sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Infiltrados

– Você... Você... É você!!!

Lukas olhava incrédulo para seu chefe, agora finalmente com sua face revelada. Desde jovem sempre gostara de romances policiais, lendo desde Arthur Conan Doyle até Agatha Christie, a "Rainha do Crime". Por esse interesse todo, sempre acompanhara as páginas policiais dos jornais e, ao receber o convite para juntar-se à FIAE, não pensou duas vezes. Agora via-se frente a frente com uma lenda.

– Égua!!! Será que eu sempre tenho que fazer tudo sozinha??? Putitanga!!! Estou cercada de agentes incompetentes!!! – Dizia Shirlock Holmes, a pequena detetive, que apesar de seu tamanho, tinha muita firmeza na voz e mostrava ter total controle sobre a situação. Todos estavam atônitos. Shirlock Holmes era uma detetive que ficara conhecida mundialmente por sua brilhante atuação no "Caso Hans Schutz", quando salvou a vida de diversas pessoas e desbancou uma quadrilha internacional de tráfico de mulheres.

Na época ela era uma agente da Agência Brasileira de Inteligência, infiltrada na quadrilha e com a repercursão do caso, recebeu um convite para juntar-se à SIS da Inglaterra, o Serviço Secreto de Inteligência da coroa britânica (porém, sem licença para matar). Em muitos países a espionagem é crime punível até mesmo com prisão perpétua ou pena de morte, mas ainda assim, trata-se de uma atividade necessária e muitas vezes essencial para a resolução de crimes. Com base nisso, a agente Shirlock tinha contato com os mais diversos e melhores agentes especiais do mundo, então com apoio da própria SIS, retirou-se da agencia para criar a FIAE, com o objetivo de auxiliar informalmente a Interpol a solucionar crimes ao redor do mundo através da espionagem.

– Acho que agora finalmente estou entendendo para quê servia aquele software que você pediu para eu desenvolver. Estou vendo que nenhum de seus agentes sabia da sua verdadeira identidade. Era para modificar a sua voz e a sua aparência. – Cintia sentou-se na cama com a mão apoiada no quexo e soltando um meio-sorriso enquanto olhava para os quatro agentes que não diziam uma só palavra. – Achei que você era simplesmente mais uma daquelas pessoas que gosta de se apresentar para os outros por internet com uma aparência totalmente distinta da realidade.

– Elementar, minha cara Cintioca. Eu não podia revelar minha identidade a eles, como sabe. Manter o suspense ajuda a deixar as coisas muuuuuuuuuito mais interessantes, vai vendo!
– E, além do mais, era divertido ouvir as conversas dos meninos sem eles saberem que eu era mulher.

Agora acho que era bom explicar direitinho para nós por que nos colocou neste navio com esse maluco. Eu pelo menos, nunca tive nenhum contato com a FIAE ou qualquer agencia de espiões. Por que eu? – Perguntou Cíntia.

Quando optei por enviar o Lukas e o Luiz Shummy-Shu nesta missão, eu não podia passar a eles quase nenhuma informação. Temia que eles não conseguissem recuperar o chip. Por sorte, tu é a rainha-das-companhias-erradas-e-afins, então sua ligação com Rachel e o roubo a Ranald comprou teu tíquete só de ida para este maravilhooooooso cruzeiro. Teu passado com Lukas me deu a certeza de que cedo ou tarde ele chegaria até ti e seria então só uma questão de tempo até que conseguissem obter o chip. Gente, me arrepiei todinha... eu sou um gênio, não sou?

Tá, você já explicou como colocou a Cíntia no navio; o Luiz sei que veio parar aqui porque já estava roubando Ranald faz tempo e por ter dado um pé na bunda de Charlotte, mas e quanto a mim? E o Fernando que está atrás de mim querendo vingança? Como ele veio parar no navio? – Lukas sabia que eram informações demais e havia muito mais por revelar.

Ai povo, quantas perguntas! Vôte! Como lhe disse anteriormente, Paulo deu um jeito de colocar vocês aqui dentro. Ao contratarmos você, Lukas, já sabíamos de teu passado com a Guerreiros do Fogo e dos riscos que corríamos. E, para nossa sorte ou azar, Ranald é um dos manda-chuvas da Guerreiros de Fogo e mentor de Fernando. Todas as peças se encaixam, vai vendo. Sei também que esse é um passado que vocês desejam enterrar, por isso trouxe isto para vocês. – E estendeu as mãos tendo uma arma em cada uma. Luiz e Lukas pegaram uma arma cada um e guardaram em seus cintos.

– Isto lhes ajudará a sair do navio. Aqui está também a oportunidade de darem um fim a teus passados negros. A decisão é de vocês. Peguem suas coisas... encontro os três em uma hora na lancha que está atracada na popa do navio. E levem o chip com vocês, visse? – Então Shirlock retirou-se da cabine, junto com os agentes trapalhões, mas não sem antes dar uma piscadela para Luiz, e entregar-lhe uma caixinha fechada por um belo laço frutacor, quase nada espalhafatoso, deixando-o ruborizado.

– Bom, agora que chegou a cavalaria, acho que estamos salvos. – Luiz ria com a satisfação de ter cumprido mais uma missão com sucesso, visivelmente tentando esconder seu acanhamento com a atitude da chefe da FIAE. – Você está com o chip, não é Cíntia?

Estou sim, Luiz, mas não confio nesses dois agentes amigos de vocês, algo neles não me cheira bem e não é falta de banho.

Resolvemos esse problema depois, eles realmente são dois atrapalhados. No momento, o importante é darmos o fora daqui o mais rápido possível. Mas não sem antes resolvermos um assunto pendente. – Disse Luiz olhando para a arma e logo em seguida para Lukas, que acenou com a cabeça concordando com o amigo. Finalmente tinham conseguido virar a mesa e, estando em posse do chip, sabiam que ganhariam milhões ao entregá-lo para as autoridades. Era tudo uma questão de tempo.

– Entendo, mas... Luiz, poderia me dar uns instantes? Preciso falar com o Lukas a sós, é importante... – Cíntia estava com o semblante preocupado.

– Está bem, vou deixar os pombinhos a sós. Quando terminarem, passem lá no meu quarto, que estarei aguardando.

*********

Fernando acordou sozinho no banheiro. Seus pensamentos estavam nebulosos ainda, não lembrava-se muito bem do que havia acontecido, sentia uma forte dor de cabeça e seus pulsos ardiam. Recostou-se então em uma das paredes e aos poucos as coisas foram ficando mais claras. Lembrou-se do ataque de Lukas e Luiz a ele e Charlotte, depois tudo escureceu.

A cada nova lembrança, o ódio em seu coração se fortalecia. Lembrava-se de toda a dor, de todo o sofrimento, de tudo que passara por causa de Lukas. Lembrava-se de seu tutor na Guerreiros de Fogo: Ranald; da forma como ele lhe contara que Lukas se divertira e se engrandecera por ter “aniquilado” um inimigo... Após o acidente, Ranald escondeu de todos que ele conseguira sobreviver, empregando-o em uma filial de suas empresas em Madrid. E agora, seu mentor lhe dera a oportunidade de se vingar e encontrar sua paz.

Desejava destruir Lukas, da forma mais dolorosa possível, então juntando toda a força desse turbilhão de sentimentos, Fernando se levantou, ainda um pouco cambaleante, e atirou-se contra a porta do banheiro, destruindo-a e se libertando.

– Lukas, você me paga... – murmurou com os olhos injetados de fúria.

*********

Cíntia acompanhou Luiz até a porta e fechou assim que o rapaz saiu. Por alguns instantes permaneceu parada na porta, com a mão apoiada no batente e de cabeça baixa. Respirou fundo e virou-se indo em direção a Lukas. Pegou as mãos de seu amado e sentou-se na cama, conduzindo-o a fazer o mesmo. Lukas já estava começando a ficar preocupado, até que, depois de uma pausa, Cíntia começou a falar.

– Lukas, sabe como é difícil para mim, mas queria te pedir desculpas... Esses anos todos fui muito injusta com você. Eu não deveria ter ignorado suas tentativas de falar comigo. – uma lágrima rolou pelo seu rosto – Caso algo aconteça comigo, queria tr certeza de dizer-lhe que, por mais que tenha lutado todos esses anos contra meus sentimentos, ainda assim amo você.

Sem dizer uma só palavra, Lukas abraçou Cíntia com ternura e deu-lhe um longo beijo apaixonado. Sentia-se confortado ao sentir sua amada em seus braços. Era uma sensação de paz muito grande, algo que não sentia há tempos. Delicadamente segurou o rosto de Cíntia com as mãos e olhando fundo em seus olhos, disse com convicção:

– Também errei em lhe julgar mal, Cíntia. Nada vai lhe acontecer, prometo isso a você. Vamos sair dessa juntos e reconstruir nossa vida. E dessa vez, nem boato nem intriga nenhuma vai nos seprar. Tem a minha palavra.

Com um sorriso no rosto, Cíntia retribuiu o beijo e assim o casal permaneceu por algum tempo. Lembraram então que tinham que sair logo do navio, pois Shirlock os esperava na lancha. Rapidamente deixaram o quarto, pois como a bomba já não os ameaçava, não temiam mais serem vistos pelo sistema de vigilância de Ranald e foram encontrar Luiz. Essa despreocupação foi seu grande erro.

Lukas avistou Luiz no corredor do navio e correu até ele, porém Cíntia tropeçou e caiu no chão, ficando para trás. Então Lukas viu o semblante de Luiz mudar rapidamente. Seu rosto ficou pálido, como se visse uma assombração. Então ouvir Cíntia gritar. Ao virar para trás viu Fernando, agarrando a garota com uma espada nas mãos. O bandido posicionou a lâmina sobre o rosto de Cíntia assim que conseguiu a atenção de Lukas.

– Ora, ora, Lukas Bittencourt, veja o que tenho aqui. Estava pensando em dar à sua namoradinha um presente como o que você me deu, o que acha?

– Fernando, seu maldito! É a mim que você quer, largue ela! – Lukas estava transtornado. Passara anos de sua vida culpando-se por matar Fernando, mas agora aquele homem ressurgia com sede de vingança, ameaçando a única coisa valiosa de sua vida. – Largue a Cíntia agora!

Com um empurrão, Fernando livrou-se de Cíntia, que foi amparada por Luiz e a seguir, pegou uma segunda espada que estava presa a seu cinto, jogando-a para Lukas, que, com habilidade pegou-a ainda no ar. Era assim que as disputas eram resolvidas na Guerreiros do Fogo.

Antes de começar o duelo, Lukas pegou a arma que lhe fora dada por Shirlock e colocou-a no chão, chutando-a para longe. Posicionou-se em guarda e esperou pelo primeiro ataque de seu oponente. Fernando atacava Lukas com fúria, forçando Lukas a recuar para aparar os golpes, cada vez mais fortes e rápidos. Fernando havia treinado esse tempo todo na esperança de derrotar Lukas e este embate estava exigindo todo o conhecimento de Lukas na arte da esgrima.

Por mais que se arrependesse do sofrimento que havia causado a Fernando, Lukas via que se não reagisse, a luta não iria acabar nunca. Então juntou todas as suas forças em uma investida contra seu oponente, golpeando-o com rapidez e técnica impressionantes. Fernando por sua vez, defendia-se habilmente.

A adrenalina fazia com que nenhum dos dois sentisse a dor causada por tamanho esforço, porém após algum tempo, com um golpe certeiro, Lukas conseguiu tirar a espada da mão de Fernando, que desequilibrou-se e caiu no chão.

– Chega, Fernando! Já lhe disse que nunca quis te ferir dessa forma! Não vê que essa sua vingança é sem sentido? – Lukas sabia que Fernando não ouviria uma palavra do que ele dizia, mas precisava ter sua consciência limpa.

– Você destruiu minha vida, seu desgraçado! – gritou Fernando, que com um só golpe, pegou a arma que estava caida no chão e apontou para Lukas.

– NÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!! – Gritou Cíntia e em seguida um tiro foi disparado.

Por alguns instantes, o silêncio pairou no ar. Então Lukas virou-se em direção a sua amada, a tempo de vê-la com a arma de Luiz em suas mãos trêmulas. O cano da arma ainda fumegava quando Lukas dirigiu-se a passos lentos em direção a Cíntia, caindo de joelhos no chão próximo a ela, que chorava compulsivamente. Com delicadeza, retirou a arma das mãos da garota e a entregou para Luiz.

Fernando finalmente estava morto.

– Chega... vamos dar o fora daqui! – Bradou Lukas enquanto ajudava Cíntia a se levantar.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Depois de todas as revelações e das emoções que Téca passou ao descobrir ter um irmão gêmeo, saiu depressa da sala onde estavam Pérola e Vila Nova para não levantar suspeitas.
Mas, ela estava agitada demais para voltar à cabine. Então decidiu que iria pro convés, deitar em uma daquelas confortáveis cadeiras de sol, apenas para relaxar um pouco, afinal fora muito emoção num dia só.
Recostou-se na cadeira, esticou as pernas, e ficou de olhos fechados por um instante, pensando na vida, nos últimos acontecimentos...


