mesmo tempo tivessem tido a mesma idéia e disseram em coro:

- O “ARANHA” só pode ser...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Mediterraneo

A noite começava a cair, fazendo com que todos pensassem em comida pela primeira vez no dia, decidiram tomar um banho e se reencontrarem logo mais. Luiz estava muito agitado, sua cabeça fervilhava em busca de uma lógica para todos os acontecimentos. Seguiu até o salão principal e retornou para a balaustrada com uma garrafa de wisk 12 anos. Pelo menos a marca era de boa qualidade. Estava saboreando a bebida no melhor estilo cowboy, quando ouviu passos e sem olhar para trás disse:

- Divertindo-se? - Perguntou enquanto oferecia a garrafa de whisk ao recém chegado.

- Tanto quanto você! Alguma novidade?

- Achei uma caixa metálica com cadeado e uma espécie de caça palavras escrito em Aragonês.

- Lembro vagamente desse dialeto, é espanhol correto?


- Sim, é uma língua românica, falada na Península Ibérica, mas principalmente na região de Aragão, onde se pressupõe ter tido origem. Um dos momentos chaves na história do aragonês foi quando Fernando de Aragão, de origem castelhana foi coroado rei no século XV, a união de Aragão e Castela e a progressiva suspensão de toda a capacidade de autogoverno no século XVIII fez com que o dialeto aragonês perdesse seu espaço ante a expansão do castelhano, a supressão do aragonês foi mais intensa durante o regime do ditador Francisco Franco no século XX, com a tomada das regiões rurais e coloquiais. As cidades principais onde ainda se podem achar faladores patrimoniais do aragonês são: Huesca, Barbastro, Saragoça, Ejea, e Teruel. Segundo me lembro, o total de faladores não supera os 30.000, fazendo que o aragonês seja uma das línguas européias com maior perigo de extinção.

- Pelo visto nosso navegador maluco é apreciador da cultura européia.

- Tenho fortes indícios que sim. Téca trabalhou para o Armand na filial de Londres, no mesmo período em que Raquel trabalhava aqui no Brasil.

- Interessante! Cíntia e Raquel se conhecem da mesma época. Precisamos descobrir a ligação dos demais. Confesso pra você, Luiz, que não vejo a hora desse cruzeiro acabar. Acho que é o trabalho mais ingrato em que já me meti. Fora que não estou gostando nada, nada de ser chantageado.

-Pois é parceiro... Mas me diga, qual o seu segredo? Te juro que achei que no meu envelope não teria nada, mas me surpreendi com o conteúdo.

-Fala sério, Luiz. Não tenho segredos...

-Lukas, Lukas... Me engana que eu gosto!

-Não engano, meu caro! Apenas me privo de te fornecer detalhes da minha vida... Você conhece bem esse pessoal para quem trabalhamos, não vou me expor...

-Certo, tá mais que certo, Lukas! Eu também não vou matar sua curiosidade. Porque sei que está curioso pelo conteúdo do meu dossiê... Mas me diga, como faremos? Continuamos a fingir que não nos conhecemos, correto?

-Exatamente... E vamos seguindo as ordens... O problema é que eu já nem sei quem está no comando. E, sugiro, abra os olhos com essa Téca, ela não é flor que se cheire! Eu estou de olhos abertos com a Rachel e com a Cíntia... Fora aquele Uriel...

-Esqueceu do jornalista, meu caro... Pra mim ele é perigoso... Esse jeito certinho, não me convenceu! Ele poderia era ser um grande ator, isso sim! Quanto a ficar de olhos em Cíntia, acredito não ser grande problema para você.

- Chega de conversa, vamos nos juntar aos demais.

- Ok, mas pode deixar que eu cozinho, lembro muito bem da plasta que você fez da ultima vez em Cantazaro.

- Meus dotes são outros, bem outros, ainda mais naquela região.

Por alguns minutos deixaram os problemas de lado e caminharam até a grande cozinha. Enquanto Lukas abria as portas dos armários em busca de alimentos, Luiz foi investigar o que tinha na dispensa, entretido com a comida, levou alguns segundos para perceber a voz alterada de Lukas com outra pessoa, sim, era a voz de Raquel. Sua cabeça voltou a raciocinar freneticamente.

- É isso, a primeira charada só pode ser para ela. – disse em voz alta

- Ela quem? – Teca sorria ironicamente na entrada da dispensa ao lado de Cintia.