Estige

Foi um grande alivio poder sair daquela cozinha, após tantas revelações. Um pouco de ar puro seria suficiente para aliviar a pressão.

Horas depois Cíntia parecia totalmente recuperada e determinada a consertar o laptop, chamou Luiz e Lukas para irem até o quarto. Aquela altura ninguém quis ficar para trás, com exceção de Cláudio e Uriel que desapareceram logo que saíram da cozinha, os demais seguiram a moça. Encontraram com Uriel no corredor com cara de poucos amigos, mesmo assim resolveu seguir o grupo.

Cíntia viajava entre fios, placas, bits e bytes, enquanto os demais continuavam comentando sobre as revelações que aconteceram na cozinha. Luiz jamais poderia imaginar que sete pessoas seriam capazes de tantos segredos e informações que valiam ouro para ele. O tesouro dessa caixa de pandora, da era moderna tinha um doce sabor para o agente Shumy.

Tão saboroso quanto ver o brilho de satisfação no olhar de Cíntia ao desvendar o conteúdo do chip e mais gratificante em saber que as informações estavam sã e salvas. A FIAE estudava esse assunto há anos e jamais esteve tão perto da verdade como agora, não consegui cogitar a possibilidade de perder aquelas informações.

Estava absorto em seus pensamentos até ouvir o grito e viu quando Cíntia tentou abrir a porta sem sucesso:

- Não temos mais tempo a perder essa é uma embarcação dos mortos. Quanto antes sairmos daqui melhor! – a firmeza na voz de Luiz assustou a todos. Sem pestanejar seu companheiro entendeu a mensagem, rapidamente começaram as buscas pelas câmeras, a liberdade de movimentos era essencial.

Rachel deixou a decepção de lado e ajudou Uriel a destruir uma das lentes espiãs. Lukas pegou uma das ferramentas de Cíntia e foi até a porta. Com toda habilidade de um arrombador logo conseguiu destravar a fechadura e saíram do quarto se esgueirando pelos corredores, o Aranha já devia ter descoberto e não deveria estar com bom humor, teriam que tomar muito cuidado daqui para frente.

Luiz achou prudente não comentar com os demais sobre o verdadeiro conteúdo dos relatórios e informações do chip.De que adiantaria dizer que se tratava de um projeto de uma unidade electrochimpribor, mais conhecida como Plant 418, uma das principais armas termonuclear soviética e com poder de destruição cinco vezes maior que a bomba de Hiroshima?

Durante anos os russos tentaram manter em segredo o desaparecimento de um submarino próximo ao porto de Kazbek, durante o governo stalinista onde alguns estudiosos desenvolviam esse projeto.

Ninguém melhor do que Luiz sabia que essa arma poderia ser usada para atingir algo muito mais grandioso e não tinha duvidas quanto às intenções de Ranald. Definitivamente não tinha nada a ver com destruição do planeta ou a terceira guerra mundial.

O empresário era ambicioso e inteligente demais para se prender em algo que não fosse realmente lucrativo e através da sua empresa pôde se aproximar das pessoas certas, informações ultra-secretas, muito alem do que sabiam militares e políticos. Esse campo pertencia aos cientistas, estudiosos e loucos pelo inimaginável.

Teca, Lukas, Cíntia, Uriel, Raquel e Cláudio, até que ponto poderia confiar.

Enquanto Lucia chorava ao lado do corpo de Cláudio, na cabine de controle Ranald espumava de ódio:
- Se eles pensam que irão passar a perna em mim, estão muito enganados, de agora em diante irão saber do que sou capaz.
- Destilando seu veneno meu querido? – perguntou Charlotte
- Onde você estava?
- Fui até o banheiro, porque? Tenho que pedir permissão para você?
- Deixe sua ironia para quem gosta, seu querido ex, está com o chip.
- Mas como? Você não estava vigiando? Cadê Lucia? E aquele doido, onde se enfiou?
- Lucia está chorando ao lado do seu morto preferido – apontou para uma das telas e com a outra mão aponto para a tela oposta – Esse aquele doido, sabe o que faz não tenho que me preocupar. Agora preciso localizar minhas presas, muitas câmeras foram destruídas – esbravejou Ranald.
- Meu querido, estou achando que seu plano está preste a naufragar.
- Antes que isso aconteça, terei atingido meu objetivo.
- Nosso!! Não se esqueça disso.

O olhar de Ranald era tão vazio quanto o sorriso irônico de Charlotte. Desse encontro de Aranhas venenosas seria impossível dizer quem sobreviveria.

- Estamos com sorte companheiro, nosso chip está salvo. - disse um entusiasmado Lukas - Mas você continua com aquele olhar esquisito!

- Estou cogitando as informações recebidas, precisamos tomar algumas decisões para sair desse navio - respondeu Luiz - Vengeance, é o nome adequado para servir de palco dessa história, tão adequado quando dizer que ele navega pelo Estige em vez do alto mar.

- De onde você tira essas coisas? Onde já se viu comparar essas águas claras, com um dos rios do inferno, segundo a mitologia grega, margeado por grupos de almas penadas. Logo seremos localizados pela agencia.

O sorriso no rosto de Lukas era contagiante, mas as teorias de Luiz o preocupavam! Sabia que Ranald não estava nesse jogo para perder. Luiz olhou com tristeza para os demais passageiros, gostaria de saber o que passava naquelas cabeças. Entre todos, Uriel sempre foi seu principal suspeito, sempre enigmático e principalmente por seus sumiços constantes. Quando saíram do quarto, o filho de Ranald seguiu pelo lado oposto do corredor e volta com outra grande descoberta:

- Vila Nova está morto!