Enquanto isso...

Charlotte acordou meio zonza e ao seu lado estava Fernando, completamente desmaiado. Lembrou-se do que havia acontecido e esbravejou ao descobrir que Lukas e Luis haviam trancado os dois no banheiro.
Mas tudo bem, isso só iria atrasar um pouco seus planos, mas detê-la não.
Tentou em vão acordar Fernando, então começou a traçar algo que a pudesse tirá-la de lá...
Foi quando olhou pra cima e viu a janela do banheiro aberta. Tá certo que não era uma janela grande, mas observou bem e viu que pelo seu tamanho, ela passaria fácil por ela. E riu pela imaturidade dos dois, achando que ela não se safaria...
Arrastou o corpo inerte de Fernando pra mais perto de onde ficava a janela, e ao perceber que a janela era mais baixa do que ela pensava, falou pra si mesma: “eu sou um gênio”.
Fez do corpo de Fernando seu apoio, subindo pela cintura do pobre coitado, e seu tipo mignon a ajudou, pois num pulo só alcançou a janela e se preparou pra sair de lá.
Ainda teve tempo de olhar pra trás e dizer a Fernando: Bye Bye seu bunda mole!
E saltou indo em direção à piscina.

Téca estava “viajando” quando sentiu a presença de alguém...abriu os olhos e deu de cara com Charlotte que de pé a encarava.

- Isso que é não estar nem aí pra nada né? Todo mundo preocupado em como se livrar daqui, e você aí deitada tomando um solzinho boneca??? Disse Charlotte com ar de deboche.

Téca nada respondeu, apenas levantou e aí sim, chegando bem perto de Charlotte, encarando-a disse:
- Eu por acaso lhe devo alguma satisfação perua desmilinguida??? Aliás, porque você não volta pro covil de onde veio hein?

- Cala a boca sua vagabunda desclassificada. Sua drogadinha maluca e assassina. Você não se envergonha do que fez? Matou o próprio marido, vendeu informações pra concorrência, e ainda “roubou” o meu homem.

- Escuta aqui, você não sabe da missa metade querida, e você sim deveria se envergonhar das coisas que fez, e principalmente de ter se aliado a um crápula como Ranald. Escrúpulos nunca foi seu forte mesmo né? E sobre o “seu homem” (Teca ria...), sim, usei e abusei dele, do corpinho dele, de cada pedacinho, e foi bom viu!!! Só que agora não me interessa mais, se quiser, esteja a vontade.
Só acho que ele é que não vai te querer, porque eu pelo menos não precisei me humilhar pra tê-lo em meus braços, já você...

- Basta, disse Charlotte...esbofeteando o rosto de Téca.

Téca respirou fundo e agarrou no pescoço de Charlotte empurrando-a para a grade do navio. Nem Téca sabia da força que tinha e a medida que ia apertando mais ainda o pescoço, sentia que Charlotte não conseguia reagir.
Téca então soltou um pouco as mãos de seu pescoço, mas travou-a com as pernas, jogando o peso de seu corpo nela, para que não se soltasse e com todo ódio disse:

- Sabe que eu acho? Vc tá muito nervosinha, tá precisando refrescar a cabeça...(Charlotte balançava a cabeça arregalando os olhos)

Téca não pensou muito, apertou novamente o pescoço dela e qdo sentiu que ela não tinha mais como resistir, empurrou Charlotte no mar. Charlotte nadava e gritava para Téca não deixá-la lá, que ela iria ajudar a todos sair do navio.

Tarde demais querida...acho melhor vc tratar de nadar bem, porque senão não vai chegar a lugar nenhum. E tem mais, pode virar comida de tubarão...se bem que tenho dó dos bichinhos que te comerem...

Deixou Charlotte se debatendo e saiu. Téca tinha lágrimas nos olhos, não agüentava mais tanta pressão. Pensou em seu irmão, mas não podia procurá-lo, não aquela hora. Decidiu voltar pra sua cabine, e tentar se acalmar. Ao entrar na cabine, acabou de fechar a porta seu velho pager que há tempos não tinha mensagens tocou...

-Deve ser o sádico do Ranald, de certo já descobriu pelas câmeras que dei fim na perua dele...

Agora chegou a sua hora Téca! Você é uma das principais peças do meu brinquedinho. Siga corretamente minhas instruções e não tente absolutamente nada. Lembre-se que meus olhos estão em toda parte. Vá até o salão onde foi a festa a fantasia. Do lado esquerdo do bar, não sei se vc lembra, mas há uma parede inteira de espelhos. Pare em frente dela e espere. Mais uma vez, não tente nada.

Téca estava agitada, não tinha tempo nem de deixar um bilhete pra alguém, afinal ele a estava observando. Acendeu um cigarro e foi na direção que Ranald indicou.
Ao chegar no salão, sentiu um arrepio em vê-lo totalmente vazio, e sem saber o que lhe poderia acontecer ali. Foi em direção a parede de espelhos e ficou parada ali. Nem um minuto depois, como nesses filmes de ficção, uma porta se abriu, correndo pra cima e uma voz lá dentro pedindo que ela entrasse.

Téca avançou com passos lentos e com um certo medo. Achava que dessa vez não teria volta, ela morreria. Passou por uma saleta vazia até que uma outra porta se abriu e entrou. Foi então que se deu conta de onde estava.
Uma sala enorme, cheia de televisores, botões, telefones e na cadeira, Ranald e seu charuto.

- Tequinha meu doce, até que enfim nos encontramos! Quanto tempo não? Sentiu saudades? Eu fiquei com tantas saudades suas, que nesses três anos, desde que deixou Londres e me fez perder aquele contrato, não fiquei um dia sem pensar em você.

- Deixa de enrolação e cinisco Ranald, e fala logo por que estou aqui. Vai me matar? Assim como matou o crápula do meu pai?

Cínico e irônico, Ranald ria enquanto dizia:

- Matar você? Ainda não...só te mato se você não for boazinha e não fizer o que eu mandar. Sabe aqueles veneninhos que plantei na sua cabine e que te deixaram aterrorizada? Pois bem sua vadia, agora é hora de usá-los. Claro que coloquei uns a mais, afinal eu precisava te torturar um pouco fazendo você se lembrar do passado, de Peter...

- Chega! Gritou Téca...pára com esse sadismo, vc é um doente!

- Opa, opa, opa, acho melhor vc ficar quieta e me ouvir. Muito bem, no meio daqueles vidrinhos tão lindos, tem um deles com o rótulo escrito “devil”. É esse que vc vai usar para os planos que tenho.
Vc terá que envenenar Rachel, Téca! Notei que andaram próximas, conversando, e como já se conhecem das reuniões em Londres, decidi que não vou sujar minhas mãos, quando tenho quem possa fazer isso por mim.

- Escuta aqui seu filho da puta infeliz! Você acha mesmo que eu vou matar a Rachel? Que simplesmente porque está mandando vou fazer o que quer? Ah, a propósito, sua perua Charlotte a essa hora deve estar tentando se salvar dos tubarões...rsrss
Ranald, seu puto, é o seguinte: Não vou matar Rachel e não vai me obrigar, se quiser me mate.

Rindo debochadamente Ranald disse:

- Ah, mas vai sim querida! Vai fazer exatamente o que estou mandando e sabe por que? Porque senão eu te mando pra Londres, direto pra cadeia. E quanto à Charlotte, vc me fez um favor, aquela safada não estava me servindo mais pra nada.

Téca sentiu um mal estar...

- E eu posso fazer isso num estalo de dedos se quiser Téca. Sabe que conheço muita gente poderosa, e que por um bom dinheiro faz qualquer coisa, inclusive plantar provar e reabrir um processo já encerrado, incriminando uma pobre moça de envenenar o próprio marido.
Ah, aliás, tem uma coisa que vc não sabe! Peter não se matou baby...
Eu matei Peter...ele era um peso morto na empresa, na minha vida e quando soube o que vc tinha feito comigo, resolvi lhe castigar. Pena que você é tão rabuda que foi absolvida, mas como disse, eu posso reabrir o caso. Já imaginou que delícia passar o resto da sua vida num presídio em Londres Téca???

- Você é um doente! Assassino desgraçado! Gritava Téca...

- Posso ser tudo isso, mas você vai fazer o que estou mandando e vai ser amanhã. Vai até a cabine dela levando uma champagne que tem lá na dispensa, e vai fazê-la beber a taça envenenada. Estamos entendidos? Vai matar a Rachel envenenada sim senhora. Agora vai, e se abrir a boca pra qualquer pessoa, eu acabo com você...Vai ver o sol apenas na sua imaginação...sua vadia!

Téca saiu daquele lugar sombrio com ânsia de vômito, só de lembrar da expressão doentia de Ranald, e das ameaças que ele lhe fez. Chorando, Téca pensou em Peter , pobre Peter...Mas ela não podia voltar pra Londres, não queria ser presa...
Foi andando em direção a sua cabine, com a cabeça baixa pensando em tudo que Ranald havia lhe dito.
Entrou na cabine, abriu o guarda roupas e procurou dentro de sua caixa de artesanatos os tais vidrinhos.
Encontrou o tal com rótulo “devil” , tirou ele de lá, guardou a caixa no mesmo lugar e ficou olhando para aquele vidro de veneno pensando em Rachel.
E balbuciou sozinha:

- Ou ela ou eu...não tenho outra opção...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Verdade ou Mentira?

Os irmãos ficaram abraçados por um bom tempo. Téca aproveitou para contar sobre a chegada dos homens da FIAE. A certa altura, Pérola os interrompeu, dizendo:

- Acho melhor vocês se despedirem, por enquanto. Um sumiço demorado de Téca levantará suspeitas. Os dois concordaram e se despediram, com a ruiva prometendo voltar assim que pudesse. Tão logo ela saiu, Vila Nova virou-se para Pérola e disse:

- Quem diria! Uma irmã gêmea! Não fossem as circunstâncias, eu não acreditaria nisso.

- Muito mais inacreditável é esse plano de Ranald! Quem poderia imaginar que toda essa estrutura foi montada para uma vingança coletiva? ... Ainda bem que sua tia me ajudou a ajudá-los.

- De fato, você tem toda razão. Inacreditável!.. E por falar em tia Loretta, que danada ela é! Conseguiu perceber o perigo que eu corria e te ensinou o código MARCO VINTE.

- Pois é! Quando sua tia acompanhou-o até o carro que te buscou em casa para trazê-lo para cá, ela, achando estranha a coincidência de nós dois irmos para o mesmo cruzeiro, encarou bem o homem que estava ao volante. A essa altura, eu já tinha lhe contado que Ranald, veladamente, havia obrigado Paulo a subir a bordo. Logo depois da sua partida, ela me ligou, descrevendo a fisionomia do motorista. A mancha na face direita foi o suficiente para identificá-lo. Era, de fato, um dos homens de Armond.

- Você já estava aqui no navio, então?

- Já sim. Foi aí que ela percebeu que você corria perigo e, me explicando como funcionava o código, me pediu para alertá-lo. Eu quase não consegui, pois você chegou justamente no dia em que, supostamente, fui morta. O dia todo, Paulo e eu fomos vigiados, mas eu dei um jeito de aproveitar um minuto de descuido e pedi a Isadora que colocasse o livro que usei para fazer o criptograma em seu quarto, dizendo que era uma ordem do meu marido. Esse foi o primeiro favor que ela me fez, naquele dia. Além disso, e de te entregar o bilhete na noite do baile, ela, por ordem de Ranald, mandou outros bilhetes para você. Num deles, sem que ele soubesse, acrescentou um pedido meu: Que você protegesse Téca. Lembra-se disso?

- Me lembro sim. Foi num bilhete que Armond me obrigava a implantar informações falsas, mentir... No final, estava escrito: Há mais uma coisa que você deve fazer. Esse algo mais era justamente protegê-la.

- Ele queria te manter ocupado, para que você não começasse a investigar o cruzeiro... Sobre o código Marco Vinte, me diga uma coisa, quem o criou?

- Tia Loretta não te contou? E porque a mulher balançou a cabeça em sinal negativo, Vila Nova emendou: - Já que temos tempo de sobra, eu vou te contar... Um dia, eu era um adolescente ainda, mexendo numa velha caixa que fica escondida no guarda-roupa dela, achei umas cartas e fotos muito antigas. Eu procurava algo mais sobre minha mãe, que, até onde eu sabia, era sua irmã caçula, morta num acidente de trânsito.

- E o que as cartas têm a ver com o código?

- As cartas, escritas por tia Loretta e Paulo, estavam com as letras trocadas, conforme determina o MARCO VINTE... Os dois se conheceram na juventude. Uma paixão fulminante! Mas, quando a família dela soube da origem dele, logo tratou de separar o casal, proibindo-os de se verem. Tia Loretta conta que seus pais, razoavelmente bem colocados, financeiramente falando, não permitiram que a filha mais velha namorasse um pobretão. A velha história das diferenças de classes sociais.

