O Passado finalmente revelado...

Téca ouvia tudo atentamente...ouviu a história de Rachel, de Uriel e do insuportável Lukas, e sentindo um formigamento no corpo, uma espécie de agonia, decidiu que era sua vez de falar.
Afinal, já estavam ali há dias, muitas coisas aconteceram e muitas outras também mudaram...agora era preciso falar, nem que isso lhe custasse a própria vida.
E incisiva levantou-se, acendeu um cigarro e falou:

- Bem, já que o bonitão que não é rei mas não perde a majestade faz questão de que a “drogadinha” aqui fale, eu vou falar...até porque cansei dessa baboseira, cansei de estar nessa merda de navio e agora sei que todo mundo que está aqui, esconde um segredo.

Téca respirou fundo e começou a falar...enquanto todos a olhavam fixamente!

- Pra começar eu não sou uma artesã, como havia dito antes.Estou no Brasil há apenas 3 anos, sendo que dos 20 anos até os 30 anos eu morei em Londres. Sou de família rica, meu pai é um idiota que desprezo há anos, e minha mãe infelizmente já se foi. Não agüentou todas as barbáries e amantes que o imbecil de meu pai tinha.
Bem, com 20 anos e após a morte de minha mãe, não via mais graça na vida, em morar no Brasil e principalmente em conviver com meu pai. Então, ele que também nunca se importou comigo me despachou pra Londres, me matriculou numa escola e me largou num apê sozinha.
Durante um ano inteiro eu só estudei, e claro, conheci o céu e o inferno...me envolvi em confusões, usei todos os tipos de drogas e quando estava praticamente no fundo do poço, eu que sempre fui uma mulher vaidosa, me dei conta que com apenas 21 anos eu parecia uma velha. Foi então que pela primeira e última vez eu pedi algo a meu pai...liguei pra ele no Brasil e pedi que me ajudasse a arrumar um emprego.
A partir daí minha vida mudou completamente, e hoje sei que por causa disso vim parar nessa merda de cruzeiro...

Téca parou de falar e pediu a Luiz se ele poderia fazer um whisky duplo cowboy para ela, pois precisava beber...
Enquanto se recompunha, já com o copo de whisky na mão, Rachel se aproximou dela e segurando em uma de suas mãos disse:

- Não tenha medo de contar nada Téca...como vc mesma disse, aqui ninguém é santo! Tenho certeza que falando vc vai se sentir melhor. Embora posso não acreditar no que vou te dizer, gosto de você! E torço pra que nós duas consigamos sair daqui ilesas.

Essa aproximação repentina de Rachel deixou Téca um tanto confusa, mas algo em seus olhos dizia que ela falava a verdade. Já os outros ficaram espantados com tal atitude.

Téca voltou a falar:

- Fui trabalhar numa empresa de software, da qual meu pai era sócio minoritário, e pra quem deseja saber, ou já sabe (rindo da forma irônica que só ela fazia), a empresa de Ranald. Comecei como recepcionista, mas eu queria mais, e me empenhei para isso. Um ano depois eu já era uma executiva de contas, aliás, uma das melhores na equipe. E lá eu também conheci Peter, um alto executivo por quem me apaixonei, e quase 2 anos depois me casei.
No início era um casamento de sonhos, tudo que eu desejava, antes que eu pudesse realizar, Peter já me dava. Mas como nada é perfeito, descobri meses mais tarde um Peter completamente diferente.Um homem ardiloso, manipulador, e mulherengo.
Aliás, ele tinha um bom mestre na arte de enganar...meu pai.

Téca a essa altura já não continha mais as lágrimas...

Um dia durante o expediente, recebi um e-mail interno mas anônimo, me dizendo que Peter era uma espécie de “espião” de meu pai. Por meu pai ficar no Brasil, precisava de alguém próximo de mim para me vigiar.
Meu pai sempre competiu comigo, até o amor de minha mãe ele queria só pra ele, mesmo não dando nada em troca para mamãe...
Nesse e-mail a pessoa me dizia com todas as letras que Peter e meu pai queriam me destruir, queriam que eu caísse...
A partir desse dia eu passei a investigar sozinha tudo que achava suspeito, até que acabei descobrindo a senha do celular de Peter, e encontrei um recado de meu pai dizendo que o plano estava próximo.
Decidi então que nada e nem ninguém iria me destruir, que só eu mesma poderia fazer isso, e lá atrás nos meus 21 anos, eu já tinha conhecido o inferno, que agora o que queria para mim, era o céu, e isso ninguém me tiraria.

Resolvi inverter o jogo...descobri com a Rachel que também trabalhou para Ranald, e que conheci nas diversas reuniões que tínhamos com Brasil/Londres que meu pai, aqui no Brasil estava prestes a conseguir um novo cliente. Um cliente muito importante para a empresa de Ranald e com isso ele poderia passar a ter mais ações, deixando de ser um sócio minoritário.
Rachel porém só me passou o nome da empresa, pois não sabia o contato.
Revirei a Internet, as agendas, tudo o que podia e descobri quem era o cliente de meu pai.
A sorte começava a mudar, e o vento soprava ao meu favor. O cliente era uma grande empresa de segurança espanhola.
Resumindo: Eu consegui chegar nesse cliente antes de meu pai sonhar e contactei a nossa maior concorrente e dei todas as informações necessárias para que a concorrência fechasse com o cliente.

Nem preciso dizer o quanto a empresa do filho da puta do Ranald perdeu com isso né? E nem o quanto meu pai ficou furioso...rs
O fato é que eu me senti vingada...e ninguém tinha provas contra mim. Fui mais esperta do que todos aqueles idiotas juntos...tramei, manipulei, vendi por um bom dinheiro as informações pra concorrência, mas sobre mim só caíam suspeitas.

Meu pai jurou vingança. Peter ficou no meio do fogo cruzado, e totalmente perdido. Discutimos fei uma noite em casa, até nos agredimos fisicamente, e eu já de saco cheio dele tentar me manipular, mandei-o embora de casa. Disse que agora não precisava mais dele, e nem de ninguém daquela empresa, que logo eu teria um emprego melhor na concorrência...e saí, deixando Peter sozinho em casa.
A partir daquela noite minha vida voltou a ser um inferno...
Voltei para casa e encontrei Peter caído no chão do nosso quarto, morto por envenenamento.
Na época fui acusada de matar Peter, e minha imagem ficou manchada em toda a cidade. Meu pai, sacana como sempre foi, tratou de me fuder mais, contando pra imprensa das suspeitas que tinham sobre mim...sobre eu ter me vendido pra concorrente...e isso somando-se as suspeitas de ser uma assassina, me levaram novamente para o fundo do poço.

Fui absolvida das acusações de homicídio, por acharem que Peter se suicidou. E sobre as acusações de fraude, tbém nunca provaram nada. Apesar de estar no fundo do poço, voltei ao Brasil mais rica do que fui...Com a grana que ganhei ao vender as informações para a concorrência, e com a morte de Peter, herdei toda a sua fortuna.

Foi isso...voltei ao Brasil e estava refazendo minha vida, deixando um passado pra trás, esquecendo que tive um pai...e quando penso que tudo está indo bem, me vejo aqui, presa com vocês...
Tenho certeza que isso é coisa de Ranald e de meu pai...ou melhor, era de meu pai...rsrs

Téca se descontrolou e caiu na risada...

Só para terminar meus queridos...pra quem ainda não sabe, aliás, nem eu sabia, meu pai, o grande filho da puta, é o tal Paulo. Sim, o morto do porão que vcs encontraram...

Mas não fui eu quem o matou....rsrsrsssrs