O Casulo

Em posse do computador de Rachel e de suas ferramentas, em meio a um emaranhado de placas, bits e bytes, Cíntia começava a trabalhar para extrair o conteúdo do microchip enquanto ouvia o relato de cada um.

- Vejam! Consegui! Não estou entendendo nada do que está por aqui, mas talvez vocês saibam me dizer. - E mostrou a tela para Luiz, que estava mais próximo a ela. Lá podia ser visto uma série de cálculos, diagramas e informações, aparentemente desconexas, mas que aos olhos dos agentes fazia todo o sentido.

- Era exatamente isso que estávamos procurando! Não é à toa que estão querendo dar um sumiço nessas informações. Lucas, venha aqui, dê uma olhada. - Eles não podiam acreditar no que seus olhos viam, eram todos os detalhes de uma poderosa arma, que se caisse em mãos erradas poderia mudar a ordem mundial.

- Isso é algum equipamento militar, né? - Cíntia levantou-se depois de trabalhar tanto tempo nesse chip, estava com as costas doloridas. - Talvez esse maluco do aranha estivesse atrás desses dados, por isso o Paulo foi morto.

- É bem provável. - respondeu Téca.

- Então, eu não cheguei a contar para vocês, mas eu conhecia aquela recepcionista, a Isadora. Ela estava aqui para nos ajudar, coitada. Alguém sabia dos planos do Aranha e a colocou aqui. Isadora já havia trabalhado comigo há muitos anos atrás, mas nunca chegamos a ser íntimas... eu só sabia que podia confiar nela. Inclusive, acredito que seja ela quem tenha deixado o chip comigo.

- Mas agora estamos sozinhos nesse navio, quer dizer, o Aranha está aqui conosco, mas não temos mais nossa protetora, certo? - Comentou Rachel.

- Sim, é verdade, mas não esqueçam que somos em maior número e por mais recursos que ele tenha, temos nossa inteligência para contar a favor.

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Enquanto isso, na sala de controle, em um ambiente iluminado somente pelas luzes dos monitores de vigilância, duas pessoas conversam ao redor de um notebook e trabalham em um desenho, a planta do navio, com toda sua estrutura.

O homem, de feições austeras, espreguiça em sua cadeira de forma a fazer o corpo "acordar" depois de muito tempo trabalhando naquele plano. Levanta-se então e se dirige a um dos monitores de vigilância, onde o vídeo mostrava um navio aparentemente calmo, também não ouvia nenhum som. Algo estava errado. Olhando atentamente para o monitor por alguns instantes, notou que as cenas estavam se repetindo.

- Malditos! - gritou com ódio, assustando a mulher que estava concentrada no plano que quase caiu da cadeira ao ouvi-lo exclamar.

- Nossa, que susto! O que aconteceu?

- Esses malditos estavam nos enganando este tempo todo! O sistema de vigilância foi sabotado!

- Como assim? Não foi você mesmo quem disse que tínhamos todos eles sob controle?

- E estavam! Ah, eles vão me pagar, um por um, eles vão me pagar!

Nisso, o homem dirigiu-se novamente ao computador, sem nem mesmo sentar-se, fechou as telas nas quais estavam trabalhando e acessou um novo sistema. Digitou alguns códigos, puxou a cadeira para mais perto e sentou-se observando a tela. Nisso, os monitores voltaram a transmitir as imagens do navio em tempo real. Não podia acreditar no que via, todos reunidos em um mesmo quarto, com excessão de Vila Nova.

- O que eles fazem todos juntos? E você ainda insiste em dizer que eles estavam sob controle? Lamentável, lamentável! Era para eles estarem sabotando uns aos outros, não para estarem juntos! Somos apenas dois contra um bando de gente que agora sabe que estamos aqui! - Desespera-se a mulher.

- Cale a boca! - Exclama o homem, ao levantar-se empurrando com força a cadeira para trás e andando em direção à mulher. Ao aproximar-se, segurou-a com força pelos ombros e desferiu um tapa em seu rosto - Cale a boca ou vai ter o mesmo destino da Isadora, aquela traidora! Como pode ver, seu namoradinho está separado do restante do grupo. Vá até o quarto dele e traga-o aqui agora mesmo e não diga uma palavra a mais para ele! Não era para você ter se revelado tão cedo, mulher! Vá agora enquanto eu trabalho.

Com lágrimas nos olhos, Lucia dirigia-se ao quarto de Vila Nova, onde encontraria seu corpo caído no chão. Não sabia quem odiava mais, seu ex namorado ou Ranald. Homem nenhum poderia tratá-la desse jeito e sair impune.

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De volta ao quarto, enquanto todos conversavam, ouviu-se um "click" vindo da direção da porta. E na cabine ao lado, ouviram um grito de mulher.

- Não!!! Claudio!!! Você não fez isso!!!

Aproveitando que já estava de pé, Cíntia dirigiu-se até lá e, delicadamente girou a maçaneta. Ela estava trancada. O Aranha havia prendido suas presas em um casulo. O que ele não contava é que estas presas iriam lutar até o fim.