- E eles se separaram, então?

- Apenas, aparentemente. Perto de onde tia Loretta morava, havia um monumento erguido em homenagem a vinte soldados da cidade, que lutaram na Itália durante a segunda guerra mundial. A obra se transformou num marco à coragem dos vinte combatentes. Daí o nome: MARCO VINTE. Minha tia, inspirada no monumento, teve a idéia de criar o código para que os dois pudessem trocar cartas de amor. Caso seus pais descobrissem as correspondências, nada conseguiriam entender. As cartas eram deixadas no próprio marco, num lugar que só os dois conheciam.

- Que bela história de amor, Cláudio!

- Também acho... Durante três anos, eles se corresponderam dessa forma. A intenção dos dois era esperar tia Loretta atingir os vinte um anos, até que, absolutamente capaz, segundo as leis civis da época, eles pudessem ficar juntos.... Mas, um dia, Paulo, através de uma carta, avisou tia Loretta que iria embora da cidade, sem maiores explicações e, então, tudo terminou aí... Pegando um objeto, Vila Nova disse: - Ah, obrigado por isso.

- Não precisa agradecer, é seu mesmo. Naquele exato momento, a porta da cabine onde os dois estavam foi abruptamente aberta. Ao ver o jornalista e ex-mulher de Paulo, vivos, bem a sua frente, a invasora bradou, algo espantada e extremamente raivosa:

- Cláudio??? Sônia?? Como pode ser isso? Eu vi vocês mortos! ... Mais uma vez, você me enganou, não é? Seu verme!! Lúcia, empunhando uma arma nas mãos, continuou esbravejando:

- Agora, vocês dois morrerão de verdade!... Logo eu percebi que havia mais alguém nesse corredor, quando vi, a pouco, aquela ruiva idiota se distanciando dessa ala do navio, com ares de quem não queria ser vista.

- Calma, Lúcia! Você está nervosa. Eu precisava fazer alguma coisa para inverter a situação. Seu amigo Aranha não havia acreditado em mim, quando pedi que você lhe falasse sobre Ataulfo Andrade.

- Eu vou matar você, seu idiota. Vocês dois. Disse a mulher, apontando a arma para Pérola. -Depois, eu volto até lá e acabo de fazer um servicinho que, pelo visto, ficou mal feito. Vou espetar aquela barata da Rachel com o meu salto 12.

- Rachel? O que ela tem a ver com a sua vingança? Perguntou Vila Nova, assustado.

- Ah, vai me dizer que não sabe? Não eram tão íntimos, quando namorávamos? Não viviam trocando mensagenzinhas pelo celular? Agora, eu tenho certeza que você me traiu com ela. Vamos, pode confessar, seu imbecil.

Vila Nova percebeu que havia chegado o seu fim, naquele cruzeiro. Acuado pela mulher, com uma arma não, a possibilidade de conseguir se livrar com vida era mínima. Assim, até que algo melhor viesse a sua mente, resolveu entrar no jogo dela:

- Quer mesmo saber a verdade? Rachel e eu tivemos um caso sim... Ah, como era hilário fazer você se sentir insegura, mandando mensagens para o celular dela. Afinal, você era tão cheia de si. Confiava tanto em sua beleza e superioridade... Quanta arrogância, Lúcia! E não foi só com ela não. Lembra-se de Márcia, sua amiga que fazia medicina? Beijei muito aquela boca gostosa!!

- Vocês dois vão me pagar por cada ato que cometeram contra mim e minha família. Os dois começaram uma grande discussão, recheada de acusações e ofensas. Em dado instante, pensando rápido, Cláudio falou:

- Está mesmo preparada para toda a verdade? Antes que Lúcia pudesse responder, ele continuou: - Rachel e eu armamos contra o seu pai. O honrado Wallace Rodinari, molestador de meninas, precisava passar por um constrangimento em nível nacional. Desta forma, nós bolamos a grande farsa. Eu entrei em contato com um jornalista carniceiro, desses que topam qualquer parada por um punhado de grana, e, juntos, elaboramos todo o falso esquema de fraude contra a ordem tributária, de forma que, mais adiante, pudesse atingir o seu papai querido. No mais, depois, eu só precisei manipular Ataulfo, meu bom e querido professor, para apresentar o tal jornalista a Moberto Rarinho, o dono do grande jornal O Campeão, que logo se interessou na divulgação.

- O que você está dizendo? ... Tudo não passou de um golpe, armado desde o início para acabar com meu pai?

- E o mais cômico, se não fosse trágico: Financiado com o próprio dinheiro dele!

- Meu pai morreu por causa disso, seus monstros!! Minha vida foi arruinada. Como vocês puderam? Lúcia chorava copiosamente.

Foi então que Vila Nova percebeu que sua tática, apesar de suicida, porque poderia atiçar ainda mais o ódio da mulher, dera certo. A ex-namorada ficou completamente sem reação com a crueza das palavras. Num átimo, Pérola avançou sobre Lúcia, conseguindo desarmá-la de imediato. Depois que os dois a imobilizaram, a ex-mulher do pai dos gêmeos se virou para o jornalista e lhe perguntou:

- Você e Rachel não fizeram isso, fizeram?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O Chefe, O Sombra

-Mas que diabos esse filho da puta tá pensando? Eu sabia que esses agentes de meia tigela iam se enrolar! Quase sempre eu tenho de salvar o mundo! Isso já ta ficando chato!

O Sombra resmungava enquanto observava Uriel sair da parte mais inferior do Vingeance.
Teria trabalho agora: remover os explosivos deixados na lancha da FIAE por aquele perturbado loiro.

Dera um trabalho enorme ao Sombra se esconder na lancha da FIAE, ter de ouvir toda a ladainha chata de Shucker e Copperton sem se mostrar a eles, retirar todos os disfarces que haviam deixado a lancha parecida com um barco de pescadores assim que os dois agentes entraram no navio e conseguir colocá-la dentro do Vingeance para que um amador qualquer viesse e colocasse explosivos em uma lancha de sua organização.

A FIAE era sua obra, sua agência, sua propriedade. Ruim mesmo era lidar com aqueles agentes do mundo inteiro que, quase sempre, eram uns paspalhos.

Pegou seu ultra-moderno laptop com conexão à internet via satélite e ligou.
Tinha esperanças de que Cíntia tivesse conseguido ler seu email.
Por uma enorme coincidência a encontrou online e puxou papo.

-...se te coloquei aí é porque confio em você. Continue seu trabalho e proteja o chip. Cíntia, tudo vai dar certo no final. Confie em mim.
-Não gosto desse jogo duplo. Vou pensar no caso.

O Sombra viu Cíntia ficar offline no comunicador e sorriu.
Atingira seu objetivo.

-Que trabalheira! Tudo porque aquele maldito Paulo quis dar um golpe em Ranald! –pensou O Sombra e logo olhou para a lancha com explosivos... Tinha de se livrar daquilo e ia começar a trabalhar agora! Não teria muito tempo quando resolvesse se mostrar para seus agentes.

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-Dessa vez a chave irá comigo. –disse Lukas.
-Melhor assim, vamos achar os outros, só falta o Aranha. –respondeu Luiz.

Era incrível como essa missão estava sendo complicada. Além de Fernando estar vivo, ele quase conseguira matar Lukas duas vezes.

A sorte parecia não estar ao lado do agente, cujos planos não incluíam viver tão perigosamente. E achava que Luiz fora um tanto quanto precipitado em trancar os outros agentes da FIAE dentro da dispensa. Por mais que não fosse muito com a cara de Copperton e Shucker, os dois agentes europeus eram membros da FIAE e se isso chegasse nos ouvidos do CHEFE, eles poderiam estar enrascados. Entretanto, conforme lembrado por Luiz, o importante era sair dali com vida, com o chip em mãos.

- O que faremos agora? Procurar Ranald para um confronto frente a frente? – perguntou Lukas para Luiz.
- Não sei o que fazer... Só temos de sair desse navio! Será que agora Copperton e Shucker estão mais calmos? – riu Luiz.
- Você é louco! Totalmente louco! Falando sério... Acho melhor procurarmos Cíntia. Ela disse que iria para sua cabine.
- Ai o amor... cuidado, Lukas... isso ainda pode lhe colocar em situações complicadas.
- Não enche, Luiz! -
Lukas não gostava dessas brincadeirinhas, mesmo sabendo que o que o amigo dizia não deixava de ser verdade.

Os agentes rumaram para a cabine de Cíntia e a encontraram de banho tomado e mexendo num laptop. Lukas e Luiz não tinham idéia que o valiosíssimo chip se encontrava com Cíntia, embrulhado em um mero papel kraft, em um de seus bolsos.

---

O chip.

Lukas se lembrou de quase um anos antes, quando havia sido informado de sua nova missão. Chegara das Ilhas Gregas havia pouco mais de um mês de um trabalho com Luiz que envolvera algumas jóias reais inglesas que haviam sido roubadas e tinham ido parar na Grécia, por motivos que nunca foram bem explicados.

Entretanto, depois do sucesso na missão, Lukas e Luiz tinham conseguido umas pequenas férias e aquele era o reencontro dos dois agentes. A reunião se passava numa sala escura, em Bruxelas. Na mesma sala encontravam-se Luiz, seu habitual companheiro; Copperton, o agente italiano de pele alva, cabelos muito negros e corpo atarracado e Shucker, o agente alemão.

Enquanto isso, o chefe que nunca mostrava o rosto falava, por vídeo conferencia, de um lugar que eles imaginavam ser a sede da FIAE, em Nova York. O Chefe sempre dava ordens assim, por videoconferência, direto de sua sala... E eles nunca haviam visto o rosto do todo poderoso da FIAE, já que a sala do Chefe estava sempre com uma luz muito baixa e conseguiam apenas vislumbrar o homem, cuja voz tomava a sala naquele momento.

-Os chips siameses foram desenvolvidos pela União Soviética durante a Guerra Fria. Trazem neles informações sobre diversos armamentos, desde a concepção destes até mesmo formas de produzí-los em grande escala. Têm esse nome porque só tem valia para quem possui os dois chips, que funcionam interligados. Com o fim da Guerra Fria, os chips ficaram em poder do governo russo até que foram roubados por uma quadrilha de caçadores de recompensas, graças a um agente infiltrado no governo russo. Os caçadores de recompensa tiveram ainda a audácia de anunciar, na internet, a venda dos chips para quem pagasse mais. E eram vários os interessados, desde países até milionários.

"Foi aí que a FIAE entrou na história. Nossos agentes infiltrados no governo chinês conseguiram a localização dos caçadores de recompensa e desbarataram a gangue, tomando a posse dos chips. Ou melhor, de um dos chips. E, desde então, estamos à procura de uma pista que nos levasse até esse chip perdido. E agora tivemos uma informação quente de que esse chip se encontra no Brasil, nas mãos de um mega-empresário. Um de nossos agentes, Shucker, presente na sala com vocês, foi quem obteve essas informações com Paulo Rodrigues, sócio de Ranald Armand, o atual dono do chip.
"

O Chefe não gostava de ser interrompido, mas Lukas não resistiu.

- Chefe, acredito que todos entendemos. Temos de reaver esse chip. Mas, estou estranhando por quê quatro agentes? Normalmente trabalhamos em dupla. O que acontece dessa vez?

- Inteligente, Lukas. Vi que sabe contar! Não me questione. Apenas acho que vão precisar de mais apoio nesse caso. A propósito, vocês agirão separados. Parece que o tal de Ranald Armand está preparando uma diversão para um grupo de amigos e consegui colocar alguns de vocês dentro de um passeio para um futuro breve. Me agradeçam depois!
Mas para isso, terei de fazer com que assumam alguns disfarces.


"O tal do Paulo Rodrigues já se encarregou de conseguir colocá-los nos planos de Ranald Armand. Pelo que conseguimos apurar, além de empresário, Ranauld gosta de brincar de Deus, de planejar
Big Brothers particulares. Então, assumam as identidades que estou providenciando. Com um detalhe: dessa vez, usarão seus verdadeiros nomes:

Luiz Shummy, conhecendo seus dotes na contabilidade, fará parte da diretoria de uma empresa. Sinto dizer que deverá levar uma vida normal, Luiz... Isso não é seu forte, mas peço esse sacrifício... E, dentro em breve, não sei precisar se em semanas ou até mesmo um ano, você receberá um convite repentino. Aceite!

Lukas Bittencourt, pra você um disfarce menos burocrático. Conheço seu ímpeto, por isso, viverá uma vida de folgado, fazendo bicos diversos. E, preste atenção em seus emails... Paulo disse que Ranald o contatará por email, e, como já disse, ele gosta de jogos... Não se assuste se for contatado por um
Estranhoem qualquer idioma.

Copperton e Shucker, vocês vão trabalhar em conjunto. A principio, em Pequim, colhendo informações sobre os chips siameses. Mais informações, já que eles ficaram nas mãos de chineses durante um bom tempo.

Estamos entendidos?"

---

- Cíntia, nossos ‘amigos’ chegaram aqui de alguma forma. Acredito que possamos sair daqui com eles. Mas antes precisamos conseguir o chip, aquele que estava com Paulo. –disse Lukas, para a garota que fazia seu coração bater mais rápido.

Cíntia não teve tempo de falar, pois seu quarto foi invadido pelos dois agentes que estavam presos na dispensa e por um homem mais baixo, que usava um sobretudo preto e um chapéu grande que não deixava que seu rosto fosse identificado. Ele mantinha a mão próxima à boca, escondendo ainda mais sua fisionomia.

- Minha cabine agora virou ensaio de escola de samba? Por que tantas pessoas no meu quarto? E quem é esse baixinho com os dois branquelos? – Cíntia tentou manter a firmeza da voz.

- Sou o Sombra, Cíntia! Em carne e osso, dentro do navio! – disse o homem baixo, tirando o chapéu, e revelando seu rosto. –E além de Sombra, sou o Chefe de vocês, prezados trapalhões da Federação Internacional de Agentes Especiais, que só me envergonham! Brigando entre si, trancando seus companheiros na dispensa do navio? É assim que cumprem ordens? –disse, abaixando também a mão, que carregava um aparelho sintetizador de voz.

Lukas, Luiz, Copperton e Shucker se olharam incrédulos.
Cíntia sentou-se na cama e ficou olhando pasma para aquela cena.
Nenhum deles acreditavam no que estavam vendo.
Anos antes todos acompanharam, pelos jornais, uma história envolvendo tráfico de mulheres e como tudo havia sido resolvido.
E agora estavam ali, com uma peça importatíssima daquele xadrez, na mesma cabine que eles.
O Chefe, o Sombra, o todo poderoso da FIAE.
Lukas só conseguia balbuciar.

-Você... Você... É você!!!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

ARDILOSA

“Rachel deliciava-se com a vista da cidade iluminada e uma taça de champagne que gentilmente tinha sido oferecida à hospede. Tomada de uma súbita sonolência, deixou seu corpo cair sob o sofá-cama.”

Bingo! Aos poucos, Rachel encaixava uma a uma as peças do seu próprio quebra-cabeça! Ao chegar ao Vingeance, não tinha sonhado com vultos e palavras sem nexo. Ela havia sido dopada. Agora recordava-se de tudo:

- A esperta Rachel Maccioti não achou estranho um convite para um cruzeiro, assim de repente? – em meio a tontura Rachel reconhecera aquele homem e aquela voz.- Minha secretária predileta... me roubando? Minha amante, que me auxiliava na evasão de divisas... me passando a perna?

A visão da secretária era turva, mal podia se equilibrar em suas próprias pernas, enquanto Ranald apertava seu pescoço.

- Vai se arrepender, querida! Esse cruzeiro será o pior de seus pesadelos, pode apostar, gostosinha! Vai se arrepender! Vai me devolver centavo por centavo, tudo que me roubou.- falando isso, Ranald e Lúcia, que estava com ele na cabine, deixaram Rachel sozinha em sua cabine.

"Algum tempo depois suando frio e com grande temor, Rachel abriu os olhos, sentou-se na cama, coração batendo descompassado, sentindo arrepios pelo corpo, Rachel acendeu a luz, (não se lembrava de tê-la apagado) olhou em volta e procurou se acalmar."

Não havia sido um pesadelo. Ranald se apresentara à secretária desde o primeiro instante em que ela embarcara no navio.

***************************************************

Rachel, meu amor, preciso muito falar contigo. Estou com saudades, você não? Temos que nos encontrar. Estarei te aguardando, dentro de vinte minutos, no extremo oposto do navio. Não tenha medo, ninguém nos verá. Tudo dará certo, meu tesouro. Estou ansioso pelo nosso reencontro! Beijos! Henrique

“Interessante... Ranald, grande detentor da mais alta tecnologia e ainda não interceptou meu simples celular... simples por enquanto...” Pensava uma Rachel com um ar diferente, talvez mais cínica, talvez mais realista, talvez mostrando a sua verdadeira face afinal.

Aquela mensagem era tudo que Rachel esperava nas últimas e angustiantes horas. Tudo no Vingeance acontecia de forma dinâmica e veloz. Desde aquele encontro a surdina, logo depois do baile, na manhã de buscas, não estivera mais nos braços do amor, nos braços do homem de sua vida.

Fitou na lembrança a imagem de Henrique. A voz linda, suave, tranqüila, o olhar impressionantemente expressivo, ele era um homem incrivelmente sedutor, adoravelmente interessante, extremamente inteligente e irresistivelmente encantador. Lembrou como aquele sentimento fora crescendo assustadoramente, gerando uma verdadeira revolução interna nela. Se aproximaram tão naturalmente que em pouco tempo uma paixão arrebatadora tomava conta dos dois. Por aquele homem Rachel seria capaz de tudo, até mesmo de matar! E esse amor-admiração era inteiramente recíproco, chegando às vias de transformar-se em doentio. Juntos eram capazes de tudo. Jogar, fingir, enganar, roubar, trapacear... Tudo!

Deixando de lado os devaneios, a secretária se dirigiu para o lado oposto do navio. Mal acreditando que, em instantes, estaria nos braços de Henrique, Maccioti encheu-se de coragem.

Ao aproximar-se do local combinado, a figura de Henrique fez o coração de Rachel bater disparadamente.

Deu-lhe um demorado e afetuoso abraço:

- Como você está, querido?

Com um sorriso apaixonado, Henrique diz:

- Oi, meu amor! Finalmente nos reencontramos. Estou melhor agora, que te vejo! - Henrique beija os lábios de Rachel com paixão...- Precisamos conversar sobre tudo isso.

- Precisamos sim. Já pensou num jeito de sairmos daqui?- Rachel não sabia se o abraçava ou se concentrava em tudo que precisavam conversar. A saudade era imensa e ver Henrique ali em sua frente, poder tocá-lo, fazia seus olhos brilharem.

- Tranqüilize, darei um jeito de sairmos daqui com vida.

Com medo de colocarem tudo a perder com aquele encontro, Maccioti pergunta preocupada:

- Amor, estamos seguros aqui? Tenho a sensação que Ranald tem olhos em toda e qualquer parte desse navio.

- Nem Ranald nem ninguém pode nos ver aqui. Garanto. E por você eu faria qualquer loucura, Rachel! Até matar Ranald e toda sua laia.

- É tão bom estar assim pertinho de você! Ao seu lado me sinto segura! Mas... e o dinheiro? Conseguiremos ficar com ele?

Confiante, Henrique responde:

- Claro. Só que não podemos cometer erros. E nem nos deixar levar por provocações...- olhou-a com o olhar de reprovação- pois é, mocinha, eu soube do barraco com Lúcia! Já fomos longe demais com isso para pôr tudo a perder. Como te disse, naquele dia em que conversamos no convés, confie em mim. Com os documentos que estão com você, nós conseguiremos dar o golpe final em Ranald.- com um ar maquiavélico, continua- Não foi esse o plano que ELA idealizou? Aproveitar da sua posição de secretária de confiança, para virar amante do homem e, com isso, conseguir dar uma bela rasteira nele?

A ouvir a referência a ELA, a expressão no rosto de Maccioti denotava uma admiração incomum.

- Uma parte do dinheiro já é NOSSA e está bem guardada na Europa. Não é a toa que Ranald me fez cair nessa Teia de vingança.- Rachel tinha que admitir que a sorte lhe abandonara quando o chefe descobrira seus planos. Ranald era astuto, trouxera-lhe para o cruzeiro tentando reaver a pequena fortuna que ela desviara de uma das contas fantasmas dele.- Mas... a grande fatia do bolo, só conseguiremos quando voltarmos para terra firme... – suspirando prosseguiu com a voz doce - Já lhe disse que te amo hoje, meu lindo? Sua inteligência me fascina! Aliás, ELA, você e eu, somos demais, não?Um ar de poder aflorou no rosto do homem:

- Somos um trio perfeito. ELA é a grande mestra, você é a ardilosa e eu sou o cínico.

- ELA nos deu uma grande missão e precisamos ir até o fim. Então, seguimos com o plano?

- Claro que seguimos. Não dá para desistirmos. Eu até já consenti que você dormisse com outro homem...- uma ponta de ciúmes fez rugas aparecerem na testa de Henrique.

- Ah... não foi nenhum sacrifício dormir com Uriel, muito pelo contrário! -sorriu Rachel maliciosamente.- E além do mais deu veracidade ao meu papel de amante traída. – diz com todo cinismo- Oh, céus... Já pensou na cara do poderoso Ranald quando me viu em grande performance com o próprio filho?

Ambos caem na gargalhada. Henrique demonstrando toda a possessividade que lhe era peculiar quando se tratava de Rachel, disse com cara de poucos amigos:

- Vamos parando por aí. Não quero saber dos detalhes. Só permiti com isso porque sei que a grana é muito alta. Além do mais, escrúpulos não é com a gente mesmo!

- Escrúpulos? Acho que perdi essa aula... – uma irônica Rachel sorriu maliciosamente- Mudemos de assunto.

Como se lembrasse de algo importante a contar à amada, o moço diz:

- Ah, Rachel, tenho uma coisa incrível pra te contar.....

Enquanto Henrique falava, a secretária ouvia atentamente. Realmente o mundo era mesmo pequeno e tudo se encaixava, mais cedo ou mais tarde.

De repente, os dois ouviram passos vindo na direção do lugar onde estavam. Pararam de conversar, imediatamente. Henrique deu um rápido beijo em Rachel, olhou nos olhos dela com cumplicidade e saiu sorrateiramente.


- Rachel? Com quem estava conversando?


- Ah... her... Eu? Já estou ficando perturbada com esse cruzeiro. Ando falando sozinha. Abstraia isso, tá? – Não foi difícil usar a facilidade que tinha em dissimular para despistar Téca que lhe olhava muito desconfiada.

Saíram dali conversando amigavelmente. No entanto, na cabeça de Rachel, a imagem de Henrique e o amor que sentia por ele lhe davam forças para ir até o fim.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Controle

- Peraí!!! Antes de qualquer coisa, eu quero saber exatamente o que houve com vc Cláudio. Até onde sei estava morto, e agora me aparece “vivinho da silva”??? Não vão me enlouquecer não...dessa vez eu não tomei meus remedinhos...


Sem que Teca notasse, Uriel fechou a porta às suas costas e saiu em direção à sua cabine. Ele reprisava mentalmente os últimos acontecimentos... ainda pensava no tranco que o navio dera, com a descida da âncora. Rachel e ele haviam saído do camarote e juntado-se aos outros, e descobriram a descida da pesada âncora. Certamente ele havia interferido no sistema, mas não possuía o controle absoluto.

Uriel precisava controlar aquele navio, o mais breve possível. Era sua chance.
Foi quando Vila Nova o interpelou, pedindo que levasse Teca até o camarote onde ele agora descansava.
Agora que Teca fora levada a Vila Nova, teria um tempo maior para agir. Foi até seu quarto, pegou a bolsa com as peças e ferramentas fornecidas no início da viagem, e sem que ninguém percebesse, dirigiu-se até o porão, voltando a entrar na casa de máquinas, e após, no compartimento de cargas. Foi até o fundo, onde ainda podia ver as cargas explosivas coladas ao casco. Nenhuma luz estava acesa, isso lhe deu a certeza de que as cargas foram desativadas. Abriu a bolsa e retirou uma faca de caça, e um alicate de corte. Precisava ser cuidadoso e preciso. Estava suando em bicas, sentia seu coração bater na garganta. Foi até a parede, e enfiou suavemente a faca entre a carga explosiva e a parede, e em movimentos suaves, cortou a fita plástica que unia a carga à parede. Sentia-se extremamente ansioso quando cortou os fios do detonador, e o explosivo veio até suas mãos. Ajoelhou-se no chão e com cuidado, colocou o explosivo no chão, arrancando a camisa, onde passou a depositar as cargas explosivas que fora tirando uma a uma, cortando lentamente os fios. Ao final de muita tensão, havia retirado as quinze cargas, isolando o detonador. As cargas estavam agora suavemente colocadas sobre sua camisa. Todo cuidado era pouco.

Percebeu um tremor fino em suas mãos suadas, quando levantou a camisa e suavemente a levantou como um bebê. Seus pés caminhavam lentos e firmes, o suor encharcando sua calça, coração disparado. Passou com a carga pela porta e através da casa de máquinas. Subiu as escadas até uma área de escape do navio. Lá, uma área de limpeza, encontrou uma das portas de serviço, que abriam pouco acima da linha d´agua do navio.
O Vingeance marchava muito lento, arrastando ainda a pesada âncora. Uriel não tinha certeza do que aconteceria em seguida, mas precisava eliminar todo e qualquer risco. Dirigiu-se até a porta e com cuidado e muito medo, jogou no mar sua camisa e as cargas explosivas, que afundaram rapidamente.
Quando olhou para a parte mais baixa teve uma imensa surpresa: uma lancha com as iniciais FIAE na proa. Olhou a lancha e sentiu um impulso. Aquela lancha não fazia parte dos planos. Algo estava errado. Uriel então observou a lancha vazia, e teve uma perigosa idéia. Poderia sair enfim daquele navio, desfrutar os milhões de dólares depositados na sua conta codificada no exterior. Teria dinheiro suficiente para viver muito bem.
Mas rapidamente a realidade o tirou do devaneio. Não poderia perder o controle agora. Quem quer que tivesse chegado naquela lancha, certamente não veio tomar sol no convés. Ele não podia permitir que alguém descesse do navio agora. Não agora. Num impulso, pegou o detonador das bombas, armou o mecanismo, e pulou na lancha. Novamente foi envolvido pela imensa vontade de ir embora dali e ficar livre de Aranha, de toda aquela turma. Mas lembrou do sorriso de Rachel e de Vila Nova. Dirigiu-se até o fundo da lancha, e colocou o detonador sob o tanque de gasolina. Precisava ser muito rápido. O detonador estava novamente armado, com uma pequena carga, que não poderia fazer maiores estragos no Vingeance, mas o suficiente para mandar aquela lancha pelos ares. Escondeu o detonador sob objetos que ali estavam, e rapidamente saltou novamente para o Vingeance. Estava feito. Quem quer que fosse não poderia atrapalhá-lo agora. Fechou a porta estanque e retornou até a sala ,trancando-a novamente. Em sua mente pesava a decisão de não ter fugido dali, mas sabia que não poderia abandonar o navio agora... tinha de terminar o serviço. Fechou a porta da sala e ficou no corredor, olhando para o nada,

Finalmente, os sentidos todos alertas, a descarga de adrenalina era imensa. Aos poucos fora recobrando sua calma e voltou ao compartimento de cargas, onde recolheu as ferramentas...
Dirigiu-se até a sala do servidor principal, e percebeu que o corpo do guarda com quem lutara havia desaparecido. Rapidamente quebrou uma câmera, e foi até o servidor. Procurou uma entrada de rede e retirou o laptop da bolsa. Após iniciar a seqüência de códigos, conseguiu entrar no servidor. Ele percebeu que a rede estava praticamente intacta, e que haviam reiniciado o servidor, e que não conseguiria mais acessar o controle do navio.
No silêncio da sala, o telefone celular tocou, fazendo uma onda de choque percorrer a pele de Uriel, atendeu quase sem voz, coração batendo descompassado.

_ O que é?

_ Pelo visto você está tentando mexer no servidor novamente, Uriel. Informo que não é prudente.
A voz de homem era incisiva.

_ Não sei de que você está falando.

_Uriel, podemos observar que você quebrou a câmera da Sala. Não seja idiota, você sabe que o navio pode ir pelos ares a qualquer momento. Você sabe que essa não é a intenção.

_ Eu não quero saber de nada. Quero sair deste navio, e vou conseguir.

_ Tente atrapalhar os planos uma só vez, Uriel, e todos morrerão. Recolha imediatamente essa âncora, pois o bug instalado por você corrompeu o controle dela. Mas eu continuo no controle.


Uriel sentia vontade de dizer que estava ganhando a cada minuto, o controle perdido pelo Aranha, estava disposto a enfrentar os riscos, e se ninguém vira ele retirando os explosivos, ele poderia fazer o que sabia de melhor: blefar.

_ Não me perturbe mais.

Ele desligou o celular, e iniciou os códigos, Era um cracker afinal, e entrara em um sistema bancário, invadira o servidor da companhia telefônica, não seria um mero servidor de navio que o impediria agora. Resolveu desativar a rede do servidor, mas para isso precisava da senha de administrador da rede. Tentou digitar o óbvio, e as várias variações com o nome do navio, mas não obtivera sucesso. Precisava descobrir a maldita senha, pois um programa cracker levaria muito tempo para ser montado. Digitou várias variantes, tentou buscar palavras que o levassem a seu passado, mas não conseguia o acesso agora. Nitidamente o sistema estava mais protegido, mas se ele invadira um banco, criando um vírus poderoso para despistar o sistema da telefônica, ele poderia sim, conseguir controlar o sistema.
Questão de tempo.

Subitamente teve uma idéia, a qual lhe parecia um tanto impossível, mas dentre as várias senhas, tentou mais essa. Parecera-lhe absurdo, mas estranhamente sentia sua intuição incomodando. Digitou sem a mínima convicção.

M..A..R..G..O..I..R..T..O

Apertou a tecla ENTER, e o sistema, de forma amigável mostrou que o acesso estava permitido.

Ao invés de felicidade, seu sentimento era de uma surpresa aterradora... mal podia acreditar que este código abriria o sistema e tantas suspeitas. Agora, com o sistema aberto, suas mãos ainda estavam paradas, sobre o teclado. Poderia ter quebrado várias senhas, de várias formas, mas essa utilizara um código incomum, que já havia visto nesta viagem. E seu coração se tornara escuro e sombrio...

Balançando a cabeça, ainda sem acreditar, Uriel exclamou apenas duas palavras, em meio à onda de sentimentos que o inundava. Poderia ter descoberto tudo, Mas essa idéia não passara por sua cabeça... até agora...

“MARCO VINTE”...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Re-encontro

- Então Luiz, onde está o chip? – indagou um impaciente Copperton
- Pelo que me lembro, na cozinha! – respondeu mantendo o olhar firme em Lukas.
- Cozinha? Pirou de vez? – berrou Schuker - O que deu em você? Sabe o quanto isso é importante, como pode?
- Primeiro: Vai se foder! Vocês não têm noção do que passamos dentro desse navio, não sou criança e conheço muito bem os meus deveres, mas acredito que vocês deveriam estar preocupados com o Ranald, ou não?
- Vamos lá buscar essa droga e acabar com essa palhaçada. Schuker não parecia estar de brincadeira.
Os quatro homens caminharam pelos corredores em direção a cozinha e por mais que Luiz e Lukas questionassem os últimos acontecimentos, os outros dois agentes nada respondiam. Ao chegar na cozinha, notaram que não havia nada sobre a mesa, muito menos junto a bancada. Schuker fuzilou Luiz com o olhar:
- Cadê o chip?
- Qual o plano? – perguntou Luiz
- Não tenho tempo a perder, vamos logo.
- Azar o seu, tenho todo o tempo do mundo, afinal vocês nos colocaram nesse cruzeiro – disse enquanto soltava o corpo, sobre uma cadeira próxima e cruzava os braços atrás da nuca, mantendo um sorriso cínico no rosto.
Lukas estava abismado com a cara de pau do colega. Sabia que Luiz quando queria era um maluco completo, mas aquela altura do campeonato, ele estava brincando de roleta russa. Schuker avançou em Luiz.
- Chega de conversa fiada – interviu Copperton – Viemos resgatar o chip e vocês dois, temos ordens superiores para explodir o navio.
- Melhor assim, nada como uma boa conversa, não é Lukas?
- Sim – respondeu um confiante Lukas, mesmo sem acreditar no que o colega estava preste a fazer.



Fernando se contorcia no chão do quarto de Lukas, na esperança de afrouxar o nó, mas parecia que estava em areia movediça, o desespero começou a lhe fazer companhia, até que ouviu a porta da cabine se abrir.
- Precisando de ajuda? – era Charlotte com sua voz rouca e sorriso sarcástico - Sua mãe nunca lhe disse para não brincar com fogo que poderia se queimar? - enquanto tirava a mordaça
- Sim, do mesmo jeito que me disse para não confiar em mulheres bonitas e traídas.
- Cuidado que posso resolver deixar você aqui, A M A R R A D O!
- Ande logo, antes que eles apareçam. Tenho que acertar minhas contas com Lukas.
- Adoro homens com desejo de vingança, fica tão sexy, meu querido – sussurou suavemente no ouvido de Fernando e nem precisou terminar de cortar o lençol, Fernando rolou o corpo sobre o de Charlotte e a beijou com desejo.
- Nada mal para quem estava todo enrolado. Está quase na hora, não temos muito tempo. – disse Fernando



- Escondi na dispensa, atrás das panelas – respondeu Luiz.
Shucker entrou na dispensa como um raio e praticamente despencou tudo que havia nas prateleiras – Não tem nada aqui – berrou o impaciente agente.
Copperton entrou logo em seguida, no mesmo instante em que Luiz puxava a porta e trancafiava os dois agentes dentro da dispensa.
- Sinto muito – sorriu Luiz - Temos uma bomba termonuclear aqui dentro, apesar de desativada não quero ser responsável por um desastre ambiental no planeta, já basta ter que conviver com efeito estufa, gás carbônico, desmatamento, etc....E do que depender de mim, ninguém mais irá morrer nesse navio. – Deu as costas para os xingamentos e esmurros de Schuker e Copperton – Ahm, não se preocupem, voltarei para abrir a porta.
- Não acha que foi longe demais? – perguntou Lukas, divertindo-se com a situação.
- Talvez, mas não tinha outra escolha, temos que dar um jeito no Ranald, antes que faça algo pior.

Percorreram os corredores de volta ao deck, ao virar o ultimo desdobramento, Lukas levou um soco, Luis ficou estático ao ver Fernando apontando uma faca no pescoço de Lukas e logo atrás estava Charlotte – Luiz mal teve tempo para pensar em algo, quando viu, a ex-noiva estava apontado uma arma para sua cabeça.
- Sentiu minha falta, querido?
- Não sei dizer qual é a sensação, acho que é um misto de desilusão, impotência… não, parece mais um vazio, afinal o sexo nem era tão bom assim.
– Você merece uma morte cruel, seu insensível - Os olhos da mulher faiscaram de raiva e Luiz engoliu em seco controlando a vontade de vomitar.

Olhando atentamente aquela mulher em sua frente, de repente, sem poder explicar como, sentiu vontade de tocar aquele corpo perfeito. Tinha que admitir, de tudo de ruim que acontecera o saldo ainda era positivo, a química entre eles sempre fora maravilhosa.

Ergueu o braço e com os dedos trêmulos, tocou os cabelos de Charlotte. Sabia que isso poderia ser perigoso e, se algo desse errado, poderia ser usado contra ele. Mesmo assim, o demônio da luxuria o dominava.
- Seguimos por caminhos diferentes nessa vida, infelizmente você foi para longe de mim – a mulher de pedra amoleceu, em seus olhos agora, brilhavam o desejo de ter Luiz novamente e sem pensar o abraçou.
- Podemos mudar esse rumo, sempre te amei e tudo que fiz até hoje foi pensando em ter você.
- Eu sei - num gesto suave, Luiz apertou o pescoço de Charlotte fazendo com que seu corpo dobrasse em poucos segundos e antes que Fernando pudesse reagir Lukas o acertou no joelho novamente, fazendo o gemer de dor. Luiz completou o serviço acertando uma coronhada na nuca de Fernando.
- Quem disse que não teria mais mortos nesse navio?
- Não temos, apenas pressionei o nervo vago, esqueceu dos treinamento de auto defesa?
- Não – Lukas recordava da voz estridente da professora, dizendo: O nervo vago, está situado na medula oblonga e faz com que o sistema parassimpático ordene a redução do batimento cardíaco, diminuindo o fluxo sangüíneo para os órgãos, causando a chamada síncope vasovagal: que ocorre quando existir a perda de consciência (síncope), pois os vasos (do latim “vasa”) se dilatam e o nervo vago reduz a atividade cardíaca. – Impossível meu caro – riu o colega enquanto levavam os dois corpos escada acima, até o banheiro que ficava no deck superior.

- Dessa vez a chave irá comigo – disse Lukas

- Melhor assim, vamos achar os outros, só falta o Aranha.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Duas caras

- E o chip? Conseguiram? Onde está, Lukas? - perguntou.

- Boa pergunta! Luiz, onde está o chip? - passou a bola Lukas.

Luiz coçou suavemente a cabeça...

- Simpáticos os amigos de vocês, hein Lucas! Prazer, Cíntia Ventura. - disse Cíntia com um sorriso no rosto estendendo a mão para cumprimentar os agentes da FIAE. Ela havia notado a tensão no ar.

Pegos de surpresa pela reação da garota, os dois homens a cumprimentaram, enquanto a garota desandava a falar, para de alguma forma, manter o assunto longe do chip. Ela sabia que as informações seriam extremamente perigosas em mãos erradas e se Lukas e Luiz não falaram isso logo de cara para seus "amigos", alguma coisa de estranho estava no ar.

- Então, Copperton e Schuker, né? Bem vindos ao Vingeance... Como pode ver, não esperem um serviço cinco estrelas aqui, pois estamos sem tripulação... mas apesar disso, o "comandante" do navio pode ver tudo o que acontece por aqui, todos que estão presentes e tudo mais... ele é todo poderoso nesse lugar. - Apesar de não tocar no assunto do chip propriamente dito, Cintia continuava falando, explicando para os agentes a situação em que estavam no navio. Cada vez que eles tentavam falar alguma coisa, ela os interrompia com mais detalhes sobre como a trupilação havia sumido, sobre as câmeras de segurança ou outro assunto que achasse pertinente. Lukas e Luiz se olhavam, segurando o riso ao ver que a cada palavra dita o rosto de Copperton ficava mais vermelho.

- Cale a boca, mulher! - Copperton explodiu de raiva de repente. E Cíntia ficou quieta. - Lukas e Luiz, precisamos conversar, e sozinhos. - Disse essa última parte olhando diretamente para Cíntia.

- Nossa, acho que seus amigos não foram com a minha cara, Lucas. Estarei no meu quarto trabalhando... - Com um meio sorriso no rosto, Cíntia se afastou do grupo, na esperança de que Lukas entendesse que ela daria um jeito no chip, que ficara com ela.

Ao chegar em seu quarto, Cíntia ligou o laptop de Rachel, que agora tinha acesso tanto ao chip quanto à internet, já que todo o sistema bloqueio do navio havia sido destruído depois de tantas invasões.

Resolveu conferir sua caixa de mensagens e viu um e-mail daquele seu cliente que a havia enviado ao navio. Não podia acreditar que ele seria tão cara de pau de mandá-la para aquele lugar e ainda por cima continuar tentando contato.

"Olá, Cíntia,
Perdão por tê-la enviado para este ninho de cobras sem passar-lhe mais informações sobre o que encontraria pela frente, é que infelizmente, não poderia passar esses dados por receio de que informações sigilosas vazassem e arruinassem meus planos. Entre em contato.

Atenciosamente,
Sombra"

Ao abrir o comunicador, encontrou seu cliente online.

"O que diabos você pensou ao me colocar neste navio, sombra?"

"Cíntia, graças a Deus você está viva! Esperava ansiosamente pelo seu contato."

"É... me coloca num navio bomba sem acesso a nenhuma forma de comunicação e ainda por cima espera que eu entre em contato?"

"Na verdade meus planos saíram um pouco do controle. Espero que Isadora tenha tido tempo de lhe passar as informações necessarias."

"Isadora está morta, Sombra."

"Droga, esse Ranald é pior que eu imaginava. Ela teve tempo de entregar-lhe o pacote que deixei para você?"

"Sim, estou com ele."

"Ótimo. Mantenha-o em segredo."

"Tem dois agentes da FIAE aqui no navio perguntando sobre o chip. Sei que posso confiar em Lukas e Luiz, mas esses dois não me descem."

"Não deixe-os saber que está com o chip. Vou obter informações sobre eles e retorno assim que possível. Continue o seu trabalho, tente escapar daí e assim que chegar em terra, dê um jeito de me encontrar levando consigo as provas. Será bem paga por estas informações."

"Sabe que não gosto de ficar escondendo informações de todos... Logo vão acabar descobrindo os motivos de eu estar aqui no navio, afinal de contas, todos têm um passado para esconder por aqui, já estranharam eu não ter nenhuma história para contar além de minha ligação com o Lukas. Além do mais, estou farta dessa trama... já morreu gente demais nesse navio."

"Se te coloquei aí é porque confio em você. Continue seu trabalho e proteja o chip. Cíntia, tudo vai dar certo no final. Confie em mim."

"Não gosto desse jogo duplo. Vou pensar no caso."

Cíntia desconectou o comunicador e desligou o laptop. Foi tomar um banho e ao voltar, olhou para o computador sobre sua cama. Precisava esconder o chip, e sabia que se descobrissem que ela estava com essa informação, teria o mesmo destino de Paulo. Isso assombrava sua mente, mas mesmo assim, removeu o chip da máquina, enrolou-o em um pedaço de papel de embrulho e guardou em seu bolso.

Saiu do quarto e foi até o quarto de Lukas, onde Fernando estava amarrado. Precisava mantê-lo quieto, mas não confiava que aqueles lençóis o manteriam preso por muito tempo. Precisava dar um jeito nele enquanto Lukas distraía os agentes da FIAE.

Ao entrar no quarto, viu o homem ainda sentado no chão, amarrado e amordaçado. Aproximou-se dele e viu que já estava acordado.

- Olá, Fernando. Está mais calmo? Se eu tirar essa mordaça, você promete que vai ficar quietinho? - Perguntou Cíntia e com um aceno de cabeça, ele concordou em não gritar.

- Precisa de alguma coisa? Posso arrumar um remédio para dor de cabeça se quiser.

- Deixe essa ironia de lado... Onde está aquele desgraçado do Lukas?

- Você acha que eu vou dizer isso? Não mesmo... Estou aqui para saber se há alguma forma de escapar deste navio bomba. Você e quem mais que seja que nos colocou nessa cilada devem ter um plano de escape, não acredito que explodiriam o navio estando dentro dele. Então pode começar a falar se não quiser morrer de verdade.

- E por que eu confiaria em você?

- Porque você não tem escolha! Se não me contar, vai para os ares junto com esse navio, se me contar e for um bom menino, pode ser que eu repense no seu caso e tire você daqui. Simples assim.

Mesmo contrariado, Fernando não tinha nada mais a perder, então revelou.

- No compartimento de carga do navio há uma lancha. Com ajuda de um guindaste que há no convés é possível colocá-la no mar.

Levantando-se, Cíntia pegou novamente a mordaça e amarrou novamente na boca de Fernando.

- Muito obrigada... Fer... suas informações foram muito úteis.

E saiu do quarto.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mais revelações...

Depois de ter ido ao encontro de Uriel e Luiz para “apartarem” a briga entre Rachel e Lúcia, Téca totalmente desorientada foi para sua cabine. Precisava de um bom banho, e se possível de mais um daqueles seus comprimidinhos (embora estivesse relutando para não tomá-los).
Acendeu um cigarro, enquanto tirava a roupa para entrar no chuveiro, e ficou pensando nos últimos acontecimentos...

Afinal, o que Ranald queria com todos eles? Que espécie de ser humano era ele que prendia 7 pessoas num navio, com tantas ciladas? Um arrepio percorreu seu corpo ao lembrar que só poderia ser uma espécie de psicopata, afinal até o carrasco de seu pai, sentiu o peso do ódio de Ranald...de repente, veio em sua cabeça o filme “Jogos Mortais” e rapidamente procurou pensar em algo melhor.
Após o banho sentiu o cansaço do corpo indo embora e dando espaço para a “preguicinha” e depois de vestir-se, jogou-se na cama. Mal fechou os olhos para cochilar, acordou com batidas na porta.

“Será que não terei mais um segundo de sossego? O que será agora?” balbuciou Téca um tanto contrariada.

Abriu a porta e deu de cara com Uriel.

- O que foi dessa vez Uriel?” Espero que seja algo bem importante porque eu estava prestes a cochilar qdo vc me interrompeu.

- Calma moça...tá muito nervosa. Infelizmente é algo de extrema importância, e de seu interesse.Mas não me pergunte nada, afinal eu agora sou só um garoto de recados, disse Uriel, sorrindo.

- Fala logo Uriel, que coisa...

Téca ouviu atentamente as instruções de Uriel, e desconfiada, resolveu conferir. Saiu apressada e passou por alguns corredores até então estranhos pra ela, até que avistou uma porta e calculou ser aquela.
Bateu, mas ninguém respondeu. Decidiu virar a maçaneta e tomou um susto ao se deparar com Vila Nova e ainda por cima notar que ele não estava só, junto dele uma mulher que ela nunca tinha visto antes.

- Mas que merda é essa Cláudio??? O que você quer comigo, e quem é essa mulher? Falou uma Téca extremamente irritada.

E antes que Cláudio pudesse dizer alguma coisa, a mulher tomou a frente e foi logo dizendo:

- Não fique brava Téca, eu posso explicar. Aliás, tenho muitas coisas para explicar a vocês dois. Respondeu olhando para Téca e Cláudio.

- Peraí!!! Antes de qualquer coisa, eu quero saber exatamente o que houve com vc Cláudio. Até onde sei estava morto, e agora me aparece “vivinho da silva”??? Não vão me enlouquecer não...dessa vez eu não tomei meus remedinhos...sorriu Téca.

Cláudio explicou tudo rapidamente para Téca, que ficou pasma com toda a história, mas furiosa ao mesmo tempo, por saber que o veneno que usou, fazia parte de um daqueles vidrinhos que ela recebera logo no primeiro dia no navio.

Mais uma vez a tal mulher resolveu interromper e pediu que os dois sentassem, e a escutassem. Foi então que a mulher começou a falar:

Só que quando ia começar a falar foi interrompida por Téca:

- Peraí!!! Que porra é essa? Agora tá caindo a ficha e tô te reconhecendo...vc é a amante do meu pai não é isso? Te vi algumas poucas vezes quando tive o desprazer de ter que me encontrar com ele...o que quer comigo afinal? Ah, já sei, Paulo está morto mas ainda assim me perturba...vc veio a mando dele me matar é isso??? E esse outro aí, tá junto com vc nessa armadilha??? Téca estava descontrolada, suas mãos tremiam...

- Pára com isso Téca! Não é nada do que está pensando. Pérola tem algo importante pra nos contar que tbém não sei o que é, mas ela é do bem. Dá pra por favor se acalmar, pois eu tbém tenho interesse em saber. Cláudio falou rispidamente com Téca que prontamente acatou e sentou-se novamente.

Bem, acho que agora posso continuar não? Pra começar Téca, meu nome verdadeiro não e Sonia, mas sim Pérola. Estava há dois anos com seu pai, mas não por vontade própria, na verdade fui contratada para “cuidar” de você, mas infelizmente tive que fazer tudo de longe, pois vc quase não via seu pai.
Vc deve se lembrar de quando recebeu uma caixa com uma foto, e seus remédios não?

Téca só balançava a cabeça dizendo sim enquanto ouvia tudo atentamente.

Quem entregou essa caixa à você foi Isadora, a pedido meu. Sabia que vc depois de tudo que passou em Londres, da acusação de homicídio, das brigas com seu pai, precisa dos remédios, então foi a forma que achei de te ajudar indiretamente. Até porque eu não podia chegar perto de vc, com seu pai no meu pé aqui no navio.

- Tá, mas e a foto que vi no envelope? Quem era aquela mulher e aquele bebê? Por acaso era eu? Porque se for, eu tenho certeza que aquela não era a minha mãe...

Calma, que eu vou chegar lá. O bebê na foto é você sim Téca, e acertou em dizer que aquela não era a sua mãe.
Para que entendam o que fazem aqui comigo, eu precisarei voltar ao passado e revelar coisas que descobri há pouco tempo também. Seu pai me confessou um dia antes de morrer, aqui mesmo no navio.
Seu pai teve um grande amor no passado, mas o abandonou ao conhecer sua mãe, e ver nela a chance de crescer profissionalmente, já que sua mãe era uma mulher de posses...

- Disse bem Pérola, era...porque meu pai fez o favor de acabar com praticamente tudo que ela tinha.

Eu sei disso querida! Pois bem, a mulher que está com vc no colo, é o antigo amor de seu pai. Um dia em uma viagem, inesperadamente seu pai encontrou com ela...e ela pediu para tirar uma foto com você!
O que ninguém sabia, ou melhor, sua mãe não sabia, foi que no dia de seu nascimento, ela não teve só você Téca! Sua mãe deu à luz a gêmeos, mas seu pai com medo de que duas crianças fossem tirar toda a atenção que sua mãe dispensava a ele, num gesto cruel pagou uma enfermeira para dar cabo da outra criança.

A essa altura Téca era só lágrimas e Cláudio estava pasmo.

Essa outra criança foi entregue a mulher que te carrega no colo, na foto que você viu. Essa mesma mulher foi quem me confiou a missão de me aproximar de Paulo e em seguida de você. Ela sempre soube de tudo, afinal foi Paulo quem mandou a tal enfermeira entregar a outra criança para ela. No dia dessa viagem em que se encontraram, Paulo revelou tudo. Até então, a pobre mulher achava que só existia uma criança na história. A que Paulo tinha entregue a ela. Por isso quis tanto tirar uma foto com você!

- Peraí Pérola!!! Meu Deus do céu, onde é que você está querendo chegar com tudo isso? Falou Cláudio já atormentado.

Sei que tudo isso parece surreal demais, que podem achar que estou mentindo, mas não, tudo é verdade! Por favor, mantenham a calma para que eu possa terminar...
A tal mulher da foto, é sua Tia Loretta Cláudio! Ela criou você praticamente como um filho, sem saber que existia uma outra criança. Quando soube tratou logo de me contratar, pois sabia o quanto Paulo era violento e cruel. Queria que eu aproximasse de alguma forma os dois irmãos. Infelizmente foi dessa forma horrível.
Eu contei a Loretta que iria embarcar num cruzeiro com Paulo, e quando ela soube que você Cláudio, também estaria aqui, tratou logo de me contar tudo sobre a história dos gêmeos. E me pediu que além de proteger Téca como já fazia, que cuidasse tbém de você. Aliás, o criptograma em seu livro, fui eu quem fiz, a pedido de sua Tia.

- Mas por que Tia Loretta nunca me contou nada? Nem mesmo que eu era adotivo? A essa altura Cláudio também chorava...

Ela teve medo de você sentir-se rejeitado. Infelizmente a crueldade de Paulo foi muito além...aliás, Paulo só soube que vocês dois estavam no barco, no dia da festa a fantasia, pois a idéia não partiu dele, mas sim de Ranald.

A verdade é essa meus queridos, vocês dois são irmãos gêmeos!!! E Pérola não suportou mais, desabando a chorar.

Téca estava paralisada, Cláudio chorando fitou os olhos em Téca que por sua vez não agüentando o peso do olhar, abaixou a cabeça e soluçando disse:

- Mas por que esse monstro fez tudo isso??? O que nós fizemos pra merecer isso? Agora está explicado o porquê além da foto que recebi, vinha junto um bilhete pra que eu “protegesse” o Cláudio.
Eu na época ainda achei um porre ter que “cuidar” de alguém tão crescidinho, além de que, nunca me afinei com ele.
Como poderia imaginar que tinha uma irmão???

Me sinto envergonhada por tudo...por ter sido sempre rude com você Cláudio, por ser filha de um homem tão cruel, por ter sido tão egoísta e não ter dado a mínima pro bilhete. Vc até similou sua própria morte...Meu Deus, e com os venenos que tinha dentro da minha cabine?
Eu não iria me perdoar se seu plano tivesse dado errado e você não se livrasse.
Já me a dor da falta que sinto de minha mãe...Perdoe-me, por favor...

Téca soluçava com as mãos encobrindo o rosto, totalmente envergonhada e Pérola assistia aquela cena triste, ainda sem saber ao certo se aquele tinha sido o momento para revelar tudo.
Cláudio não se conteve mais, as lágrimas desciam por seu rosto e num gesto fraterno ajoelhou na frente de Téca, abraçou-a e disse:

Chega de chorar! Pare de ficar se culpando por todas as atrocidades cometidas por Paulo, e por esse filho da puta do Ranald. E não me peça perdão de nada, pois somos vítimas da insanidade dessas pessoas. O importante agora é que descobrimos toda a verdade, e agora sei que tenho alguém na vida. Alguém que posso chamar de irmã...alguém com quem sei que vou poder contar!


E ficaram ali, abraçados por um bom tempo.

Diante de uma cena tão comovente, Pérola teve a certeza de ter feito a coisa certa...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Uma estranha e protetora mulher

Vila Nova sabia que precisaria de um lugar seguro para ficar escondido. Assim, tão logo se recuperou da sua “morte”, conseguiu se esgueirar até uma sala, num dos corredores do navio. Ao abrir a porta, tomou um grande susto: Havia uma mulher que não conhecia, deitada num sofá. Tão logo o jornalista entrou, ela se levantou num pulo e disse:

- Cláudio, o que faz aqui? O que aconteceu?

Vila Nova ficou surpreso. De onde aquela mulher o conhecia?

- Quem é você? Nós nos conhecemos? Um breve instante de silêncio se fez, até que:

- Sente-se aqui. A essa altura do campeonato, a verdade precisa ser do seu conhecimento também.

- ????????

- Todos me conhecem por Sônia. Estou nesse navio porque vivia há dois anos com Paulo, sócio minoritário de Ranald Armond.

- Calma aí. Interrompeu o jornalista. - Sônia e Paulo? Esses nomes não me são estranhos!! Um estalo e Vila Nova completou: - Me lembrei, vocês dois são os tais mortos que Lukas, ao invadir a minha cabine, na noite do baile, disse ter visto no quarto ao lado, não é isso?

- Somos nós sim. Bom, só que eu não estava morta... Eu vou te explicar tudo: Fui contratada para me aproximar de Paulo, conquistar-lhe sua confiança e, de preferência, o seu carinho. A intenção da pessoa que me contratou era para eu me aproximar de sua filha, Téca. Dele, eu consegui, mas quanto a ela, como os dois não se falavam, tive que ajudá-la de longe.

- Você precisará ser mais clara, moça. Sou um recém-ressuscitado. Minha cabeça ainda está confusa.

- Tudo se clareará. Confie em mim. Respirando fundo, a mulher continuou: - Na noite do baile, Paulo me confessou que receava pelas nossas vidas, já que, até aquele momento, não conseguia entender porque Ranald o convencera a subir a bordo, mesmo sabendo que ele odiava navio. Sofria muito com os constantes enjôos, toda vez que embarcava em cruzeiros, iates. Sem contar que, como sócio minoritário e por ser extremamente ambicioso, Paulo chegou a fazer certas ameaças a Ranald, passando-se por um bom homem que pretendia entregar as falcatruas do sócio à polícia. Aliás, fingir ser honesto era o que ele fazia com freqüência.

- Uriel chegou a comentar algo sobre isso, quando confessou ser Gabriel Armond, filho de Ranald. Disse o jornalista.

- Continuando... Temendo pelas nossas vidas, mas sabendo que não poderia recusar cumprir uma ordem de Armond, Paulo e eu embarcamos, mas, antes, ele se certificou de que Isadora, sua espiã junto ao sócio, estaria a bordo. Isadora trabalhava para Paulo. Soube disso através dele mesmo. Ele nos apresentou, certa vez. Nesse dia, disse a ela que poderia confiar em mim... Foi ela que me socorreu, na noite do baile, quando Paulo foi morto e eu, apenas ferida. Como me fingi de morta e, naquela oportunidade, ainda havia muita gente no navio, o assassino não se certificou de haver matado nós dois.

- Então, foi Isadora quem te socorreu? Perguntou Cláudio.

- Ela mesma. Isadora foi contratada por Ranald como especialista em socorros médicos de urgência. Numa organização criminosa, é sempre bom contar com profissionais como esses. Ela foi colocada aqui para que, em caso de emergência, pudesse agir. Paulo, à surdina, conseguiu que Isadora fosse contratada pelo sócio.

- Por isso a tal sala de emergências que eu descobri, quando procurava por Rachel? Falou o jornalista.

- De fato. Existe uma sala aqui, preparada para todo o tipo de emergência. Foi para lá que Isadora me levou, depois que foi ao quarto e me viu gemendo de dor. Ela tratou do ferimento e voltou para o baile, sem que Ranald percebesse. Como ficou responsável em dar sumiço aos corpos, comprou o silêncio dos homens destacados em recolhê-los e levá-los ao porão... Outra coisa, Isadora me confessou algo do seu segredo que envolve Lúcia. Disse-me que precisou contar parte dele para Lukas, pois não podia deixar que você voltasse sua atenção para as mortes.

- Agora, a explicação de Lukas e o cinismo dele depois fazem sentido... Mas, e quanto ao seu corpo? Como ela explicaria a Ranald a ausência dele, se ele fosse mandar averiguar se você e Paulo estavam, realmente, mortos? Voltou a perguntar o jornalista.

- Até onde ela me disse, os dois homens, cujo silêncio ela comprou naquela mesma noite, conseguiu um corpo de mulher parecido com o meu. Como Ranald mal me conhecia, não seria difícil enganá-lo... Essa cidade é muito violenta, Cláudio. Muitas pessoas são mortas todos os dias. Homens, mulheres!

- Isso é verdade... Bom, eu me lembro que, nessa noite, Isadora me entregou um bilhete, que dizia que alguém gostava de mim.

- Fui eu que pedi para ela fazer isso. Além de me socorrer, esse foi o segundo favor que ela me fez naquele mesmo dia. Eu contei tudo para Isadora. Quem me contratou, porque eu havia sido contratada. Absolutamente tudo. E, mesmo sabendo dos riscos, ela decidiu me ajudar. Daí, pedi a ela que lhe entregasse o bilhete.

- Você disse que, além de socorrê-la, esse foi o segundo favor que ela te fez? ... Qual foi o primeiro?

- Bom, aí começa a outra parte da revelação. Mas, para tanto, seria melhor que estivesse aqui outra pessoa.

- De quem você está falando, Sônia?

- Você já vai saber. Antes, deixa eu me apresentar corretamente. Como eu disse a pouco, todos me conhecem por Sônia, mas esse não é meu nome verdadeiro. Eu me chamo Pérola. Pérola Rodrigues.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Resgate?

Lukas entrou exausto em sua cabine.
Em sua mente, todos aqueles acontecimentos, revelações, mortes!
Rachel quase morrera! Por um triz ele não a perdeu. Ainda bem que Uriel chegara e o ajudara a salvá-la.
Agora, encharcado, Lukas foi direto para o banheiro. Pensava em tirar as roupas molhadas e geladas, tomar uma ducha e procurar Cíntia e Luiz.
Entrou apressadamente no box e não viu que por trás da cortina, um homem de cicatriz aguardava.
Lukas terminou o banho, vestiu o roupão e voltou para pegar uma roupa.Escolheu um jeans e uma camisa branca. Quando se preparava para voltar ao convés para ter notícias de Rachel, ouviu lhe chamarem:

-E então, Bittencourt? Quanto tempo, não?

Lukas sobressaltou-se.
Aquilo não podia ser real: materializado em sua frente, o homem de quem ele acidentalmente tirara a vida.
Uma enorme cicatriz cortava o rosto de Fernando.
A imagem não era das mais agradáveis: um homem com um corte de fora a fora do rosto, com ódio no olhar e uma arma nas mãos.

-Sim, Bittencourt. Sou eu! Fernando Alonso Vegas Policarpo! Seu irmão na Guerreiros de Fogo! Aquele que vc QUASE tirou a vida e achou que sairia impunemente. -a voz de Fernando era firme e ameaçadora.

-Fernando! Me disseram que você tinha morrido! Eu saí da Guerreiros de fogo por causa daquele acidente! Não me perdoei pelo que aconteceu! -disse Lukas.

-Tá achando que sou um idiota como essas moças desse cruzeiro, Bittencourt? Não caio em sua lábia! -Fernando engatilhou a arma e apontou para a testa de Lukas.

Lukas suava frio.
Aquilo não podia estar acontecendo.Foi quando alguém bateu na cabine de Lukas.

-Lukas, já está pronto? -era Cintia, que tinha combinado de apanhar o jovem para se encontrarem com os outros.

Fernando aproximou-se de Lukas, colocou a arma encostada em sua cabeça e fez sinal para que ele abrisse a porta.
Cíntia entrou e ia beijar Lukas quando se deu conta do que acontecia.

-Quieta, mocinha! Nada de grito ou eu estouro os miolos do seu namoradinho! Agora ambos vão ficar sentadinhos na cama! E, Bittencourt, minha vingança será perfeita... Quero deixá-lo com uma lembrança como a que ganhei de você no rosto! -ameaçou Fernando.

Lukas e Cíntia obedeceram.Em suas mentes, somente uma pergunta: será que dessa vez eles conseguiriam escapar?

---

A embarcação de pescadores deslizava velozmente sobre a água. Era de se estranhar tamanha velocidade numa embarcação daquele tipo. Mas a FIAE não poupava recursos e todos os equipamentos eram de primeiro mundo.
Copperton e Shucker avaliavam a situação. Estavam proximos do Vingeance e tinham de contatar Lukas e Luiz, ver se já estavam de posse do chip e então explodir o navio, mandando tudo pelos ares.
Tudo teria de parecer um acidente, afinal um grande empresário tinha de ser eliminado junto com o barco e, como sempre acontecia, alguns inocentes teriam de morrer por uma causa maior.
Os agentes da FIAE discutiam quando o navio mudou abruptamente de curso.
Aquilo não estava previsto e pegou os agentes totalmente desprevenidos.
Tinham de tomar uma decisão.
Aceleraram a velocidade da embarcação, pelos computadores verificaram as condições do Vingeance e, via satélite, entraram no sitema do navio.
O objetivo era apenas um: ancorar o Vingeance em alto mar para terem tempo de entrar em contato com Lukas e Luiz.
Shucker deu os comandos necessários e, de repente, o navio parou!
A âncora fora baixada.
Provavelmente um grande tranco ocorrera dentro da embarcação e assustara a todos.
Eles agora teriam de ser rápidos.

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Um tranco enorme sacudiu o Vingeance.
Se estivessem em terra, Lukas diria se tratar de um terremoto.
A cabine inteira tremeu, coisas caíram no chão e Fernando se desiquilibrou.
Cíntia, demonstrando um reflexo perfeito, deu uma rasteira no homem da cicatriz que foi ao chão, deixando cair a arma.
Lukas acertou em cheio o rosto dele com um chute e Fernando ficou desacordado.

-Lukas, essa cicatriz... Que homem horroroso! Quem é ele? -perguntou Cíntia.

-Fernando. O homem que eu supostamente matei e contei a vocês! -respondeu LUkas, enquanto amarrava o homem com um lençol. -Parece que nesse navio nossos maiores pesadelos viram realidade. Ainda bem que as mocinhas aqui parecem ganhar superpoderes e acertam os vilões como se estivessem num filme das Panteras!

-Você brinca até nessas situações, Lukas! Ainda bem que sempre contamos com a sorte e algo nos salva... -disse Cíntia.

-Pelo menos agora acho que teremos algumas explicações. Esse filho da puta que voltou dos infernos vai ter de falar... Ou dessa vez eu realmente o mato! E bem matado! -fez piada Lukas, arrancando um sorriso nervoso de Cíntia.

Certificaram-se de que Fernando estava bem preso e saíram para o convés. Precisavam saber o que estava acontecendo.
Encontraram Téca e Luiz olhando da alambrada. E então, como se nada tivesse parado o Vingeance, ele retomou seu rumo, a princípio, parecendo voltar para o litoral.

-Luiz, o que tá acontecendo? -perguntou Lukas, se aproximando com Cíntia.
-Acho melhor você ver com seus próprios olhos! Eu não estou acreditando, Lukas! -disse Luiz.
Lukas se aproximou e viu Copperton e Shucker subindo no navio.
Era o socorro, finalmente!

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Ranald não entendia mais nada.
Tinha mudado as coordenadas do navio, de volta para o continente depois do suicídio de Vila Nova.
De repente, o navio parou, para logo em seguida voltar a seguir rumo ao litoral.
As câmeras estavam desligadas e se encontrava sozinho na cabine mais escondida do navio.
Charlotte desaparecera, Lucia fora limpar os ferimentos e Fernando ainda devia se encontrar na cabina de Lukas.
Pela primeira vez naquela história, Ranald não se sentia o senhor da situação.
Mas ainda existiam cartas em suas mangas!

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Os quatro agentes da FIAE se abraçaram!

-Seus malditos! Como conseguiram sumir por tanto tempo? -perguntou Shucker.

-Entramos numa enrascada que vocês não fazem idéia! -disse Lukas.

Os homens conversavam e Téca e Cíntia assistiam.
Até que Téca não se conteve.

-Os bonitões não vão se apresentar? Finalmente tem gente nova nesse navio... Já estava ficando enjoada das mesmas caras... Vocês são o resgate?

Shucker e Copperton se olharam.
Luiz e Lukas não entenderam aquele olhar.
Copperton retomou a conversa:

-E o chip? Conseguiram? Onde está, Lukas? -perguntou.

-Boa pergunta! Luiz, onde está o chip? -passou a bola Lukas.

Luiz coçou suavemente a cabeça...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Um Blefe


Uriel ergueu Rachel no colo e dirigiu-se a seu camarote. Rachel o abraçava, sob os olhos surpresos de Lukas, que abriu espaço para Uriel passar. Chegando ao quarto, colocou-a sentada e lhe entregou toalhas felpudas.
Foi quando notou a letra de Vila Nova numa folha de papel, amassada e molhada, se desprendendo do bolso da secretária. Imediatamente entendeu que ela já havia lido a carta do jornalista, que ele, Uriel, tinha colocado no quarto dela. Agora que Rachel já estava sã e salva, o hacker não tinha nem um minuto a mais a perder. Sem dizer uma só palavra a Rachel que o olhava curiosa, foi rapidamente até o armário onde guardara o celular via-satélite e também o envelope com instruções dadas pelo amigo, colocando tudo no bolso, saindo em disparada pela porta. Em sua mente, apenas as orientações que Vila Nova havia lhe dado, na manhã do dia anterior, conduziam seus rápidos passos.

Ninguém estava naquele navio a passeio. Ninguém era inocente. Correu até o deck inferior, desesperado, procurava urgentemente uma porta que havia vista antes por Vila Nova. Seu desespero aumentava mais e mais entre tantas portas, em longos e estreitos corredores. Sua ansiedade agora tornava-se medo. A briga de Rachel e Lúcia roubara minutos preciosos de seu tempo.
Corria pelos corredores, tentando enxergar na penumbra, até que achou a porta que o jornalista indicara, e sem pensar duas vezes, derrubou-a com um só chute, mandando longe pedaços do portal. Dirigiu-se até um armário de vidro, jogando no chão, frascos, seringas, pacotes de gazes.
Precisava achar o aparelho.
Foi até um armário menor, as ampolas estalavam sob seus sapatos, e próximo à maca, observou uma espécie de aparador, lacrado com um lacre plástico azul. Abriu o armário, que continha ampolas cuidadosamente separadas em ordem alfabética, e caixas com objetos, até que encontrou no fundo, uma caixa amarela com a inscrição:

“DESFIBRILADOR PORTÁTIL”.
Abriu o papel da carta que estava no envelope, releu as instruções, enfiou algumas seringas hipodérmicas no bolso, e procurou pela ampola que precisava. “LANEXAT” e ainda separou algumas ampolas de Adrenalina. Saiu de volta ao corredor rapidamente, subindo o mais rápido que pôde, abraçado ao desfibrilador dentro do blazer molhado, Com cuidado, evitou as câmeras, e chegando até a porta do quarto de Vila Nova, entrou e ergueu o braço com o celular via satélite. Uriel sabia que Vila Nova pagara um preço alto, e por isso estava irritado.
Situou-se sob a câmera, o celular próximo à lente, e com o outro braço, escondeu o desfibrilador sob uma poltrona. Então, colocou-se frente à câmera, fixada em um pequeno semi-círculo de acrílico. Agora, olhava para a câmera, ainda mostrando o celular. Haveriam de ligar, tinham de ligar. Atendeu assim que o celular vibrou.

_ Lúcia! Venha até aqui! Imediatamente! Venha ao camarote de Vila Nova!
_ O que nos interessa a morte desse jornalistazinho? Ou a você? De você, desejamos apenas a SENHA. – A voz era metálica, como em um rádio.
_Lúcia, venha ATÉ O QUARTO AGORA!

Desligou o celular e, nervosamente, andava pelo quarto. Olhou para o corpo de Vila Nova, pálido e imóvel. O suor escorria em profusão. Uriel estava extremamente nervoso. Não poderia pôr tudo a perder. Lembrava com carinho do velho amigo, observava seu corpo inerte e imaginou, por um segundo, a reação de Tia Loretta. Tamborilava os dedos nervosamente. Não poderia falhar quando Lúcia chegasse. Tinha de ser preciso. Tinha que ser um excelente ator. Foi quando ela entrou.

_ Então você havia matado a Rachel, não é?! Antes eu tivesse atirado na vadia! Acabo de jogar “o fantasma” dela do navio!

Uriel tremia de raiva e frio, suas roupas ainda molhadas, agora empapadas de suor. Lúcia o irritava profundamente. Sua vontade era matá-la com as próprias mãos.

_ VOCÊ VIU O QUE ACONTECEU? VILA NOVA ESTÁ MORTO! QUANTOS AINDA VÃO MORRER? QUANTOS?


_ Eu já sabia, estive aqui e constatei que ele estava morto. Vila Nova sempre foi um covarde, não iria nunca chegar até o fim do jogo... Covarde!

Uriel cerrou os punhos, sentia seu coração batendo na garganta.

_ EU DEVIA MATAR VOCÊ!!!!!!!


_Imagina... VOCÊ matar alguém...


Uriel usou toda a força que tinha, sentiu a mão pesada e deu um tapa no rosto de Lúcia com toda sua ira, fazendo-a cair sentada e atordoada no chão.

_ CADELA!!!! Vocês MATARAM Vila Nova! Eu deveria MATAR você agora, sua vadia!!

Agora Uriel estava ajoelhado, prendendo o tórax de Lúcia entre as pernas. Segurava os punhos dela junto ao chão. Ela sangrava pelo nariz, espumando de ódio. Seus olhos eram como duas adagas.

_ OU VOCÊ ME SOLTA AGORA, OU NESSE MOMENTO VÃO MATAR MAIS ALGUÉM NESSE NAVIO!!! EU AINDA MATO VOCÊ, DESGRAÇADO!

Uriel não podia mais arriscar. Sabia que nesse jogo não havia amadores, levantou-se rapidamente, puxando Lúcia pelos pulsos, colocando-a de pé.

_VAGABUNDA! – Seu rosto estava a milímetros de Lúcia, sua saliva chegava a molhar o rosto da mulher, que agora demonstrava medo.

Empurrou-a contra a porta, enfurecido.

_ VOLTE PARA LÁ, VAGABUNDA! DIGA QUE CONSEGUIRAM MATAR VILA NOVA!!! SUMA ANTES QUE EU MATE VOCÊ...

Jogou-a para fora do camarote e bateu a porta em seguida. Calculadamente, Uriel teve uma crise de fúria, jogou uma cadeira contra o espelho do armário, que estilhaçou e caiu com estrondo, jogou o interfone na parede, e dirigiu-se até uma estatueta, arremessando-a contra a câmera, que caiu despedaçada.

Estava terminada sua cena.

Correu até a poltrona, retirou o desfibrilador da caixa e o ligou na tomada próximo da cama. Pegou uma seringa e aspirou a ampola de LANEXAT, e de uma só vez, introduziu a agulha no braço de Vila Nova. Ao terminar, pegou a carta no bolso, leu as instruções, abriu a gaveta da cômoda e retirou um frasco, aspirou o conteúdo e o injetou no corpo do jornalista. Estava feito. Uriel percebia que algo estava errado, Vila Nova continuava pálido e inerte.
Arrancou a camisa e o cinto do jornalista. Começou a massagear forte e ritmadamente o peito de Vila Nova, com as mãos entrelaçadas...

_VAI, CLÁUDIO! VAI! VOLTA!!! O QUÊ ESTÁ ERRADO? VOLTA!!!!!

Transferia sua raiva para a massagem. O desfibrilador disparou um alarme agudo, e uma luz piscou alertando da carga.
Uriel pegou as pás com eletrodos e aplicou-as no peito de Vila Nova. Com cuidado, afastou-se e disparou a carga elétrica que jogou os braços e pernas do jornalista para o alto. Retirou as pás, encostou o ouvido no peito do amigo. Nenhum sinal audível. Algo estava muito errado. Apertou o botão “RECARREGAR” e logo o apito estridente soara novamente. Outra carga de eletricidade percorreu Vila Nova.

Uriel então sentiu um sinal no peito, retirou as ampolas de Adrenalina e injetou-as no jornalista, voltando a massageá-lo.

Foi quando Vila Nova apresentou um ataque de tosse, puxando o ar com olhos esbugalhados e sofreguidão. Uriel caiu exausto ao lado do amigo, que agora mexia-se lentamente.


Vila Nova havia encontrado nas coisas de Téca um veneno que agia como anestésico potente. Segundo as anotações na agenda da falsa artesã, o líquido era um tipo de benzo-diazepínico, e ele fizera ingestão de uma dose excessiva. Isso fora suficiente para anestesiá-lo perigosamente, em um estado letárgico de coma-induzido, sendo reversível pelo uso de Lanexat, um antídoto, conforme estava na agenda. Antes de anestesiar-se, Vila Nova assegurou de escrever em detalhes seu plano para Uriel. O plano era mostrar à Lúcia que ele morrera, e fazer o navio retornar.

_ Deu certo – a voz ainda era fraca – Obrigado, Uriel!...

_ Se você fizer isso outra vez, juro que eu mesmo mato você!...eu ODEIO fazer isso!

_Lúcia esteve aqui?

_Sim, acabo de jogar a vagabunda para fora, ela e Rachel quase põem o plano a perder, com uma briga fora de hora. Você quase morre, Vila!!! Eu quase não tive tempo!

_ O bom jogador blefa melhor e sem medo!...


Uriel levantou-se, deixando o jornalista no quarto. Retornou para o camarote, encontrando Rachel secando os cabelos, vestida com um roupão branco. Havia saído do banho e o cheiro de sabonete pairava no ar.

Ele narrou todo o ocorrido, cada passo.


_ Isso está fora de controle, não estou gostando nada disso... essas atitudes isoladas... Olhei os dados do sistema, e as câmeras foram reativadas parcialmente... o navio fez uma volta, acho que estamos retornando. - Rachel parecia decidida

_ Antes de você cair no mar, eu vi uma pequena lancha com dois homens, há uns 300 metros.

_Será que é mais alguém do Aranha? Será que Ranald pretende deixar o navio nessa lancha?

Uriel pegou seu o laptop, digitou um código, sentado lado a lado na cama, os olhos deles observavam a tela.


_ O código de alteração de curso foi modificado. O Vingeance "está" sob controle do Aranha novamente. O navio está mesmo voltando. O plano de Vila Nova realmente funcionou.

_ Mas, e as bombas? Quem garante que Ranald não vai detoná-las, ainda mais depois do que você fez com Lúcia... Disse uma Rachel apreensiva.

_ Isso nós vamos pagar para ver. O circuito principal das bombas foi desativado, e continua assim, até que descubram o bug que implantei.

Nesse instante, Vingeance sofreu um tranco forte, rangiu alto, as ondas batiam com força contra o casco, objetos caíam, todos a bordo perceberam o imenso tranco. Agora o navio balançava em seu eixo, alternando o nível, como um balanço.

Uriel olhou misteriosamente para Rachel.

_ Acredito que algo tenha acontecido com o sistema de navegação...
_ Nossa! Que tranco!
_ Rachel, acho que esse tranco veio a calhar. Vamos nos juntar ao Vila Nova. Algo me diz que agora EU sou o comandante, e você, minha Imediata!...e o Aranha... caiu na nossa Teia!